Uma
das razões determinantes do estado a que se chegou no nordeste transmontano é a
divisão que tem campeado, décadas sucessivas, entre os protagonistas da
política local, com reflexos inegáveis nas decisões nacionais.
Ao
contrário do que acontece, as dificuldades que por aqui se vivem deveriam
despertar a necessidade de conjugar esforços para lograr conquistas importantes
para a região, de modo a que não nos vamos reduzindo ao desânimo, apesar de
curtos momentos de euforia, com sóis trémulos, logo engolidos por novas noites
de breu.
Vale
a pena lembrar um episódio, no já distante ano de 1972, quando, em pleno regime
do Estado Novo, depois da ilusória primavera marcelista (de Marcelo Caetano,
para que não haja equívocos), num tempo em que a liberdade de manifestação era
uma miragem se realizou em Bragança, uma manifestação ruidosa, que encheu a
Praça da Sé e culminou na sede do partido único, então transmutado de União
Nacional em Acção Nacional Popular, com intervenções vibrantes contra o IV
Plano de Fomento, instrumento “estratégico” para o desenvolvimento.
Estava
em causa uma liderança regional, dentro do partido único, de Camilo de Mendonça
que, considerava-se em Bragança, iria privilegiar Mirandela e Macedo de
Cavaleiros. Por trás do evento estava a ala de António Gonçalves Rapazote,
então ministro do Interior. O resultado foi a morte do projecto camiliano, que
bem poderia ter sido fonte de venturas para todo o distrito, mas que se quedou
num amontoado de ruínas, sobre as quais continuamos a verter lágrimas de
crocodilo. (Vem a propósito dizer que Camilo de Mendonça foi o padrinho de
baptismo do actual presidente da República)
Nos
tempos democráticos pouco se alterou no que respeita ao império do bairrismo
sem horizonte e vamos em quase meio século de oportunidades perdidas, apesar
das torrentes de dinheiro que inundaram o país, sem inverter a nossa condição de
condenados ao último suspiro. Porque os priores de cada capelinha não têm
sabido identificar os objectivos comuns que nos fortaleceriam a todos.
Assim,
temos sido relegados para as últimas prioridades, o que acentua a propensão
para o salve-se quem puder. Talvez valha a pena ainda reiterar o apelo para que
se mude de rumo e os doze concelhos do distrito, que ainda não morreu, apesar
dos golpes traiçoeiros, promovam uma verdadeira cooperação.
Desde
logo é fundamental que os três concelhos do sul, que integram agora a CIM
Douro, percebam que a centralidade de Vila Real pode ser-lhes mais asfixiante
do que a mítica centralização de Bragança, propalada por interesses
inconfessados.
Entretanto,
nada deveria impedir que se defendesse com firmeza a concretização das ligações
do IC5 ao território espanhol e do IP2 às Rias Bajas, complementadas pelo
desenvolvimento de estratégias de pressão, a nível nacional e no país vizinho,
para a rápida concretização da autoestrada entre Zamora e Quintanilha, sem
esquecer que estão prometidas intervenções nas ligações de Vinhais e Vimioso a
Bragança, obras fundamentais para trazer alguma justiça às populações daqueles
concelhos.
Escrito por Teófilo Vaz
(Diretor do Jornal Nordeste)
Retirado de www.jornalnordeste.com
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