Fotografia e texto: Maria Cepeda
quinta-feira, 27 de março de 2025
Transparência
quarta-feira, 12 de março de 2025
Continuação da entrevista realizada ao Dr. Fernando Calado
(M.C.): Acho que aí está o teatro, não é? (Risos)
(F.C.): O teatro de Milhão, mais o curso de teatro que eu tinha
feito com a Seiva Trupe no Porto.
(M.C.): Ah! A vida é cheia de coincidências. Estava tudo preparado
para calcorrear o caminho. Maravilha!
(F. C.): Encontro o diretor do Magistério Primário e dou-lhe a
informação sobre a minha ligação ao teatro. Ele diz-me que também tenho que
pedir ao Padre Marcelino para ir para o Magistério. Deixo o ciclo, onde dei
três ou quatro horas e fui para o Magistério. Então, essa é a minha vida
profissional com o curso de movimento e drama no Magistério. Entretanto,
comecei no ensino oficial. Corri meio mundo. Um professor no ensino... O
ensino no ciclo preparatório, no ensino secundário. No Penedono, Macedo de
Cavaleiros, Valpaços, Chaves. Meio mundo.
(M.C.): É o que acontece aos professores, não é?
(F.C.): O que aconteceu é que eu estava na escola secundária Abade
de Baçal que se chamava Escola Secundária da Sé e no ano seguinte abriu o
estágio. Comecei a trabalhar no estágio que se chamava Formação em Exercício.
Ao cabo de dois anos, tinha o estágio feito. Pedi uma vaga para professor e
disse ao diretor que se eu fosse para a Escola Secundária da Sé, agora Abade de
Baçal, que eu iria abraçar a profissão de professor, como professor efetivo.
(M.C.): E na sua área?
(F.C.): E na minha área eu seria o mestre. Andei lá vários
anos até que fui convidado a exercer o cargo de Delegado dos Assuntos
Consulares.
(M.C.): E o que é que faz um Delegado dos Assuntos Consulares?
(F.C:): Sobretudo acompanhava as questões da imigração. Os
imigrantes, ao invés de tratarem determinados assuntos nos consulados da
Europa ou nas embaixadas, podiam tratar aqui em Bragança na Delegação
dos Assuntos Consulares.
(M.C.): Podiam fazer o mesmo agora…
(F.C.): Exatamente. E portanto, sobretudo no verão fazíamos
uma ação interessantíssima com algum regionalismo (24:05) na fronteira de Quintanilha. Comprávamos
uma vitela e estávamos lá oito dias recebendo os imigrantes, fazendo
publicidade, dando cartazes, dando informações e oferecendo a carne
assada. (24:24)
(M.C.): Eu recordo-me disso. Falavam sempre na rádio e na
televisão. Foi uma ação extremamente interessante porque os imigrantes sentiam-se
acarinhados, não é?
(F.C.): Era uma organização pequeníssima. Só era eu como Delegado e
uma secretária que funcionava na Almirante Reis. Mas foi importante porque era
um espaço onde os imigrantes podiam tratar, não de todos os assuntos,
mas de determinados assuntos. Entretanto, a Dr.ª Olema que era a
Coordenadora do Centro da Área Educativa de Bragança (CAE) aposentou-se e
convidou-me para aceitar o lugar. Aceitei e estive cinco anos no CAE como
Coordenador. A partir daí voltei ao ensino e fui para a Escola do Magistério onde
estive quatro ou cinco anos como professor de pedagogia. Fui para o
Instituto Piaget também a lecionar durante alguns anos. Acabei por
regressar à escola Abade de Baçal até que me propuseram ir para o Centro
de Formação Profissional (CFP) organizar o serviço. Dar alguma ajuda e eu
aceitei. Só que em vez de ter sido meio ano, foram oito anos como diretor
de uma empresa.
Entretanto, cheguei à fase,
em que, pela idade, me podia aposentar. Regressei à escola secundária
Abade de Baçal onde me aposentei e terminei a minha vida académica.
Portanto, além da atividade como
docente e em várias rádios, também dirigi uma revista que o
Marcolino tão bem conheceu e onde tanto trabalhou, Os “Amigos de Bragança”,
onde colaborei assiduamente no “Mensageiro de Bragança” com artigos de opinião,
enfim… Tive uma boa vida no concelho da Bragança. Enfim, foi uma vida
bastante preenchida, muito rica.
(M.C.): Sem dúvida uma vida muito interessante. Os seus dias deviam
ter mais horas do que os nossos. Foi uma vida bastante intensa. Publicou com assiduidade
artigos de opinião e textos literários em vários jornais e revistas. Participou
em programas de rádio, realizou diversas palestras, conferências, ações de
formação e foi ainda diretor e proprietário da revista cultural e etnográfica
“Amigos de Bragança”. Fale-nos dessa experiência…
(F.C.): De facto, a minha vida literária começou, efetivamente, no “Mensageiro de Bragança”. Na faculdade, publiquei um livrinho pequenino, de poesia “Bragança” que me trouxe alguns dissabores… fui considerado revolucionário para a altura. A doutrina social da igreja, que, efetivamente, na altura, tinha alguma dinâmica que depois chamaríamos… censura(?)Depois disso, colaborei com assiduidade no “Mensageiro de Bragança”, e, mais tarde, fiz os “Amigos de Bragança” que teve uma história interessantíssima e que se perdeu.
