quarta-feira, 20 de abril de 2022

TIRANIA

Há dias em que a cama é uma nuvem de algodão. Sabemos que não pode ser, que não podemos continuar naquela modorra, mas estamos tão bem ali...

Não vale a pena insistir, esticar um pé para fora dos edredons... Não. Ela agarra-nos como se fosse o nosso garboso príncipe encantado, montado no seu belo cavalo branco, olhar de mel, sorriso de seda, lindo de suspirar.

Temos de ir, mas queremos ficar... Apetece mandar a responsabilidade para lá de Bagdad. Dizer-lhe que hoje quem manda sou eu. 

A vida é tão curta. A juventude tão efémera. A beleza tão fugaz.

Só mais cinco minutos, só cinco minutinhos, pequeninos como os flocos de algodão que envolvem o meu corpo neste céu.

Os cinco minutos acabaram. O telemóvel continua a chamar-nos. O tempo passa a voar nas asas de todos os pássaros do mundo que não param para ficar.

O sair daquele paraíso é uma violência intolerável. Sinto-me prisioneira e as algemas imaginárias que me atam as mãos, aniquilam a minha rebeldia. 

Os pés, pousados no tapete, ainda resistem. A cabeça, contra vontade, luta a sua guerra e vence-se a si própria. 

Banho que já estou atrasada, muito...

Um café para despertar, como se fosse possível.

O carro na garagem...

Um beijo apressado. A máscara esquecida. 

Ai que atrasada estou.


Maria Cepeda (Foto e Texto)

Sem comentários:

Enviar um comentário