Andava eu, como quem não quer pensar em nada, por
este jardim atapetado de folhas de muitas cores.
Parei.
Não sei porque o fiz.
Apenas parei a olhar para o infinito, se é que o
infinito estava para me aturar o olhar descarado, abusado de quem não se
importa.
Roboticamente segui caminho, olhando para a direita
e para a esquerda e para trás como quem foge ou se sente perseguido.
Não sei o que procurava. Nada vi que me pudesse, de
alguma forma, atingir a não ser a beleza das árvores, quase despidas, sem
pudor.
O rio corria mais caudaloso, com alguma pressa, que
o mar ainda é longe, mas há de lá chegar, nem que seja em fio ou em pequenas
gotículas, dádiva das inesperadas nuvens.
Era uma manhã sombria que o jardim tentava animar
sem grandes retornos no olhar ou nos olhares de quem lentamente se vai
despedindo.
Sim. Havia pessoas sentadas nos bancos do jardim,
tristes, ávidas do vício que não conseguem largar.
Noutros bancos, sentados, o olhar perdido na Capela
da Nossa Senhora da Piedade, havia quem fosse lendo um qualquer livro mais
ligeiro ou interessante para o leitor ou leitora.
A necessidade tornava-se premente. A hora não tarda.
O vício vence, dinheiro não há. Uma moeda para comer alguma coisa, para tomar
um café...
Depressa fugiam, uns atrás dos outros, não sei para
onde.
Os bancos esvaziavam-se. As sombras deambulavam por
caminhos só seus, escondidos ou às claras, para matar a necessidade ou para se
matarem a si próprios como náufragos em terra seca.
Era uma manhã de outono, fria, sem coração, sem
esperança... Já não existia o vazio nem o caos. Apenas as sombras deambulavam
por ali.
Fotografia e texto de Maria Cepeda
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