CONTINUA...
domingo, 9 de março de 2025
Continuação da entrevista realizada ao Doutor Fernando Calado
(M.C.): Uma fortuna!
(F.C.): Nós ficámos com o cheque, mas ninguém acreditou que aquilo
tivesse algum valor. Só quando vimos o dinheiro na mão é que acreditámos. Portanto,
foi, de facto, a raridade. Portanto, em Trás-os-Montes não havia tantos
grupos de teatro assim, o que significava que era uma raridade. E,
portanto, foi um património importante na aldeia. Ainda hoje, os mais idosos
falam no teatro e na saudade que têm desse tempo do teatro.
Hoje, com o progresso que
temos, com as possibilidades que há, não seria possível manter um grupo de
teatro em vez de uma cadeia? Na altura era uma pequena fortuna. Mas é pena
que não haja quem pegue outra vez na ideia. Aliás, há um organismo
que capitulou e teve uma importância enorme na divulgação do teatro e
da cultura em Trás-os-Montes, que foi o FAOJ (Fundo de Apoio aos Organismos
Juvenis). E o FAOJ foi, de facto, um organismo que criou muitos grupos de
teatro, muitos grupos folclóricos, muitos grupos de leitura, mas não só. Hoje,
praticamente, a dimensão cultural, a divulgação cultural é inexistente nas
nossas aldeias.
O que é que existe? Uma casa do
povo, com um bar, com umas festanças, com umas jantaradas, com um pouco
mais do que isso.
(M.C.): Faz-se a festa dos santos que são os oragos e
mais nada.
(F.C.): O aspecto cultural, praticamente, é inexistente.
(M.C.): O que é uma pena. Era bom que alguém lhe pegasse novamente.
(F.C.): Que lhe incutisse uma dimensão cultural, uma política de
dimensão cultural… Não há. É uma pena.
(M.C.): Continuando. Enveredou
pela Filosofia, como já disse. O que o levou a seguir esse caminho, veio do Seminário?
(F.C.): Sim, sim. Aliás, o seminário tinha três secções. Quando se
entrava para o seminário, fazia-se o curso de humanidades. No sexto
ano passava-se para a secção de filosofia. Portanto, sexto, sétimo,
filosofia. Depois, oitavo, nono, décimo segundo, filosofia. Portanto,
embora a filosofia que se ensinava nos seminários, embora fosse uma
filosofia tomista, ou seja, a filosofia de São Tomás de Aquino, na tradição
aristotélica, mas era levada muito a sério. E não há dúvida nenhuma que, embora
a filosofia fosse inspirada na filosofia grega, mas dava muita
bagagem em termos de formação filosófica. E, portanto, para mim, era mais
do que natural tendo eu o sétimo ano do seminário, que a saída natural seria
ir para a Faculdade de Filosofia de Braga, onde fiz o primeiro ano. Com a
bagagem que eu levava do seminário, consegui fazer num ano, em Braga, dez
cadeiras. O que significa que no segundo ano pedi transferência para o
Porto e a grande maioria das cadeiras da Faculdade de Filosofia do Porto
já as tinha feitas, o que significa que depois passei mais quatro anos no
Porto e vim fazendo umas cadeiras ou seminários, etc.
Mas a minha formação
verdadeira foi o Seminário e a Faculdade Filosofia de Braga dos Jesuítas,
que é onde se aprende Filosofia.
(M.C.): Também os jesuítas. Ora, muito nos ensinou já. Permita-me
que passe à próxima pergunta. A sua vida profissional está profundamente
ligada ao ensino e à coordenação de órgãos diretivos relacionados com
a sua formação académica, mas não só. Fale-nos do seu riquíssimo percurso.
(F.C.): Eu terminei o curso na Faculdade de Filosofia do
Porto. Entretanto, interrompi para ir fazer o Serviço Militar e quando
saí do Serviço Militar, ainda me faltava uma cadeira ou duas para ter
a licenciatura. Já tinha o bacharelado. Portanto, fui terminar a licenciatura e
foi curioso como comecei a minha vida profissional. Estava no Porto a
terminar o curso e apareceu lá o Padre Marcelino, o Diretor do Ciclo
Preparatório que não era capaz de arranjar um professor de música.
CONTINUA
quinta-feira, 6 de março de 2025
Dr. Jorge Ferreira lança dia 13 de março mais um livro...
Jorge José Alves Ferreira nasceu em 18 de janeiro de 1959, na aldeia de Dorna, na freguesia de Póvoa de Agrações, concelho de Chaves.
quarta-feira, 5 de março de 2025
O PÃO BRAGANÇANO (DEIXAR O PÃO FALAR)Texto e fotografias retirados de: www.cm-braganca.pt
O Auditório Paulo Quintela foi
palco, esta manhã (2025/03/03), da Conferência “Pão Bragançano - Deixar o Pão
Falar”, uma iniciativa que reuniu especialistas, padeiros e chefs para debater
o presente e o futuro da panificação em Portugal.
Integrado no Festival do Butelo e
das Casulas & Carnaval dos Caretos, o debate destacou o papel essencial do
pão na cultura e identidade nacional, com particular destaque para a tradição
do pão transmontano.
