sábado, 6 de fevereiro de 2021

Ministro garante que se forem pagos impostos pela venda de barragens ficarão no território

 


Questionados pelos deputados, governantes não esclareceram se impostos foram pagos

Olga Telo Cordeiro

Numa audição parlamentar ao ministro do Ambiente e ao secretário de Estado Adjunto e dos Assuntos Fiscais sobre a venda de seis barragens em Trás-os-Montes (Miranda do Douro, Picote, Bemposta, Baixo Sabor, Feiticeiro e Foz Tua) da EDP a um consórcio encabeçado pela Engie, os governantes não esclareceram se vão ser pagos impostos no âmbito deste negócio, nomeadamente o imposto de selo. O ministro do Ambiente, João Matos Fernandes, disse, no entanto, que caso haja essa contribuição fiscal a verba será aplicada nos municípios. “O grupo de trabalho criado beneficiará dos impostos que vierem a ser pagos no âmbito deste negócio e não só. Uma coisa é certa, o Governo cumpre a lei: se houver imposto a pagar ou pago, o montante será com certeza entregue aos municípios”, assegurou o ministro. Matos Fernandes esclareceu que o grupo de trabalho “vai trabalhar rápido e ainda em Março apresentará propostas para um roteiro de desenvolvimento sustentável da região”. Em causa estava a alteração ao Orçamento do Estado para 2021, proposta pelo PSD, para a criação de um fundo com receitas do trespasse da concessão de barragens, que seria constituído por receitas fiscais da transação. Só o imposto de selo representaria cerca de 110 milhões de euros no negócio de 2,2 mil milhões de euros. O secretário de Estado Adjunto e dos Assuntos Fiscais, António Mendonça Mendes, disse que o dever de sigilo fiscal sobre o contribuinte não lhe permite revelar se este imposto foi pago. Certo é que o negócio não foi sujeito a IMI nem IMT, visto que as barragens não são consideradas prédios para fins tributários. “Aquelas barragens nunca tiveram incidência de IMI, porque são de utilidade pública, não se qualificando como prédios, numa transmissão não são objecto de IMT”, afirmou. O ministro do Ambiente voltou a argumentar que “sendo uma operação entre privados, o Estado apenas verifica os requisitos mencionados” e que as entidades públicas “não tinham, por isso, o direito de reclamar qualquer contrapartida”. Ainda assim o ministro garante que o Estado “tudo fez para assegurar que a instalação da empresa ficasse na região, em Miranda do Douro”. O secretário de Estado reafirmou que a Autoridade Tributária não tem de validar previamente as operações jurídicas entre privados nem de ser consultada sobre o pagamento de impostos, mas garantiu, no entanto, que o negócio será fiscalizado caso tenha havido abuso. “Se nesta operação existiu algum planeamento fiscal abusivo ou agressivo a primeira interessada em corrigir a situação é a administração fiscal e não tenho a menor dúvida que perante factos que lhe permitam aplicar a cláusula anti abuso o fará”, afirmou. A audição do Ministro do Ambiente e da Acção Climática e do Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais a propósito da venda pela EDP de 6 barragens na bacia hidrográfica do Douro a um consórcio liderado pela ENGIE foi pedida pelo Bloco de Esquerda e pelo PSD. Entretanto, o Movimento Cultural da Terra de Miranda pediu a intervenção da Procuradora Geral da República (PGR) neste processo. Perante o que dizem ser o silêncio do ministro às questões colocadas pelos diferentes grupos parlamentares, os representantes deste movimento pedem que a procuradora “indague por que motivo foi autorizada a venda das 6 barragens pela EDP sem exigir qualquer contrapartida para o erário público”. Este movimento quer que a PGR averigúe ainda porque motivo o ministro não impediu que “o contrato de venda contivesse cláusulas de planeamento fiscal agressivo para evitar o pagamento do Imposto do Selo e outras contribuições tributárias”.

Escrito por: Jornalista Olga Telo Cordeiro

Retirado de www.jornalnordeste.com
 

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