Apesar
de múltiplas iniciativas, ao longo dos últimos anos, voltadas para a cooperação
transfronteiriça, em nome de uma efectiva integração dos territórios, a caminho
da Europa realmente unida, continua a sentir-se que os laços continuam frouxos.
Tivemos
oportunidade de falar com o responsável espanhol da Fundação Rei Afonso
Henriques, entidade que foi criada para mobilizar esforços no sentido da coesão
inter-regional, aparentemente destinada a cerzir uma autêntica rede de suporte
ao desenvolvimento das duas regiões (Castilla-Léon e Norte de Portugal),
integrando outras instituições e organizações.
Pelos
vistos, a cooperação tem-se ficado por aspectos pitorescos e festejos, pouco
transformadores da inter-relação quotidiana das populações de um lado e do outro.
Isto leva-nos a reflexões sobre a verdadeira capacidade de construção de uma
união, objecto de muitos hossanas mas, afinal, reduzida a quase nada.
Valerá
a pena relembrar um caminho, que já poderia fazer-se a pé enxuto, depois de
mais de duas décadas. Desde logo, com a integração simultânea deste país e do
vizinho na CEE, há trinta anos. Já antes se tinham desenvolvido esforços de
cooperação. A geminação Bragança-Zamora foi um passo que semeou esperanças, mas
que se tem ficado por um ramerrame, qual lamparina quase a ficar sem pavio, num
templo descuidado pelos curadores. De facto, nas três décadas que já se
completaram, na geminação pouco mais aconteceu que cortesias e meia dúzia de
encontros, com jogos de bola à mistura.
Entretanto,
num contexto mais amplo, surgiu o Eixo Atlântico, integrando a Galiza e o Norte
de Portugal, que procura mobilizar recursos e investimentos para um território
que também integra esta terra, embora instalada na sua periferia. O peso da
Galiza e do Litoral Norte fazem-se sentir e, naturalmente, o nordeste volta,
mais uma vez, à condição de ficar ao lado da mesa, à espera do que sobra.
A
Fundação Rei Afonso Henriques, uma designação que pode suscitar equívocos para
quem estudou a narração nacionalista da história peninsular, poderia
constituir-se como um patamar de intervenção com possibilidades de ter efeitos
práticos na coesão inter-regional, com vantagem para todos.
No
entanto, ao fim de duas décadas, em resultado de derivas, centralistas em
Portugal, com o esvaziamento das competências das CCDR e de um regionalismo
que, do outro lado, ameaça fragmentar o estado espanhol, a cooperação caminha
para o que dizemos, resignados, serem águas de bacalhau.
Ao
mesmo tempo, os mais interessados, que seríam os povos fronteiriços, têm levado
às lideranças políticos que não demonstram ter capacidade para subir à montanha
donde se vislumbra o futuro, ficando-se pelo que alcança um só palmo à frente
dos olhos.
Por
isso, não procuram a conjugação de interesses, para bem das regiões e,
especialmente, das suas gentes.
Só
assim se compreende que, apesar da alta velocidade ferroviária logo aqui, na
Sanábria e do túnel do Marão, com o que significa de alteração decisiva dos
tempos e condições de deslocação, os responsáveis dos dois lados da fronteira não
reconheçam o essencial, enredando-se em jogos de efémera glória. Situação
agravada por responsabilidade dos poderes centrais, quando se sabe que a
Fundação Afonso Henriques já programou iniciativas que foram inviabilizadas por
recuos da Junta de Castilla-Léon, mas também pelas omissões da CCDRN, o que
estará a conduzir à situação desesperante que o seu secretário geral refere,
naturalmente com mágoa que aqui partilhamos.
Mais
uma fonte de desilusão, quando vivemos uma primavera que nem as cerejas nos deixa
morder.
Por Teófilo Vaz
Retirado de www.jornalnordeste.com
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