Em
breve se completarão trinta anos sobre a presidência aberta de Mário Soares no
nordeste transmontano. Em pleno inverno (Fevereiro de 1987), o recém-eleito
Presidente da República instalou a presidência, durante uma semana, no edifício
da antiga câmara municipal, pouco antes transformado em Centro Cultural Paulo
Quintela.
Dali
acompanhou a vida política do país e partiu ao encontro das realidades do
distrito de Bragança, visitando municípios, agentes económicos e culturais, em
contacto com as populações, que terão visto na iniciativa uma oportunidade de
apelar à inversão de dinâmicas de litoralização e centralização que ameaçavam
tornar-se irreversíveis.
O
ambiente foi muitas vezes de festa. Soares participou em debates e seminários,
foi à caça, visitou infraestruturas e viajou de comboio na linha do Tua,
deixando a convicção de que o transporte ferroviário poderia permanecer e
modernizar-se.
Não
foi assim. O consulado de Cavaco Silva, como primeiro-ministro, desactivou a
linha do Tua, depois do que já acontecera, num governo de Soares, com a linha
do Sabor.
A
conclusão do IP4 só se consumou mais de onze anos depois da visita do
presidente e constituiu, aliás, uma fonte de tragédias até que, passados mais
quinze anos, a A4 chegou finalmente ao distrito que era, então, o único do país
sem nenhum quilómetro de auto-estrada.
Quando
os portugueses se confrontam com o fim da vida do ex primeiro-ministro e ex
Presidente da República, o jornal Nordeste regista a memória que os bragançanos
comuns e alguns então responsáveis políticos regionais guardam dessa
iniciativa.
Mário
Abreu Lima, ex. Presidente da Câmara de Carrazeda de Ansiães, lembra “com
saudade a presidência aberta em Bragança, a primeira visita de forma tão longa
ao distrito de Bragança, um dos distritos mais periféricos do país”. Soares
“esteve junto das populações, dos autarcas e das forças regionais. Foi
extraordinariamente importante, porque foi foco da atenção do país inteiro, uma
chamada de atenção fundamental para as necessidades, as urgências que se
queriam combater na diferença de desenvolvimento do país. Atrás dele trouxe
toda a comunicação social que transmite para o país inteiro toda a realidade e
essa foi a grande atitude política que saiu da visita do presidente”.
Também
Marcelo Lago, então presidente da câmara municipal de Mirandela, considera que
“na altura era muito importante uma visita do Presidente da República, porque
apesar de não ter decisão legislativa, chama sempre a atenção dos governos para
os problemas e alguma coisa acaba sempre por ser feita”.
José
Miranda, então presidente da câmara municipal de Vimioso, recorda que
acompanhou “a visita integral do Dr. Mário Soares. Foi a todos os concelhos do
distrito, visitou e conversou com as populações. Foi uma jornada
interessantíssima, o país ficou a falar de Bragança. Em Vimioso teve
fundamentalmente contacto com as populações, visitou a ponte do rio Sabor e o
castelo de Algozo. Foi uma visita muito importante para o distrito de Bragança
até porque ele teve um contacto muito directo com todos os presidentes de
câmara e naturalmente havia um caderno reivindicativo das câmaras municipais,
dos bombeiros e da polícia. Ao fim de um ano da sua visita ligou para saber os
resultados da presidência aberta. Convidou os presidentes de câmara para um
almoço nos jardins do palácio de Belém, muito agradável. Depois da visita de Mário
Soares o governo passou a olhar-nos de outra forma, tínhamos o presidente do
nosso lado”.
Também
Júlio de Carvalho, que veio a ser governador civil do distrito no ano seguinte
considera que “o impacto foi grande e foi importante para que Trás-os-Montes
fosse olhado com mais seriedade do que até então. Esta visita deu um grande
impulso para a construção de troços do IP4 e IP2, de forma a tornar Bragança
mais acessível”.
Jornalista: Teófilo Vaz / Olga Telo Cordeiro
Retirado de www.jornalnordeste.com
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