quarta-feira, 12 de março de 2025

Continuação da entrevista realizada ao Dr. Fernando Calado


          (F.C.): Eu disse-lhe, por favor, tenho sete anos de música no seminário, mal será que eu não saiba ensinar uma nota. “Queres vir para Bragança?” No dia seguinte estava em Bragança a leccionar Música. Entretanto, na Escola do Magistério, faltava um professor. Não arranjavam um professor de Movimento e Drama. Ninguém sabia muito bem o que era isso.

(M.C.): Acho que aí está o teatro, não é? (Risos)

(F.C.): O teatro de Milhão, mais o curso de teatro que eu tinha feito com a Seiva Trupe no Porto.

(M.C.): Ah! A vida é cheia de coincidências. Estava tudo preparado para calcorrear o caminho. Maravilha! 

(F. C.): Encontro o diretor do Magistério Primário e dou-lhe a informação sobre a minha ligação ao teatro. Ele diz-me que também tenho que pedir ao Padre Marcelino para ir para o Magistério. Deixo o ciclo, onde dei três ou quatro horas e fui para o Magistério. Então, essa é a minha vida profissional com o curso de movimento e drama no Magistério. Entretanto, comecei no ensino oficial. Corri meio mundo. Um professor no ensino... O ensino no ciclo preparatório, no ensino secundário. No Penedono, Macedo de Cavaleiros, Valpaços, Chaves. Meio mundo. 

(M.C.): É o que acontece aos professores, não é?

(F.C.): O que aconteceu é que eu estava na escola secundária Abade de Baçal que se chamava Escola Secundária da Sé e no ano seguinte abriu o estágio. Comecei a trabalhar no estágio que se chamava Formação em Exercício. Ao cabo de dois anos, tinha o estágio feito. Pedi uma vaga para professor e disse ao diretor que se eu fosse para a Escola Secundária da Sé, agora Abade de Baçal, que eu iria abraçar a profissão de professor, como professor efetivo.

(M.C.): E na sua área?

(F.C.): E na minha área eu seria o mestre. Andei lá vários anos até que fui convidado a exercer o cargo de Delegado dos Assuntos Consulares.

(M.C.): E o que é que faz um Delegado dos Assuntos Consulares?

(F.C:): Sobretudo acompanhava as questões da imigração. Os imigrantes, ao invés de tratarem determinados assuntos nos consulados da Europa ou nas embaixadas, podiam tratar aqui em Bragança na Delegação dos Assuntos Consulares. 

(M.C.): Podiam fazer o mesmo agora… 

(F.C.): Exatamente. E portanto, sobretudo no verão fazíamos uma ação interessantíssima com algum regionalismo (24:05) na fronteira de Quintanilha. Comprávamos uma vitela e estávamos lá oito dias recebendo os imigrantes, fazendo publicidade, dando cartazes, dando informações e oferecendo a carne assada. (24:24) 

(M.C.): Eu recordo-me disso. Falavam sempre na rádio e na televisão. Foi uma ação extremamente interessante porque os imigrantes sentiam-se acarinhados, não é?

(F.C.): Era uma organização pequeníssima. Só era eu como Delegado e uma secretária que funcionava na Almirante Reis. Mas foi importante porque era um espaço onde os imigrantes podiam tratar, não de todos os assuntos, mas de determinados assuntos. Entretanto, a Dr.ª Olema que era a Coordenadora do Centro da Área Educativa de Bragança (CAE) aposentou-se e convidou-me para aceitar o lugar. Aceitei e estive cinco anos no CAE como Coordenador. A partir daí voltei ao ensino e fui para a Escola do Magistério onde estive quatro ou cinco anos como professor de pedagogia. Fui para o Instituto Piaget também a lecionar durante alguns anos. Acabei por regressar à escola Abade de Baçal até que me propuseram ir para o Centro de Formação Profissional (CFP) organizar o serviço. Dar alguma ajuda e eu aceitei. Só que em vez de ter sido meio ano, foram oito anos como diretor de uma empresa.

Entretanto, cheguei à fase, em que, pela idade,  me podia aposentar. Regressei à escola secundária Abade de Baçal onde me aposentei e terminei a minha vida académica.

Portanto, além da atividade como docente e em várias rádios, também dirigi uma revista que o Marcolino tão bem conheceu e onde tanto trabalhou, Os “Amigos de Bragança”, onde colaborei assiduamente no “Mensageiro de Bragança” com artigos de opinião, enfim… Tive uma boa vida no concelho da Bragança. Enfim, foi uma vida bastante preenchida, muito rica. 

(M.C.): Sem dúvida uma vida muito interessante. Os seus dias deviam ter mais horas do que os nossos. Foi uma vida bastante intensa. Publicou com assiduidade artigos de opinião e textos literários em vários jornais e revistas. Participou em programas de rádio, realizou diversas palestras, conferências, ações de formação e foi ainda diretor e proprietário da revista cultural e etnográfica “Amigos de Bragança”. Fale-nos dessa experiência…

(F.C.): De facto, a minha vida literária começou, efetivamente, no “Mensageiro de Bragança”. Na faculdade, publiquei um livrinho pequenino, de poesia “Bragança” que me trouxe alguns dissabores… fui considerado revolucionário para a altura. A doutrina social da igreja, que, efetivamente, na altura, tinha alguma dinâmica que depois chamaríamos… censura(?)Depois disso, colaborei com assiduidade no “Mensageiro de Bragança”, e, mais tarde, fiz os “Amigos de Bragança” que teve uma história interessantíssima e que se perdeu. 

CONTINUA...

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