A sessão de abertura contou com a
intervenção de Miguel Abrunhosa, Vereador da Câmara Municipal de Bragança.
Seguiu-se uma entrevista conduzida por Paulo Amado a Elisabete Ferreira,
recentemente distinguida como “Melhor Padeira do Mundo”, pela União
Internacional de Panificação e Pastelaria, e galardoada com a Medalha Municipal
de Mérito, pelo Município de Bragança. Depois, teve lugar uma apresentação do
investigador e gastrónomo transmontano Virgílio Gomes, sob o mote “O Pão
Bragançano”. Posteriormente, André Magalhães moderou uma conversa com Amândio Pimenta,
membro dos Ambassadeurs du Pain. O
encerramento ficou marcado pelo debate “Pensar o Pão em Portugal”, moderado
pela jornalista Catarina Moura, com um painel de especialistas, composto por
Olga Cavaleiro (investigadora de gastronomia), Luís Afonso (proprietário da
Moagem do Loreto) e Lídia Brás (chefe do Stramuntana, em Vila Nova de Gaia, com
raízes em Miranda do Douro).
A iniciativa procurou reforçar a importância do pão, não apenas como alimento, mas como património cultural, cuja preservação e valorização são fundamentais para a identidade gastronómica das regiões.
terça-feira, 4 de março de 2025
Jorge Morais - Personagens (12) - Carnaval 1997
Acho oportuno regressar a um carnaval de há quase 30 anos aqui em Bragança (exatamente do ano de 1997): São pessoas locais com atitudes ou poses de participação, cansaço ou resignação após uma grande folia.
Uma pessoa também criativa que um dia me abordou e,
delicadamente me entregou um cartão pessoal bem impresso e concebido em que se
apresentava como executor de serviços de "limpa-chaminés". E esta?...
Talvez o primeiro que formalmente se apresentava como tal numa cidade aonde as
procuras e as ofertas neste sector de serviços domésticos a particulares eram
tipo passa-palavra.
terça-feira, 25 de fevereiro de 2025
25/02/25
segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025
Jorge Morais - Personagens (11) - Jovens pastores no parque de Montesinho
Numa destas manhãs gloriosas de geadas e até neve a luzir no cume do monte espanhol próximo de "La Tejera", apanhei estes dois jovens pastores das aldeias de Maçãs e Fontes Transbaceiro que se amparavam ao respetivo cajado enquanto o sol intentava romper a bruma dessa manhã gélida.
A simetria dinâmica com que se encostavam chamou-me de imediato a atenção e, apresentando-me, pedi-lhes se podia tirar-lhes a foto o que aceitaram sem se descomporem, isto é, ficaram tal como estavam, o que foi bom.
Digo com franqueza que o momento lumínico e ambiental vivido era ainda muito mais cativante do que a foto poderá transmitir. A geada no chão mais branca e texturada, o sol de nascente e muito baixo iluminando o rosto dos jovens, as varas e o dorso das ovelhas com muito contraste, as árvores do souto no montículo de fundo apresentando a evidência de alguma neve criavam uma atmosfera tipicamente do nosso reino, quer dizer do Trás-os-Montes a sério, aquele a que desde há muito nos habituáramos.
Os rostos e o corpo dos jovens também caracterialmente e compositivamente interessantes. A postura muito semelhante em ambos embora em contraponto, destacando-se ainda o modo como replicam o mesmo modo de sujeitar o cajado por debaixo dos braços cruzados; no rosto, o mais velho, evidencia um sorriso frontal e de confiança (apesar do pau na mão...); o outro, mais novo, ligeiramente atrás, não consegue desmascarar um olhar mais franzido e semblante algo carregado, como que perguntando:
- Quem é este?
Pois bem este era o Jorge Morais com a sua velha nikon FM2 que quis
madrugar tanto, pelo menos, como estes pastores, e digo, estava um frio de rachar.
Felizmente a máquina era robusta e o filme que eu próprio revelei minimamente cumpriu.
Jorge Morais
P.S.: Olá meninos, aí vai uma foto a combinar com os tempos de inverno que agora aparece, nomeadamente a geada e a neve. Espero que gosteis. (Jorge Morais)
Olá Jorge. Linda fotografia. Conseguiste captar o momento exato, perfeito, único da inocência camuflada de uma manhã gélida, na franqueza do olhar ofertado pelos dois jovens pastores. Assim nascem momentos únicos que fazem a diferença e nos tornam felizes e agradecidos pelo privilégio de estarmos aqui. (Maria e Marcolino Cepeda)
quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025
Continuação da entrevista realizada ao Dr. Fernando Calado
Recordo-me, na minha
juventude, quando o Carlos Pires, no Cantinho dos mais Jovens, publicava
uma poesia minha, para mim tinha um valor, um património, um
reconhecimento para além do que seria normal. Eu escrevia imenso no Mensageiro, mas era mais uma peça que não valorizava. Não valorizava
tanto.
Quando a poesiazinha saía pela
mão do Carlos Pires, para mim tinha um valor enorme. Porquê, efetivamente, já
tinha letra redonda no jornal. E o jornal valia.
