Que vida, meus caros! Maus
anos sempre os houve, com sangue, suor, lágrimas, suspiros, desânimos, angústias,
mas este, que já vai em pleno verão, está a revelar-se de uma dureza que
sentimos agravar-se a cada dia que passa, mesmo quando tentamos abrir as janelas
da esperança.
Embora saibamos que é fundamental
manter a serenidade, começa a faltar o discernimento, porque se multiplicam as
ameaças à saúde pública, à economia, à dignidade, aos equilíbrios sociais, aos
valores que a humanidade logrou atingir, num esforço enorme de gerações sem
conta, sujeitos outra vez a ficar em cacos, uma verdadeira miséria.
Naturalmente, as surpresas más,
recorrentes neste calvário de quase meio ano, empurram para a prostração, que
nunca nos levará a bom porto. A questão é que não deveria tratar-se de
surpresas, porque as lideranças políticas tinham a obrigação irrecusável da
verdade possível, cercada de incertezas, mas expressão autêntica da lealdade
que merecemos.
Também se impunha clareza
nas decisões e firmeza na sua aplicação, sem manobras ilusórias, porque não se
trata de entreter basbaques com um número de circo patético, quase só esgares e
vozearia, que não ajuda a encontrar o fio da história.
Roçou-se o ridículo quando o
país mergulhou na melancolia, depois da quase euforia do bom desempenho proclamado
durante a primavera, porque, afinal, vários outros países deram sinais de
desconfiança, recusando entrada aos portugueses, até que os velhos amigos
bretões se permitiram impor quarentena aos que por cá passassem.
Não se chegou à recuperação da
versalhada da “Portuguesa” original, que nos queria a marchar contra eles, mas
não faltou tudo. No entanto, também foram surgindo lusas vozes que contribuíram
para repor as coisas no devido lugar.
Os defeitos que nos
conhecemos não se haviam desvanecido, continuávamos desorganizados,
displicentes, dissimulados, enganando-nos a nós próprios, convencidos de que os
outros não perceberiam o que estava a acontecer.
Entretanto já se fizera o
número das finais da liga dos campeões de futebol, verdadeiro gozo para os
sisudos da Europa do norte e já não foi possível recuar na encenação pífia da
reabertura das fronteiras em Badajoz e Elvas.
A indústria das praias do sul
vai-se ficando por gemidos e ais e o restante sector, por todo o país, também não
vê chegar as sobras que lhe calhariam, enquanto, em Lisboa, o verão se pode
tornar no maior descontentamento das últimas décadas.
Quanto a nós, deste
território obtuso, que também alimentávamos um engano ledo e cego de dias mais tranquilos,
será melhor que nos preparemos para ter precauções com o que aí vem em Julho e
Agosto, das europas ou da faixa costeira, para que a tragédia não atinja muita
desta rapaziada, que já não tem idade para as festarolas da dança do vírus.
Lembremo-nos que o Alentejo,
tranquilo e pachorrento, apareceu durante meses como um refúgio a ter em conta.
Mas, as últimas semanas trataram de, também por lá, semear a desilusão.
Escrito
por Teófilo Vaz, Diretor do Jornal Nordeste
Retirado
de www.jornalnordeste.com
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