Anunciada
a enésima reviravolta no funcionamento do sistema educativo, retomando a
lenga-lenga da auto-aprendizagem e do império do prazer na escola, resta-nos
abanar a cabeça, respirar fundo e esperar que o bom senso ainda encontre tempo
e espaço no nosso futuro e, especialmente, no das próximas gerações que hão-de
passar pelas escolas, se ainda as houver.
Durante
décadas aventureiros sem raiz invadiram o sistema educativo, promovendo o caos,
à espera de ficar à tona no caldo do obscurantismo. Inventam novas vanguardas a
cada passo, gritam provincianas referências em cascata, hoje o Chile, amanhã a
Finlândia, depois a Coreia, num seguidismo de experimentalismos sem conclusões
sólidas, ao sabor de pequenos e grandes interesses corporativos e mesquinhos.
O
efeito tem sido, apesar das ilusões vendidas nas praças das novas Baratarias, o
descalabro generalizado do verdadeiro conhecimento, da sabedoria, confundidos
com espertezas rançosas, ninhos dos germes da ousadia, a medrar nos monturos da
ignorância.
Nunca
houve tanto leitor trôpego ao fim de mais de uma década de frequência da
escola, nunca se escreveu de forma tão caótica, mesmo ininteligível, quando se
está prestes a franquear a ombreira das portas das universidades. No entanto,
têm a supina lata de proclamar estes tempos como os das gerações mais
preparadas de sempre.
Sabemos
todos que, realmente, não é assim. Sentimos, alguns, que nestas décadas se foi
desenvolvendo uma cruel traição, que inviabilizou para sempre o cultivar da
sabedoria por milhões de cidadãos deste país, em nome do resultadismo
estatístico com efeitos gravosos no funcionamento geral da sociedade, uma fonte
interminável de frustrações.
A
educação é o esteio insubstituível da dignidade, da autonomia e da liberdade
autêntica. Não pode ser confundida com facilitismo, mascarado de incentivo à
procura individual sem norte. Dessa forma ficaríamos condenados a recomeçar
sempre o percurso, não saindo nunca do sítio da pantanosa mediocridade. Para arriscar
o percurso prospectivo é preciso partir de conquistas consolidadas, para que se
olhe o horizonte com o ânimo de lhe romper os limites.
O
grande ideal era garantir o direito de todos a participar do conhecimento, cada
um à medida das suas capacidades, do seu esforço e do seu trabalho. Aí se
justificaria a flexibilidade dos professores, libertos das imposições rígidas
do curriculum, partilhando a construção da autonomia de cada aluno, que haveria
de chegar, ao seu ritmo, ao verdadeiro sucesso.
O
que se tem feito é uma forma hipócrita de confusão do sucesso com a
mediocridade, instalando um labirinto cada vez mais enredante, onde nem será
possível esperar pela revolta de um qualquer Ícaro, porque já ninguém sonhará
com asas libertadoras.
Escrito por Teófilo Vaz
(Diretor do Jornal Nordeste)
Retirado de www.jornalnordeste.com
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