Mais conhecida por "Banho", ou "Caldas de
Lafões", esta construção localiza-se no epicentro das actuais Termas de S.
Pedro do Sul, cujas nascentes de água se situam na margem esquerda do rio
Vouga.
Conhecido desde longa data, o sítio motivou especial
interesse de estudiosos locais numa época em que tomavam maior feição e força
no âmbito das análises históricas, artísticas e arqueológicas conduzidas um
pouco por todo o território português, não poucas vezes patrocinadas por
associações de índole local e/ou regional, à semelhança de todo um movimento
registado no restante continente europeu desde, pelo menos, o dealbar do século
XIX. Não surpreende, por conseguinte, que aquele que poderá ser considerado
como o primeiro grande estudo sobre o assunto viesse a lume ainda em finais da
mesma centúria, por mão do escritor e periodista Joaquim Augusto de Oliveira
Mascarenhas (1847-1918), numa época particularmente pontuada pela frequência
termal, não apenas na sequência das mais recentes descobertas científicas no domínio
da Medicina, como na esteira das práticas nobiliárquicas e da alta burguesia
observadas além-fronteiras.
Constituindo um dos complexos termais de origem romana
mais bem conservados dos existentes no actual território nacional, as termas de
S. Pedro do Sul (possivelmente correspondendo à romana Aquae Sulis, evocativa
de Sulis, deusa da Cura relacionada com as fontes de água quente) ostentam uma
monumentalidade compreensível à luz, tanto da qualidade das nascentes de águas
sulfurosas e radioactivas (DIONÍSIO, Sant'Ana, 1984, p. 757), quanto da posição
que deteria no sistema de rede viária. "[...] e se o sítio das termas não
corresponde a um aglomerado urbano, este poderá ter sido o vizinho castro do
Banho, distante escassas centenas de metros." (ALARCÃO, Jorge, 1990, p.
380).
Entretanto, a designação de "Piscina de D. Afonso
Henriques" (assente em estruturas romanas preexistentes) relacionar-se-á
com uma certa tradição secular, segundo a qual o monarca teria frequentado as
termas pelas capacidades das suas águas, neste caso essenciais à cura do
sofrimento que lhe causava a fractura sofrida após a retirada precipitada da
malograda Batalha de Badajoz. A excelência termal revelou-se, em todo o caso,
suficiente para que a estância fosse frequentada por outros soberanos
portugueses, a exemplo de D. Manuel I (1469- 1521), o Venturoso. Mas foi também
o caso da Rainha D. Amélia (1865-1951), já em finais de oitocentos, razão pela
qual as termas ficariam conhecidas por "Caldas da Rainhas", pelo
menos até 1910, ano da implantação da República (DIONÍSIO, Sant'Ana, Idem, p.
758).
O interesse arqueológico pelo sítio teve sobretudo lugar
a partir de meados dos anos cinquenta do século passado, por mão de Fernando
Russell Cortez, que veio a ser director do Museu de Grão Vasco, em Viseu.
As escavações foram retomadas volvidas três décadas,
decorrendo essencialmente ao longo da segunda metade dos anos oitenta.
As investigações então conduzidas determinaram que a
piscina romana fora revestida a opus signinum, correspondendo, muito
provavelmente, à zona de banhos frios - frigidarium -, uma vez que parece
encontrar-se destituída de vestígios da cobertura essencial no caso de se
tratar da sala destinada à água tépida - tepidarium - ou quente - caldarium. É
possível, no entanto, que se tratasse do natatio, tanque de grandes dimensões
tradicionalmente rasgado a céu aberto, cujas águas eram, neste caso, escoadas
para o rio Vouga através do esgoto ainda visível na actualidade.
A análise dos aparelhos utilizados no levantamento dos
alçados permite apontar o princípio do século I d. C. para um primeiro momento
construtivo, e finais do século I/inícios do II para um segundo momento, dos
quais se podem ainda observar elementos tão característicos desta tipologia
arqueológica, como fustes, capitéis e lápides epigrafadas.
[AMartins]
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