Quando
tentamos apoiar-nos na esperança e nos esforçamos, ainda, na recuperação do
direito ao futuro, dias ásperos como rascalhos fazem-nos voltar à dura
realidade.
1. É
hoje a festa anual das mulheres, instituída só no século XX, depois de milénios
de secundarização dessa mais de metade da humanidade, decisiva para que possa
haver amanhã de gente no planeta.
A celebração tem vinda a confinar-se em redutos politicamente marcados, o que contribui para lhe retirar importância, ao mesmo tempo que grupos de autêntica acção directa querem impor-lhe desígnios que lhe distorcem o sentido, nomeadamente quando transformam o dia no mote para o combate aos homens. Tal entendimento poderá conduzir-nos a uma sociedade paranóide, insana, que se compraz na sua auto-destruição.
Estamos num mundo em que ainda há muito caminho a percorrer para dar dignidade a milhões de mulheres, que sofrem a opressão feroz de machos brutos e sanguinários, degoladores e adeptos cobardes da lapidação pública, a pontificarem em sociedades vergonhosamente legitimadas pela organização que criou este dia internacional.
O combate deveria ser contra eles e a hipocrisia dos salamaleques diplomáticos, em vez de promover divisões dos que, claramente, já não queremos confundir-nos com as bestas.
As mulheres são, na verdade, a garantia de que haverá sempre primavera. Mas, no que diz respeito a este interior do país, onde precisávamos de muitas mulheres em flor, anunciando o fruto da vida, sente-se que o inverno veio para ficar.
Naturalmente, as mulheres/árvores que resistem e hão-de morrer de pé, continuam a merecer a homenagem dos que não soubemos garantir-lhes e ao seu chão as festas da vida no porvir.
A celebração tem vinda a confinar-se em redutos politicamente marcados, o que contribui para lhe retirar importância, ao mesmo tempo que grupos de autêntica acção directa querem impor-lhe desígnios que lhe distorcem o sentido, nomeadamente quando transformam o dia no mote para o combate aos homens. Tal entendimento poderá conduzir-nos a uma sociedade paranóide, insana, que se compraz na sua auto-destruição.
Estamos num mundo em que ainda há muito caminho a percorrer para dar dignidade a milhões de mulheres, que sofrem a opressão feroz de machos brutos e sanguinários, degoladores e adeptos cobardes da lapidação pública, a pontificarem em sociedades vergonhosamente legitimadas pela organização que criou este dia internacional.
O combate deveria ser contra eles e a hipocrisia dos salamaleques diplomáticos, em vez de promover divisões dos que, claramente, já não queremos confundir-nos com as bestas.
As mulheres são, na verdade, a garantia de que haverá sempre primavera. Mas, no que diz respeito a este interior do país, onde precisávamos de muitas mulheres em flor, anunciando o fruto da vida, sente-se que o inverno veio para ficar.
Naturalmente, as mulheres/árvores que resistem e hão-de morrer de pé, continuam a merecer a homenagem dos que não soubemos garantir-lhes e ao seu chão as festas da vida no porvir.
2. Como
se não bastasse esta dor, o fogo encarregou-se de nos lançar ao rosto labaredas
de sarcasmo. As salas de cinema, em Bragança, parecem amaldiçoadas. O velhinho
cine teatro Camões ardeu no fim dos idos de 60 e reardeu, pelo menos o que dele
restava, no princípio dos anos 70. A cidade esteve longo tempo sem cinema.
Em 1974, um novíssimo cinema abriu portas e repôs Bragança no mapa da cinematografia. Era uma sala notável, com condições técnicas e de conforto como havia poucas no país.
A crise dos grandes cinemas, na viragem do milénio, agravada pela instalação de mais quatro pequenas salas na cidade, assim como vicissitudes das empresas que geriam o cinema, levaram ao abandono da actividade.
Estava anunciada uma recuperação do cinema e do hotel contíguo para tempos próximos, assumida por uma cadeia de hotéis. O desleixo e a incúria permitiram que o vandalismo mais ou menos criminoso redundasse num incêndio que devorou o cinema na madrugada de sábado passado, deixando-nos com a sensação de que também o fogo está à espreita para não deixar senão cinzas nas nossas memórias.
Em 1974, um novíssimo cinema abriu portas e repôs Bragança no mapa da cinematografia. Era uma sala notável, com condições técnicas e de conforto como havia poucas no país.
A crise dos grandes cinemas, na viragem do milénio, agravada pela instalação de mais quatro pequenas salas na cidade, assim como vicissitudes das empresas que geriam o cinema, levaram ao abandono da actividade.
Estava anunciada uma recuperação do cinema e do hotel contíguo para tempos próximos, assumida por uma cadeia de hotéis. O desleixo e a incúria permitiram que o vandalismo mais ou menos criminoso redundasse num incêndio que devorou o cinema na madrugada de sábado passado, deixando-nos com a sensação de que também o fogo está à espreita para não deixar senão cinzas nas nossas memórias.
3. Ao
inverno perpétuo e às cinzas que nos toldam o ar, junta-se a cada vez mais
perceptível presença de ladroeira, como se as hienas viessem ao cheiro dos
despojos. De facto, qualquer dia já nem que roubar por aqui haverá. Por isso,
as matilhas de necrófagos cobardolas parecem em corrida contra o tempo.
Por
Teófilo Vaz
Retirado
de www.jornalnordeste.com
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