
Exemplificou: entrando no território português, à mesa de almoço não encontrou nenhum vinho espanhol na carta do restaurante; se fizermos vinte quilómetros em território espanhol conheceremos o reverso da medalha, porque do lado de lá também não encontraremos nenhum vinho português para regar o repasto.
Aparentemente insignificante, a situação é a expressão de que a vida real continua a afastar-nos em vez de nos aproximar. O comunicador, a viver em Salamanca, alertou para um problema ainda maior, que atrapalha a comunicação dos dois lados da raia, a resistência dos espanhóis em lidar com a língua portuguesa, apesar da capacidade de adaptação que se nota do lado de cá. Defendeu mesmo ser incompreensível que não se caminhe para o bilinguismo nas escolas destas regiões, o que traria outros níveis de relação e resultados práticos.
A nossa história comum nem sempre foi condicionada por fronteiras e preconceitos. Basta lembrar que nos séculos XV e XVI, mesmo depois de Aljubarrota e de Tordesilhas, a mobilidade transfronteiriça era habitual. Nos últimos quatro séculos, a partir de 1640, em nome de desígnios alheios aos portugueses e a todos os da Hispânia, os poderes na península foram cedendo às pressões de potências estranhas e às modas nacionalistas.
Assim se elevaram muros invisíveis mas incontornáveis, que nos tornaram mais dependentes das migalhas dos poderes centrais. O distanciamento cresceu até há três décadas, quando os dois países entraram na União Europeia. Acreditou-se que a partir de então outra seria a nossa história comum. Mas havia um caminho exigente à nossa espera e a situação a que se chegara prometia pouco porque já estávamos em profunda recessão demográfica, com estruturas produtivas debilitadas e uma fortíssima atracção dos grandes centros sobre as novas gerações, que não dá sinais de reversão.
A título de exemplo, Bragança e Zamora estão geminadas há mais de 35 anos e são quase insignificantes os efeitos dessa aliança no dia a dia das duas cidades. A nova secretária de Estado para a Valorização do Interior diz ter consciência do problema e que será a interlocutora para o desenvolvimento da cooperação transfronteiriça, o que poderá constituir um primeiro passo na busca de outros caminhos. Veremos se ainda há tempo.
Escrito por Teófilo Vaz, Diretor do Jornal Nordeste.
Retirado de www.jornalnordeste.com
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