Expositores
queixam-se da falta de apoios na promoção dos produtos a nível nacional.
Deputada do PS, Júlia Rodrigues defende a criação de “marca-chapéu”. A Feira
Nacional de Agricultura (FNA), que decorreu em Santarém entre os dias 4 e 12 de
Junho, ainda é considerada por muitos, não só a maior mostra de maquinaria e
soluções para a agricultura do país mas também a maior montra dos produtos
alimentícios de cada região portuguesa.
É, por isso, aproveitada por muitos
empresários para divulgar os seus produtos e conquistar novos consumidores.
O
Jornal Nordeste foi até ao salão “Prazer de Provar”, onde estavam representados
os melhores produtos agro-alimentares. Mas, se por exemplo, os Açores tinham um
espaço bem identificado com a representação e degustação de vários produtos
regionais, no caso de Trás-os-Montes, quem quisesse provar ou comprar os
melhores produtos da região, teria um árduo trabalho para descobrir onde se
encontravam e qual a região que representavam.
Neste
salão, encontrámos vários expositores transmontanos, até mais do que aquilo que
poderíamos imaginar. Mas, se, por exemplo, os Açores tinham um espaço bem
identificado com a representação e degustação de vários produtos regionais,
desde os lacticínios, ao chá, ao atum ou às bolachas, no caso de
Trás-os-Montes, quem quisesse provar ou comprar os melhores produtos da região,
teria um árduo trabalho para descobrir onde se encontravam e qual a região que
representavam. A maioria dos empresários vestia a camisola da sua empresa, em
particular, e não da região como um todo. Se, alguma homogeneidade houvesse,
poderia ser no concelho de Vila Flor, que tinha um espaço devidamente
identificado em que promovia, essencialmente, os azeites, os vinhos e os queijos.
Mas
será esta a melhor forma de promover a região? Muito se tem falado de ganhar
escala e de promoção conjunta do território, quer em termos de promoção dos
produtos regionais, quer em termos do turismo, o que tem resultado na criação
de diversas associações, certames ou até entidades, como é o caso das
Comunidades Intermunicipais. A ideia já não é nova e até foi defendida na
década de 60 pelo engenheiro Camilo de Mendonça, quando impulsionou a criação
do complexo Agro-Industrial do Cachão e da marca “Nordeste”, que acabou por
cair por terra. O certo é que, na prática, pelo menos na Feira Nacional de
Agricultura, essa promoção conjunta não se efectivou.
Esta
feira foi visitada por vários representantes do governo, incluindo o presidente
da República e o primeiro-ministro, e até de instituições europeias, como foi o
caso do comissário europeu Phil Hogan ou do presidente do Comité das
Organizações Profissionais Agrícolas. Mas também foram muitos os transmontanos
que por lá passaram, desde o Director Regional de Agricultura e Pescas do
Norte, deputados, associações de agricultores ou empresários. A deputada do PS
eleita pelo distrito de Bragança, Júlia Rodrigues, foi uma das visitas do
Centro de Exposições de Santarém. A socialista deu conta ao Jornal Nordeste da
necessidade da criação de uma “marca-chapéu” que impulsione a promoção conjunta
do território. “Eu julgo que temos que avançar para um conceito de ‘marca
- chapéu’. Trás-os-Montes é uma região que tem produtos de excelência, a nível
nacional, e o conceito de uma marca conjunta é realmente importante, para
conseguirmos ganhar escala para promover os nossos produtos, tal como faz, por
exemplo, o Alentejo”, referiu.
Júlia
Rodrigues frisou ainda que “é necessário conseguir unir os produtores e os
actores importantes neste conceito e neste novo paradigma para a
comercialização, de forma a poder entrar na exportação de uma ‘marca -
chapéu’”. A deputa acrescentou também que a região do Douro, “que já é
reconhecida internacionalmente, pode ser uma alavanca para, com a união dos
decisores políticos, como as câmaras municipais e as comunidades
intermunicipais apostar, não só em agendas culturais, mas também em agendas
económicas de promoção dos produtos locais e que poderão incentivar o
investimento local e regional”.
De
facto, a região do Douro dispensa apresentações. Uma parte desta área,
nomeadamente do Douro Superior, representa o sul do distrito de Bragança, e há
ainda a região vitivinícola de Trás-os-Montes. No entanto, os vinhos ocupam a
sua posição no mercado e têm o devido reconhecimento, sobretudo os do Douro. O
Mesmo não acontece com outros produtos que, apesar de terem potencial, parecem
andar um pouco à deriva em questões de promoção.