Conto, a propósito do jornal, o
caso do tio José Maria, da minha aldeia que comprava o jornal todos os
meses, e num desses jornais vinha o rapto do navio Santa Maria pelo
Henrique Galvão. Leu-se na aldeia a notícia no jornal, mas o
tio José Maria não voltou à cidade tão depressa. Portanto, para a
comunidade de Milhão, o barco nunca mais apareceu. Porque nunca leram o jornal que dizia que o barco tinha sido resgatado. Naquele tempo o valor que
tinha a imprensa era incrível. Na altura dizia-se: "Veio no jornal!" E ninguém duvidava que
tinha vindo no jornal e que era verdade.
Mas, se calhar, isso fez uma
diferença muito grande para muita gente. O jornal “Mensageiro de
Bragança” foi, de facto, uma escola importantíssima na construção, na
visualização e na divulgação de muita gente que hoje está no mundo das
letras. Foi aí, que fez a sua aprendizagem.
(M.C.): Sim. Eu não sabia, não conhecia o jornal “Mensageiro de
Bragança”. Aprendi com o Marcolino que me falou do “Mensageiro” e de toda a
juventude ligada a ele. Tudo o que vocês fizeram, do que escreviam e
daquilo que se publicava. Numa determinada altura, por indicação do Padre
Sampaio, foi obrigado a escrever com pseudónimo, porque tinha publicado qualquer
coisa no jornal que o Senhor Ministro do Interior, Dr. Rapazote, entendeu que não
era adequado.
(F.C.): No meu caso, ainda era mais difícil publicar no jornal porque era seminarista. Significa que era preciso ter, por um lado, cuidado com questões políticas, por outro lado, com questões da sexualidade, nomeadamente do amor.
O que quer dizer que publicar um poema
amoroso podia ser motivo de expulsão. Portanto, era, de facto, um
seminário conservador onde eu vivi alguns anos. Fiz uma grande
aprendizagem. Na minha idade, por várias razões. Na literatura, onde se lia muito,
porque não havia televisão, nem havia entretenimento. Ao nível da filosofia, e,
na minha idade, a camaradagem. É que nós éramos os primeiros a enunciar
coisas que eram próprias da época e que, mais tarde, teve efeito.
(M.C.): Sim. Foi uma escola, sem dúvida. O meu marido,
Marcolino Cepeda, recorda-se de uma peça de teatro de que gostou muito, levada
a cabo em milhão, a que assistiu com o Padre Sampaio, em que todas as
personagens eram representadas por homens, a exemplo do teatro grego, e
que ele, com o pseudónimo de José Valverde, escreveu um artigo no
jornal Mensageiro de Bragança. Lembra-se?
(F.C.): Sim. Milhão foi uma das poucas aldeias que nessa
altura, teve um grupo de teatro, que foi dirigido por mim, como
estudante, como seminarista, e como pessoa que gostava de teatro. Portanto,
durante meia dúzia de anos ou mais, tivemos um grupo de teatro ativo, que só
funcionava no verão. Mas, no verão, corríamos várias localidades a
apresentarmos esse teatro, chegando a vir à Torralta. No início, Marcolino
tem razão, é só um grupo de teatro de homens. Porque não era muito
saudável, muito reconhecido, que as mulheres tivessem uma exposição
pública dentro deste machismo bem transmontano.
Finalmente, conseguimos abrir esse
preconceito e chegamos a representar peças que entravam nas cenas de
filmes, nomeadamente a “Casa de Pais”, grandes dramalhões, com a
plateia toda a debulhar-se em lágrimas. E o teatro chegou a ter tanta
importância que, quando foi, no 25 de Abril, nas célebres campanhas de
dinamização cultural do MFA (Movimento das Forças Armadas), foram um
tenente e umas praças a Milhão a saber do grupo de teatro, porque lhe
tinham dito que era um grupo de teatro revolucionário e eles precisavam de um grupo
de teatro para as campanhas de dinamização cultural.
O tenente perguntou: “Quem é
o responsável pelo teatro? Respondi: “Sou eu.” “Quanto é que o camarada
precisa para manter este teatro?” Respondi: “Precisamos de dois ou três
contos.” Disse o tenente a um dos praças: “Passa aí um cheque de 20 contos ao
camarada.”
CONTINUA
Maria e Marcolino Cepeda
45ª edição da Feira do Fumeiro de Vinhais superou expectativas (Publicado em 10/02/2025) (Escrito por Brigantia; Jornalista: Cindy Tomé)
Com várias toneladas de fumeiro vendidas,
ultrapassando até os números do ano anterior, o certame confirmou, mais uma
vez, a sua importância no panorama gastronómico nacional
A 45ª edição da Feira do Fumeiro de Vinhais voltou a
ser um sucesso. Com várias toneladas de fumeiro vendidas, ultrapassando até os
números do ano anterior, o certame confirmou, mais uma vez, a sua importância
no panorama gastronómico nacional.
Entre os 70 produtores de enchidos presentes no
certame, dos quais 50 são do concelho de Vinhais, o balanço das vendas
revelou-se muito positivo.
Iara Monteiro contou que por volta das 15h já tinha
“quase tudo vendido” e acrescentou que “a feira ultrapassou as expectativas”.
“Quinta e sexta-feira são sempre dois dias mais
calmos, mas depois sábado e domingo são dois dias excelentes. É uma feira onde
se vende bastante produto”, contou outro dos produtores que expôs os seus
enchidos.
