Autarcas e ambientalistas contra mina espanhola junto à
fronteira com Bragança
Autarcas e ambientalistas portugueses mostraram-se hoje
contra a instalação de uma mina de volfrâmio e estanho a céu aberto prevista
para a localidade espanhola de Calabor, junto à fronteira, situada a cinco
quilómetros do concelho de Bragança.
"A instalação da mina está prevista para um território
de fronteira de grande importância ambiental e que está classificado como Rede
Natura 2000, num território que é também de grande importância
hidrográfica", disse à Lusa o presidente da associação Palombar -
Conservação da Natureza e do Património Rural, José Pereira.
O também biólogo disse que "o principal problema do
empreendimento mineiro é a afetação da bacia hidrográfica do Douro através das
suas linhas de água".
"Todos os detritos produzidos pela mina serão
trazidos para território português, através de cursos de água, que são comuns a
Portugal e Espanha", vincou.
O FAPAS (Fundo para a Proteção dos Animais Selvagens) também
se mostrou solidário com a posição da associação Palombar (Portugal) e com os
ecologistas en Acción de Zamora, (Espanha) e com outras associações de defesa
do ambiente que também " deram parecer negativo" ao empreendimento
mineiro espanhol.
" O projeto de exploração de volfrâmio e estanho a céu
aberto terá consequências negativas para o ambiente, nomeadamente poluição da
água subterrânea, uso de explosivos e poluição do ar, entre outros", disse
Nuno Gomes de Oliveira, membro da direção do FAPAS.
Esta exploração mineira está localizada perto de Calabor,
a cerca de cinco quilómetros da fronteira com Portugal nas proximidades do
Porque Natural de Montesinho.
"Vale mais um território conservado que a treta de uma
mina a céu aberto. As explorações mineiras podem gerar milhares de euros, e não
estamos contra a atividade económica, mas sim a favor da preservação dos
ecossistemas e das bacias hidrográficas ", concretizou o ambientalista.
Hernâni Dias, presidente da câmara de Bragança, disse que
"este projeto mineiro junto à fronteira terá de ser revisto, bem como o
processo de impacto ambiental ".
O autarca lamentou "o facto de não terem sido avaliados
os reais efeitos da redução de caudais nas linhas de água transfronteiriças,
uma vez que vão ser necessárias grandes quantidades de água para tratar tudo
aquilo que vai sair da exploração mineira".
O responsável também se mostrou preocupado com a eventual contaminação
das águas superficiais e subterrâneas devidos à maquinaria pesada a ser
instalada durante a exploração mineira.
O presidente da União de Freguesias de Avela e Rio de
Onor, Mário Gomes, indicou à Lusa que o empreendimento espanhol "de forma
alguma se pode concretizar neste território".
"Os principais impactos da exploração mineira serão nas
linhas de águas que fazem parte da bacia hidrografia do Douro, principalmente,
nos rios Pepim e Igrejas, e um destes cursos de água já se encontra assoreado em
alguns quilómetros extensão, resultante da atividade mineira que no passado se
desenvolveu nesta região", vincou.
O autarca mostrou-se, igualmente, " preocupado"
com o possível impacte visual resultante da exploração a céu aberto, que poderá
afetar o turismo de natureza que "está em franco desenvolvimento"
nesta freguesia.
O Bloco de Esquerda (BE) criticou na quarta-feira o
"silêncio" do Governo perante a exploração mineira a céu aberto
prevista para a localidade espanhola de Calabor.
"A Comissão Coordenadora Distrital do BE de Bragança vê
e sente com espanto a postura displicente e o silêncio do Governo português
perante a exploração mineira a céu aberto que se prevê em Calabor, com evidente
e pesado impacto na saúde das populações, assim como nos cursos de água da
bacia hidrográfica do Douro e ainda no Parque Natural de Montesinho, podendo
mesmo afetar a nível de extinção espécies protegidas de fauna e flora",
indicavam os bloquistas, em comunicado enviado à Lusa.
Na opinião do BE de Bragança, o Governo "não pode ser
conivente e permitir abusos junto à fronteira, de cujos resultados advenham
consequências gravosas para o ambiente e a população portuguesa".
O Bloco exige ao Governo "uma tomada de posição oficial
na defesa destas populações e destes territórios".
Aquela força política acrescenta que, o próprio Estudo de
Impacto Ambiental (EIA) "aponta para resultados severos, sendo que o
efeito mais óbvio é produzido pela destruição do habitat [de várias espécies]
", causando "prejuízos na fauna e na flora".
Também o CDS questiona Governo sobre exploração de
volfrâmio e estanho a dois quilómetros do Parque de Montesinho
O deputado do CDS João Gonçalves Pereira quer saber se o
Ministro do Ambiente e Ação Climática está a par do projeto de extração de
volfrâmio e estanho previsto para a região transfronteiriça de Bragança, a
cinco quilómetros de Rio de Onor e a dois do Parque de Montesinho, e se foi
estabelecido algum tipo de contacto por parte do Governo espanhol, ou de
qualquer outra entidade pública, no sentido de conjuntamente ser negociado e
analisado o referido projeto.
O prazo de consulta do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) do
projeto mineiro espanhol termina hoje.
Foto: trabalhos de preparação : A. SAAVEDRA
Retirado de: www.diariodetrasosmontes.com
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