A história do reino de Portugal, hoje
república de uma nação que tem dado provas de resistir às surpresas que o tempo
tece, condicionou o devir destas terras e destas gentes, para o bem e para o
mal. Durante muito tempo não se pressentiu que a tragédia se insinuava, porque
as fronteiras não surgiam eriçadas, os fluxos humanos e materiais não estavam
barrados por proteccionismos decididos por poderes centrais que,
deliberadamente ou não, em nome do sucesso nacional, criaram condições
objectivas para que extensões amplas do território conhecessem ameaças difusas
à sua viabilidade.
Os séculos de oitocentos e novecentos
tornaram evidentes as consequências da sobrevalorização do imediatismo que, pelos
vistos, pode comprometer irremediavelmente a viabilidade de uma economia, de
regiões inteiras, de um país, talvez até de um continente.
Então já fôramos envolvidos pelas malhas
tecidas por outros impérios, que nos impuseram dependências e nos tornaram
simples instrumentos dos seus objectivos utilitários, desapiedados das misérias
que marcavam a vida de gerações inteiras, num mapa crescente da desgraça. O
alívio estava sempre prometido noutros lugares, brasis, áfricas, franças e
araganças ou, pelo menos, na feira lisboeta de vaidades.
Pouco ou nada foi feito, décadas e décadas,
pelas lideranças nacionais, na monarquia constitucional, na breve república e
no longo Estado Novo, com a excepção heróica do grande projecto de Camilo de
Mendonça para a agroindústria no distrito de Bragança, que morreu às mãos das
febres infantis do novo regime democrático, que não tem dado mostras de recuperação
do sentido de responsabilidade na gestão do território, das oportunidades
económicas, da equidade na relação com os cidadãos, nem de capacidade para
conceber uma estratégia de desenvolvimento global e equilibrado do país.
A condição de interioridade, em vez de estar
delimitada, alastra continuamente, e qualquer dia 90% do país será constituído
por arrabaldes esconsos de um longo areal, também ele sem futuro. O
desinvestimento agressivo das últimas décadas anulou muitos esforços, aniquilou
esperanças, instalou o desânimo. No entanto, nem todos desistimos ainda, apesar
da tempestade histórica perfeita, que pode varrer a vida e a coragem que ainda
restam.
Escrito por Teófilo Vaz, Diretor do Jornal
Nordeste
Retirado de www.jornalnordeste.com
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