Já Diogo Pires afirma que, no sábado, esteve “acima
das expectativas”. “Acho que foi uma grande aposta do município escolherem o
Tony Carreira porque acabou por atrair muita gente, mas está a ser muito bom e
está a cumprir as expectativas, até a superá-las. As alheiras estão,
praticamente esgotadas, ainda temos de tudo, mas as vendas correram bem e é
isso que nós faz vir até aqui”, contou.
O presidente da Câmara Municipal, Luís Fernandes,
afirma que o número de visitantes foi elevado e garante que o número de vendas
superou os valores do ano anterior.
“O balanço é extremamente positivo, não só pelo
número de pessoas que vieram à feira, mas também pelas vendas, pela forma como
decorreu a feira. Repare, ainda faltam quatro ou cinco horas para o
encerramento da feira, e já há muitos locais que estão completamente esgotados.
Isso é o melhor sinal. Correu bem, as pessoas venderam e, portanto, é, cada vez
mais, um sucesso. Não temos ainda, digamos, um balanço completamente correto,
sabemos é que foram vendidas várias toneladas de fumeiro, mais do que no ano
anterior, e, se houvesse mais, mais se venderia, com certeza”, contou o
autarca.
A Feira do Fumeiro de Vinhais deste ano começou na
passada quinta-feira e terminou ontem. Contou com as atuações musicais de Ana
Moura, Tony Carreira e DJ Kura.
segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025
José Mário Leite apresentou “O Terceiro Milagre das Rosas” (Publicado no jornal "Mensageiro de Bragança")
O livro, de autoria de José Mário
Leite, o Milagre das Rosas, é sobre Vila Flor, pessoas e história, e foi
pretexto para homenagear o Pe. Leite, tio do autor, contando com a presença de
Dom Delfim, Bispo Auxiliar de Braga, amigo próximo do homenageado. A
apresentação aconteceu no dia em que se assinalaram 700 anos da morte de Dom
Dinis.
Dom Dinis é figura central na
história de Vila Flor, a ele se deve o seu nome que, batizando em 1286 a antiga
“Póvoa d’Além Sabor” de Vila Flor.
O Rei Poeta, juntamente com a sua
mulher, rainha Dona Isabel, são as figuras centrais do “Terceiro Milagre das
Rosas”, uma narrativa que mistura factos e personagens reais com fabulação, fé
e religiosidade com fantasia e premonições.
“A ideia original foi do meu tio,
padre Joaquim Leite, que já não teve tempo de escrever a história e me incumbiu
a mim dessa tarefa”, contou o autor, José Mário Leite na apresentação desta
obra. “Ainda discutimos muito qual seria o título, o meu tio não era dado a
exageros, tinha horror ao ridículo e eu tentei convencê-lo, recorrendo aos
autores clássicos, que mais vale ‘o impossível que persuade, do que o possível
que não persuade’, mas não o convenci”, recorda. A responsabilidade ficou nas
mãos de José Mário Leite: “agora és tu que tens de descalçar a bota”, refere o
autor recordando as palavras do tio.
E assim fez, usou “um milagre”
altamente mediático para contar a história de amor de Dom Dinis e Dona Isabel
de Aragão, com todo o exagero que de forma explícita sugere a recriação da
“renovação dos votos de amor” entre os monarcas, num episódio que foi encenado
pelo Grupo de Teatro Filandorra e apresentado durante o lançamento do livro.
Esta apresentação, para além da
referência ao septingentésimo aniversário do Rei Dom Dinis, assumiu especial
significado pela homenagem prestada ao autor da ideia do livro, o padre Joaquim
Leite, figura muito estimada em Vila Flor, onde passou os últimos 16 anos da
sua vida. Dom Delfim Gomes, Bispo Auxiliar de Braga, amigo próximo do Pe Leite,
participou nesta homenagem, com um emotivo relado sobre a relação de amizade,
companheiros e cumplicidade que existia entre ambos. “Era um Homem do Povo, que
trabalhou para o povo, se inseriu na comunidade e viveu intensamente a sua
cultura; era um Homem de Deus, uma pessoa singular; e era um Homem de Deus para
os outros”, afirmou.
Este livro contou com o apoio da
Câmara Municipal de Vila Flor. O presidente do Município, Pedro Lima,
manifestou profunda “gratidão” a um homem que caracteriza pela “imensa bondade,
disponibilidade e entrega absoluta”. Do legado que o Pe Leite deixou, o autarca
destaca o “Hino da Nossa Senhora da Assunção” e também a concretização de um
sonho, a aquisição de um órgão de tubos para o Santuário de Nossa Senhora da
Assunção, onde atualmente as crianças do Concelho aprendem a tocar.
Homem de letras e da música,
Pedro Lima refere que esta pequena homenagem foi mais uma forma de manter viva
a memória do Pe. Leite recordado em Vila Flor pela sua alegria, simplicidade e
bondade.
GNR avança com “e-Guard” para socorro à população sénior (Retirado de www.mdb.pt)
“O projeto ‘e-Guard’ está
inserido numa estratégia que está no alinhamento da Guarda Nacional Republicana
(GNR) para o ano de 2025, no distrito de Bragança, que está focada nas pessoas,
no âmbito da prevenção criminal e policiamento comunitário, como prioridades”,
indicou o oficial de relações públicas do comando da GNR com sede em Bragança,
Vítor Romualdo.
