terça-feira, 4 de fevereiro de 2025

REZINGA - Escritos dispersos (Livro publicado em 1999, composto por artigos de opinião, publicados em jornais da região)

Olá! Iniciarei, hoje, a publicação de alguns artigos do livro supracitado. O primeiro "Bairrismo", foi publicado no jornal "O Mensageiro de Bragança" em 19/11/93. A minha intenção é poder definir se ainda terão atualidade passados tantos anos. 

Esperamos feedback. Obrigado.

Marcolino Cepeda


BARRISMO

Diz-se de Bragança não ser bairrista, como se se tratasse de uma característica muito intrínseca, senão mesmo biológica, da sua população.

Parece-nos um tema interessante, não exatamente para aqui dissecar e aprofundar ou alongar com laivos de algum pretensiosismo de ordem psicológica ou social, mas antes para apontar determinados aspetos ou pormenores que, do nosso ponto de vista, poderão contribuir para uma análise mais alargada e que reputamos cada vez mais indispensável face aos tempos que correm e aos que virão e nos quais o nosso bairrismo está a ser posto à prova, de forma particularmente incisiva mas cuidada e objetiva e, provavelmente, determinante.

Obviamente não estamos a falar do bairrismo de bons e maus.

Também não nos referimos ao conceito de bairrismo ditado por uma expressão, de todos nós conhecida e que se me afigura ingénua e totalmente infundada.

Vamos ocupar-nos do esforço de uma região em vencer, por si própria, toda a espécie de dificuldades, a juntar às que lhe são impostas pela situação geográfica e pelos desfavores da natureza.

O que para nós é absolutamente fundamental é que, a partir de determinada altura, Bragança agitou-se, venceu o marasmo para que se tinha deixado arrastar e iniciou um percurso de desenvolvimento a vários níveis.

E é então que, a juntar-se àqueles que nunca se tinham conformado, surgem muitos outros e convictamente se começa a revitalizar e afirmar o nosso bairrismo. Revela-se um espírito verdadeiramente empreendedor, que se mantém, apesar de adversidades de vária ordem.

É a este dinamismo, a esta capacidade de gestão e de perspetiva, progredindo e fazendo progredir, que podemos chamar bairrismo.

Podemos chamar bairrismo a esforços individuais verdadeiramente notáveis, a juntar ao alargamento de implantação e o despontar de organismos e coletividades, todos eles voltados para a defesa dos melhores interesses da região.

Não sendo necessário recuar muito no tempo, surgem-nos exemplos bem significativos.

Desde finais do século passado, Bragança viu nascer ou acolheu personalidades marcantes das letras, das artes e do pensamento que impulsionaram o seu desenvolvimento a impor Bragança nos centros de decisão.

Muitos houve que, no seu esforço anónimo e desinteressado contribuíram para o desenvolvimento da sua terra.

E são esses esforços, a par de outros que, por qualquer motivo, mais se possam notabilizar, que constituem o verdadeiro suporte, a força que está sempre presente.

As décadas passadas marcaram o aparecimento de escritores que, pelo seu talento, se têm vindo a impor a nível nacional. É aqui, também, de assinalar os esforços que em várias ocasiões foram feitos para impor publicações cuja atribuição fundamental era a defesa da nossa terra.

Mas, num esforço de participação e empenhamento a vários níveis, outras coletividades têm surgido e se mantêm, por vezes, de forma atribulada o que é, aliás, comum, mas tendo sempre presente a necessidade de agrupar e trabalhar numa causa que torne mais agradável e útil o nosso quotidiano.

Tentamos, apenas, fazer uma breve abordagem ao esforço de muitos bragançanos que, ao longo dos anos se têm empenhado profundamente e têm dado o seu melhor na valorização deste espaço.

Muito desse esforço resultou inglório e tantas vezes mal compreendido. Mas, o que ficou é bastante e há de servir-nos sempre e, sobretudo como incentivo.

Continuemos, ainda, a falar do nosso bairrismo, aquele que entronca com a nossa personalidade coletiva, com a nossa forma de ser e de estar.

Por tudo isto, defendemos que bairrismo é lutar contra a mentalidade centralista e provinciana, que continua a imperar e a impor-nos receitas inadequadas e fora de prazo. Bairrismo é, por isso mesmo, a consciencialização de todos na assunção e defesa das nossas potencialidades, dos valores culturais que nos são próprios e que nos moldaram.

Bairrismo é, ainda, o sentimento comunitário das nossas aldeias que há que preservar, não como uma coisa fechada, mas procurando o equilíbrio com o progresso e o bem-estar convencional, mas ao qual, pensamos, se deve exigir que as populações tenham pleno acesso.  

Devemos ser bairristas na procura de uma melhor saúde, de um melhor ensino, de um desenvolvimento tecnológico e científico que permitam uma melhoria significativa das condições de vida das populações.

Assim, em jeito de conclusão, bairrismo é o sentimento comum pela nossa terra, entendido numa perspetiva de defesa das nossas potencialidades e valores culturais.


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