Maria
Emília Talhas cria porcos bísaros em Vinhais e faz fumeiro. Marcou presença na
FNA pela primeira vez, já que a empresa tem apenas um ano. Admite que não é
fácil suportar sozinha as despesas que a feira implica. “Só pelo espaço paguei
cerca de 900 euros, aos quais acrescem as despesas de estadia, alimentação,
transporte e portagens. È muito dispendiosos mas é um trabalho que temos de
fazer”, confessou. A produtora de fumeiro acrescentou ainda que o trabalho de
promoção que tem feito em feiras nacionais não é só dos seus produtos. “Faço
questão de divulgar, não só o meu fumeiro mas todo o fumeiro de Vinhais e até
locais a visitar no concelho, como é o caso do Parque Biológico de Vinhais”,
frisou a expositora.
Carne
Mirandesa faz sucesso na Feira Nacional de Agricultura
Outro
dos produtos regionais que parece já dispensar apresentações é a carne
mirandesa, cuja qualidade já conquistou consumidores de todo o país. O
Restaurante Académico, de Bragança, representa oficialmente esta carne
certificada em todos os eventos a nível nacional e internacional há 14 anos, tendo
marcado presença em várias feiras agrícolas como, por exemplo, em Braga, Beja
ou Paris, em França.
O
gerente do restaurante, Nuno Machado, referiu ao Jornal Nordeste que “a feira
tem tido sensivelmente as mesmas pessoas do que nos anos anteriores” mas a
tenda de restauração dedicada à carne mirandesa tem registado um aumento
significativo de clientes, de ano para ano, o que, na opinião do empresário,
reflecte “o bom trabalho que tem sido feito”. Sem conseguir contabilizar o
número de clientes que passaram por este espaço durante a FNA, Nuno Machado
refere que teve a sala “praticamente, sempre cheia”, com clientes de todo o
país e até do estrangeiro.
A
presença transmontana na Feira Nacional de Agricultura fez-se ainda notar com a
presença de associações e cooperativas agrícolas e com a exposição de animais
das raças autóctones da região. A organização estima que tenham passado pela
Feira Nacional de Agricultura cerca de 180 mil visitantes.
Vozes
Maria
Emília Talhas (Fumeiro) – Vinhais
“Nós
temos que pensar em divulgar os nossos produtos a nível nacional. Estive
noutras feiras como a Ovibeja e a AgroBraga e notei que o fumeiro transmontano
ainda é pouco conhecido. Apenas se conhece a alheira de Mirandela que não tem
nada a ver com a de Vinhais nem com a de Bragança”.
José
Patrício (Fumeiro e doces tradicionais) - Bragança
“Vim
pela primeira vez à FNA para divulgar a minha marca, que existe há quatro anos
e angariar mais clientes. Em Trás-os-Montes temos várias feiras, nas quais
temos também participado mas é essencial participar também nesta, já que
abrange muito mais público e é importante mostrar o que de melhor a região tem
para oferecer”.
Francisco
Cangueiro (cutelaria) – Palaçoulo
“Há
33 anos que trabalho na área da cutelaria. Costumo vir a várias feiras em
Santarém. Esta feira é muito boa porque estamos no centro do país e atrai muita
gente, é óbvio que o volume de negócios é muito maior. Mas é de louvar o
esforço que as organizações das feiras da região transmontana, pois conseguem
atrair cada vez mais gente de fora”.
Visitante
- Luís Gama – Campo Maior
“Vim
com amigos à feira e decidi vir comer a melhor carne do mundo, pela sua tenrura
e sabor. Sempre apreciei a carne mirandesa e fui várias vezes a Trás-os-Montes
para a degustar. Também gosto do queijo e do azeite transmontanos. Vem muita
coisa boa de Trás-os-Montes. Acho que a carne já é conhecida mas, nos restantes
produtos, falta muita promoção”.
Visitante-
Carlos Bettencourt - Serpa
“Conheço
bem Trás-os-Montes e, normalmente, nestes eventos procuro sempre a carne
mirandesa. Sou veterinário e por vezes, fazemos jantares de colegas no concelho
de Bragança. A carne mirandesa e de porco bísaro são muito boas”.
Jornalista: Sara
Geraldes
Retirado de www.jornalnordeste.com
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