O projeto “e-Guard” assenta num
equipamento eletrónico que procura desenvolver uma resposta integrada de
segurança, ação social e saúde, especialmente dirigido às pessoas mais
vulneráveis, como “uma resposta eficaz no socorro e apoio aos maiores de 65
anos”. “Este projeto já se encontra implementado em alguns comandos distritais
da GNR, havendo agendamentos para alguns municípios dos distritos de Bragança,
para o mês de fevereiro. A seleção das pessoas vai ao encontro dos idosos
sinalizados durante a operação anual Censos Sénior, respondendo a critérios de
dependência, incapacidade, solidão ou isolamento”, vincou este oficial da GNR.
Publicado por Francisco Pinto, 2025-02-06
terça-feira, 4 de fevereiro de 2025
REZINGA - Escritos dispersos (Livro publicado em 1999, composto por artigos de opinião, publicados em jornais da região)

Esperamos feedback. Obrigado.
Marcolino Cepeda
BARRISMO
Diz-se de Bragança não ser
bairrista, como se se tratasse de uma característica muito intrínseca, senão
mesmo biológica, da sua população.
Parece-nos um tema interessante,
não exatamente para aqui dissecar e aprofundar ou alongar com laivos de algum
pretensiosismo de ordem psicológica ou social, mas antes para apontar
determinados aspetos ou pormenores que, do nosso ponto de vista, poderão
contribuir para uma análise mais alargada e que reputamos cada vez mais
indispensável face aos tempos que correm e aos que virão e nos quais o nosso
bairrismo está a ser posto à prova, de forma particularmente incisiva mas
cuidada e objetiva e, provavelmente, determinante.
Obviamente não estamos a falar do
bairrismo de bons e maus.
Também não nos referimos ao conceito
de bairrismo ditado por uma expressão, de todos nós conhecida e que se me
afigura ingénua e totalmente infundada.
Vamos ocupar-nos do esforço de uma
região em vencer, por si própria, toda a espécie de dificuldades, a juntar às
que lhe são impostas pela situação geográfica e pelos desfavores da natureza.
O que para nós é absolutamente
fundamental é que, a partir de determinada altura, Bragança agitou-se, venceu o
marasmo para que se tinha deixado arrastar e iniciou um percurso de
desenvolvimento a vários níveis.
E é então que, a juntar-se àqueles
que nunca se tinham conformado, surgem muitos outros e convictamente se começa
a revitalizar e afirmar o nosso bairrismo. Revela-se um espírito
verdadeiramente empreendedor, que se mantém, apesar de adversidades de vária
ordem.
É a este dinamismo, a esta
capacidade de gestão e de perspetiva, progredindo e fazendo progredir, que
podemos chamar bairrismo.
Podemos chamar bairrismo a
esforços individuais verdadeiramente notáveis, a juntar ao alargamento de
implantação e o despontar de organismos e coletividades, todos eles voltados
para a defesa dos melhores interesses da região.
Não sendo necessário recuar muito
no tempo, surgem-nos exemplos bem significativos.
Desde finais do século passado,
Bragança viu nascer ou acolheu personalidades marcantes das letras, das artes e
do pensamento que impulsionaram o seu desenvolvimento a impor Bragança nos
centros de decisão.
Muitos houve que, no seu esforço
anónimo e desinteressado contribuíram para o desenvolvimento da sua terra.
E são esses esforços, a par de
outros que, por qualquer motivo, mais se possam notabilizar, que constituem o
verdadeiro suporte, a força que está sempre presente.
As décadas passadas marcaram o
aparecimento de escritores que, pelo seu talento, se têm vindo a impor a nível
nacional. É aqui, também, de assinalar os esforços que em várias ocasiões foram
feitos para impor publicações cuja atribuição fundamental era a defesa da nossa
terra.
Mas, num esforço de participação e
empenhamento a vários níveis, outras coletividades têm surgido e se mantêm, por
vezes, de forma atribulada o que é, aliás, comum, mas tendo sempre presente a
necessidade de agrupar e trabalhar numa causa que torne mais agradável e útil o
nosso quotidiano.
Tentamos, apenas, fazer uma breve
abordagem ao esforço de muitos bragançanos que, ao longo dos anos se têm
empenhado profundamente e têm dado o seu melhor na valorização deste espaço.
Muito desse esforço resultou
inglório e tantas vezes mal compreendido. Mas, o que ficou é bastante e há de
servir-nos sempre e, sobretudo como incentivo.
Continuemos, ainda, a falar do
nosso bairrismo, aquele que entronca com a nossa personalidade coletiva, com a
nossa forma de ser e de estar.
Por tudo isto, defendemos que bairrismo é lutar contra a mentalidade centralista e provinciana, que continua a imperar e a impor-nos receitas inadequadas e fora de prazo. Bairrismo é, por isso mesmo, a consciencialização de todos na assunção e defesa das nossas potencialidades, dos valores culturais que nos são próprios e que nos moldaram.
Bairrismo é, ainda, o sentimento comunitário das nossas aldeias que há que preservar, não como uma coisa fechada, mas procurando o equilíbrio com o progresso e o bem-estar convencional, mas ao qual, pensamos, se deve exigir que as populações tenham pleno acesso.
