A povoação de Izeda, que chegou a ser efémera sede de concelho no século
XIX, foi reconhecida como vila há alguns anos, condição que de pouco lhe tem
valido, apesar das esperanças que os seus naturais acalentaram.
Trata-se de um exemplo expressivo dos resultados de políticas que
desprezam o território, as suas potencialidades e, principalmente, as pessoas
em nome das quais se deveriam conduzir os destinos do país.
Situada no sul do concelho de Bragança, numa zona de transição para a
terra quente do distrito, produtora de azeite de qualidade reconhecida, a sua
localização permitiu-lhe papel de alguma importância nas circulações oriundas
de terras de Miranda e Vimioso para Macedo de Cavaleiros, além da relação com
outras povoações de dimensão acima da média para o nordeste transmontano como
Morais, Lagoa ou Talhas, do município de Macedo, Santulhão, de Vimioso e também
Parada e Coelhoso, de Bragança.
Aparentemente teria condições para se afirmar como centro intermédio num
contexto demográfico que há várias décadas se encontra sob grave ameaça, agora
consumada pela inviabilidade de funcionamento duma escola, construída de raiz
há cerca de vinte anos, com condições de qualidade estrutural e para a prática
pedagógica, mas que só viu inscritos dois alunos no 5.º ano e três no 6.º.
O que vai acontecer é uma agonia de mais dois ou três anos, até que o
equipamento encerre portas e Izeda espere por soluções para a sua reutilização,
porque não se vislumbra um fenómeno demográfico de dimensões bíblicas por
aquelas terras.
A situação da escola não é novidade, era esperável mais dia menos dia,
apesar dos esforços dos autarcas locais, desde a última década do século XX,
para resistir e potenciar o estatuto da localidade.
Por essa altura foi instalado em Izeda um estabelecimento prisional, que
substituiu um centro de reintegração para jovens, decisão que foi tida como
possibilidade de estancar o êxodo para Bragança ou para o litoral. Esperava-se
que funcionários e guardas prisionais optassem por ali se radicar, o que
permitiria crescimento urbano e crianças para a escola. Acrescentava-se a
espectativa de que as visitas à população prisional animassem a vida económica
da vila.
Mas, sobretudo, tendo em conta que entre reclusos e funcionários se
atingiriam as três centenas de pessoas, houve quem acreditasse que a
instituição seria suporte para o comércio local. Afinal, o estabelecimento
prisional não consome nada que ali seja fornecido, guardas e funcionário
residem fora e a povoação tem vindo sucessivamente a perder serviços,
comprometendo ainda mais o futuro.
Outras vilas do distrito, mesmo algumas sedes de concelho, deverão ter em
conta o ditado “quando vires as barbas do vizinho a arder, põe as tuas de
molho”, porque lhes pode acontecer algo de semelhante, consumando o destino
cruel para o nordeste que ninguém parece querer alterar ao nível dos poderes nacionais,
mas também no que respeita às lideranças locais, que se limitam a gerir as
ruínas que as hão-de soterrar, em vez de se encontrarem nas razões que a
solidariedade lhes sugere a cada nova tragédia.
Escrito por: Teófilo
Vaz, Diretor do Jornal Nordeste
Retirado
de www.jornalnordeste.com
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