Devemos ser bairristas na procura
de uma melhor saúde, de um melhor ensino, de um desenvolvimento tecnológico e científico
que permitam uma melhoria significativa das condições de vida das populações.
Assim, em jeito de conclusão,
bairrismo é o sentimento comum pela nossa terra, entendido numa perspetiva de
defesa das nossas potencialidades e valores culturais.
Amanhã
Amanhã de manhã acordarei antes que o alarme do telemóvel chame por mim.
É sempre assim... Acordo sempre antes de
ti.
Como todas as manhãs, far-te-ei um breve
gesto de carinho.
Rir-te-ás, ao de leve, antes de dizeres:
"Bom dia amor!"
Um efémero beijo nos lábios e levanto-me
a sorrir como quem acorda num cálido dia de primavera.
Um duche rápido, visto-me
confortavelmente para mais um dia de trabalho.
O sol brilha na janela, a geada
espraia-se pelo espaço exterior. Lindo!
Levanta-te dorminhoco. O dia espera por
ti. Há muito que fazer. Há muito que sorrir...
Anseio por dias felizes, por almas
puras, por horas maduras...
Somos o sim onde impera o não.
Somos o bem onde vinga o mal...
Pergunto-te o que fazer e dizes: Não
sei!
Não te preocupes. Juntos saberemos,
talvez, dar-nos uma resposta.
Divago... Divagamos os dois como os
grandes génios que nos suplantam, esses com mais certezas do que nós. Quem
sabe?
O mundo, o nosso mundo segue o seu
caminho.
Para onde? Não sei.
Será que se esconde? Onde?
Só o tempo o dirá…
(Texto e fotografia)
Maria Cepeda
sábado, 25 de janeiro de 2025
Entrevista com Dr. Fernando Calado (Excerto)
Maria Cepeda (M.C.): Estamos hoje, 13/01/2025, numa das salas do
Centro de Fotografia Georges Dussaud para entrevistar o Dr. Fernando Calado,
professor aposentado, jornalista, escritor, entre muitas outras atividades.
"O Centro de Fotografia Georges Dussaud,
inaugurado em 2013, ocupa todo o primeiro andar do edifício Paulo Quintela. A
já vasta coleção do centro integra fotografias oferecidas pelo fotógrafo
francês resultantes de trabalhos realizados a solicitação do Município de
Bragança, na sua totalidade a preto e branco. Este acervo fotográfico conta com
retratos, de onde sobressaem histórias de vida, povoadas de homens, mulheres e
crianças, mas também de lugares, de olhares, de gestos, de instantes
irrepetíveis registados a cada rigoroso disparo da máquina fotográfica. O
centro possui um espaço para a realização de exposições temporárias de fotografia." (Retirado do site da Câmara Municipal de Bragança".
Cabe-nos agradecer, à Câmara
Municipal de Bragança, a cedência do espaço na pessoa do Dr. Alexandre.
Boa tarde Dr. Fernando Calado.
Antes de mais, deixe-nos dizer que é para nós uma honra tê-lo cá.
Agradecemos-lhe por ter aceitado dar-nos esta entrevista.
Dr. Fernando Calado (F.C.): Eu lembro-lhe que o Marcolino é um amigo de sempre e, portanto, está sempre no meu imaginário. Eu manifesto os meus agradecimentos à Mara e ao Marcolino. Portanto, é uma honra para mim ter esta entrevista.
(M.C.): Obrigado. Vou apenas apresentar os seus dados biográficos e depois avançamos para as perguntas.
Fernando do Nascimento Rodrigues
Calado nasceu em 1951, em Milhão, Bragança. É licenciado em Filosofia pela
Universidade do Porto, tendo cursado Doutoramento em Sociologia. É Professor
aposentado de Filosofia na Escola Secundária Abade de Baçal, em Bragança, e foi
ainda docente na Escola Superior de Saúde de Bragança e no Instituto Jean
Piaget de Macedo de Cavaleiros. Exerceu os cargos de Delegado dos Assuntos
Consulares, Coordenador do Centro da Área Educativa e Diretor do Centro de
Formação Profissional do IEFP (Instituto de Emprego e Formação Profissional),
em Bragança.
Publicou com assiduidade artigos
de opinião e literários em vários jornais e revistas, e participou em programas
de rádio. Realizou diversas palestras, conferências e ações de formação. Foi
diretor e proprietário da revista cultural e etnográfica “Amigos de Bragança”.
Obras publicadas
Poesia: Verdes de Sangue –
1973; Teatro: A última esperança – 1990; Coordenação de Biografias:
O Bispo da Catedral – 2002; 50 anos de Jornalista – 2002; Prosa: O dito
e o feito – 1996; Há homens atrás dos montes – 1998; E já não havia rosas –
2014; O Milagre de Bragança – 2015; Quando as mães saíram à rua – 2016; Foste-me
embora – 2017; Pão Centeio – 2017; A Sacerdotisa da Irmandade – 2019; Quarenta
noites – 2021; José Jorge - 2023; O pequeno mundo da nossa taberna – 2024.
Tradução para Castelhano - El Milagro de Bragança - 2018.
1º Prémio Adriano Moreira – Casa de Trás-os-Montes – Lisboa.
“José Jorge” foi galardoado com o
prémio literário Adriano Moreira – pela Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro
(M.C.): Avancemos, então, com a nossa
primeira pergunta. Nasceu na aldeia de Milhão, concelho de Bragança. Que
recordações guarda da sua meninice e da sua juventude?
Dr. Fernando Calado (F.C.): Nascer em Milhão foi um privilégio. Sou filho de uma ninhada de seis, o mais novo, o que significa que fui mimado por todos os irmãos, que de alguma forma eram, também, protetores. Além disso, o meu pai tinha um estabelecimento comercial chamado Soto, Soto das Aldeias, por onde passava toda a aldeia.
Ora bem, isso deu-me algum privilégio no meio da garotada da minha idade em Milhão, que me apoiavam, me estimavam e que me ofereceram, ao fim e ao cabo, entre a agricultura, entre as memórias dos aldeãos, entre os mitos dos dias lentos, entre os responsáveis pelo conceito, entre a religião que é poderosa, ainda, nas nossas aldeias, todas essas recordações.
Portanto, isso era para mim o
protótipo do aldeão transmontano com todas as alegrias, tristezas, festas,
lutos, todo o imaginário transmontano que eu adquiri no seio de uma
família tradicional, profundamente religiosa, temente a Deus, e
daí o debate que é desenvolvido nesse ambiente.
A minha educação escolar foi feita
essencialmente pelas minhas irmãs que eram professoras do ensino primário.
O que me permitia também ter alguma relevância no meio da comunidade
escolar, porque era irmão da senhora professora, embora que para as minhas
irmãs não tivesse privilégio nenhum, porque eu era dos mais
castigados, porque tinha que ser o melhor aluno.
Esse facto tornou-me um bom
estudante no primeiro ciclo, até que vim para o liceu de Bragança, onde
iniciei o primeiro ano do liceu logo como
“adulto”. Porquê? Vindo de uma educação repressiva, deparei-me
com toda a liberdade, a mata de São Sebastião aqui tão perto, as
companhias, os matraquilhos no Almeida, o café, o quiosque onde
vendiam cigarros a tostão. Portanto, tudo isso fez-me um jovem
adolescente.
(M.C.): Quer dizer então, que saiu de Milhão, daquele ambiente
protegido e aqui soltou-se… (Risos)
(F.C.): Tive, de facto, a grande necessidade de tudo aquilo que
tinha que acontecer. Daí, de facto, os meus pais viram que esse não era o
caminho.
Felizmente tinha um primo, Nuno
Galvão, poeta, que frequentava o seminário, que morreu na Guerra Colonial em
Moçambique, que veio com os irmãos para o seminário onde se lia muito,
se estudava muito, onde se era padre, que depois dava um estatuto muito
elevado. Entretanto, abandonei o seminário, abandonei o liceu logo no
segundo ano e fui para o seminário onde fiz toda a minha formação
humanística e filosófica mais tarde.
Portanto, a minha juventude, de
facto, desenrolou-se depois num ambiente escolástico, num seminário ainda muito
do Conselho de Trento, muito conservador, até que houve, já no sétimo
ano, a abertura dos seminários, com a vinda do Dr. Sobrinho e do Dr.
Pinela, de Roma, que abriram muito o seminários e a maior parte dos
seminaristas decidiram ir para a faculdade e, no meu caso, para a faculdade
Filosofia.
(M.C.): Muito bem. Teve um percurso muito interessante. Passemos,
então, para a segunda pergunta. De que forma o facto de ter nascido na nossa
região o marcou?
(F.C.): Marcou-me, sobretudo, no aspecto dos valores. Nas
nossas aldeias, na minha infância, utilizava-se muito a palavra dada. O
respeito pelos idosos, a aprendizagem com os idosos. Quer dizer, ainda não
havia grande conflito de gerações no meu tempo. O jovem tinha que entender
que estava em aprendizagem e aprendia com os mais velhos. E o respeito que
se tinha... Para os mais velhos.
A minha mãe dizia muitas vezes, ou
estudas, ou vais aprender a ter a profissão do teu tio, sapateiro que também é uma profissão honrada, mas que não oferece o
privilégio de estudar e poder ascender no âmbito da mobilidade
social. Porque atualmente a escola dá uma grande mobilidade social, daí a
conflitualidade que há entre os jovens e os seus pais, muitas vezes. Porque
a escola projeta-te num nível social, muito rapidamente, quanto ao que me
aconteceu no passado, em que o jovem aprendia com os mais velhos. E que a comunidade não proibisse.
(M.C.): Que papel desempenhou o jornal “O Mensageiro de Bragança”,
na sua juventude?
(F.C.): O Mensageiro de Bragança foi o meu escudo. Para mim, houve muitas pessoas que me marcaram. Entre elas, Carlos Pires, Marcolino Cepeda, Ernesto Rodrigues, já numa fase posterior; Mário Leite, Teófilo Vaz. Foram pessoas que marcaram a minha vida académica pela positiva. Constituiu-se, sobretudo, um grupo académico de discussão da cidade, de valorização do património, e, sobretudo, do gosto pela escrita e pela leitura. Se não tivessem sido, se calhar, o Carlos Pires, o Marcolino Cepeda, o Padre Sampaio, eu hoje não seria a pessoa que sou em termos literários e em termos de valorização do nosso património.
Continua...
P. S.: Esta entrevista foi realizada, como acima está exposto, no dia 13 do corrente mês.
Mara e Marcolino Cepeda