Parte
do território do distrito encontra-se nesta altura em seca extrema, podendo
este nível alargar-se a outras partes da região ainda este mês. Na
agro-pecuária os efeitos já se fazem sentir, com a diminuição do calibre da
castanha e da azeitona e também começa a faltar comida e água para os animais.
O
mês de Setembro, em Portugal Continental, foi o mais seco dos últimos 87 anos.
A situação mais preocupante acontece no interior, estando já uma parte do
território transmontano no nível de seca extrema, o mais preocupante da escala
definida pelos Instituto Português do Mar e Atmosfera (IPMA). No mais recente
relatório de monitorização da seca, divulgado este mês e que reporta a 30 de
Setembro, a zona do planalto mirandês e o concelho de Macedo de Cavaleiros
passaram do nível de seca severa para extrema, sendo a par de parte do Alentejo
a única zona em todo o território continental nestas condições.
As
previsões não são animadoras para quem vive da agro-pecuária, uma vez que o sol
e as temperaturas de verão, entre os 27 e os 34 graus, vieram para ficar e vão
manter-se assim, no Nordeste Transmontano, durante os próximos dias, segundo
previsão do IPMA. O que significa que a situação de seca pode alastrar-se a
outras zonas no distrito. “Com as temperaturas mais elevadas, a evaporação
também é maior e sem ocorrência de precipitação a situação a meio do mês de
Outubro tenderá a agravar-se e a área em seca extrema na região irá aumentar”,
alertou Vanda Pires, meteorologista do departamento do clima do IPMA.
Apesar
de a região ser propícia a situações de seca, este ano, as condições são mais
graves e particularmente atípicas. “As situações de seca nesta região costumam
iniciar-se no Inverno e durar até Setembro. Nesta época do ano, normalmente
costuma haver já alguma precipitação e essa situação de seca diminui. Neste
momento, estamos a ter uma situação um pouco atípica, começámos com uma
situação de deficit de precipitação em Abril, que se tem prolongado e nesta
altura do ano em que normalmente já ocorre alguma precipitação nessa zona,
nomeadamente na segunda quinzena de Setembro e primeira de Outubro, isso não se
tem verificado. Não houve precipitação em quase nenhum local nos últimos seis
meses e a situação agravou-se substancialmente neste mês de Setembro”, afirma.
Para
sair da situação de seca seria necessário chover em grande quantidade durante
Outubro e Novembro. “Se considerarmos níveis de precipitação muito acima do
normal, que só ocorrem em 20% dos anos em Outubro, mesmo assim a região ainda
ficaria em seca fraca. É preciso ocorrer precipitação muito acima do normal e
manter-se por Novembro para sair do índice de seca”, adiantou a meteorologista.
Barragens
cada vez mais vazias e rios secos
A
situação de seca é visível nos rios e barragens da região. Em Bragança, a
barragem de Veiguinhas, uma infra-estrutura de “redundância”, ou seja, que foi
construída como recurso, está já a ser utilizada depois de a de Serra Serrada
estar a níveis muito baixos.
A
Águas do Norte assegura que “não se prevêem problemas relativamente ao
abastecimento de água às populações do distrito de Bragança, nomeadamente no
que diz respeito aos níveis que actualmente se constatam nas albufeiras
existentes”.
Num
esclarecimento por escrito, a empresa informa que “verificando-se a existência
de um reforço de água disponível para captação na Barragem de Veiguinhas,
perspectiva-se que a continuidade no normal fornecimento de água em “alta” ao
Município de Bragança seja, no futuro imediato, naturalmente mantida”.
Em
vários municípios há já problemas de abastecimento das populações, sendo em
várias aldeias os depósitos de água enchidos regularmente por autotanques.
Em
Vimioso, com as reservas da Estação de Tratamento de Água do Maçãs praticamente
esgotadas, é já necessário recorrer a Bragança para conseguir abastecer várias
localidades. “Já há cerca de duas semanas que estamos a transportar água de
Bragança diariamente para servir as localidades de Argozelo, Carção,
Santulhão e Matela, que é praticamente metade do concelho”, adiantou o
presidente do município. Jorge Fidalgo. O autarca está preocupado com a
situação e para evitar que no futuro a dificuldade se repita pretende aumentar
o tamanho dos açudes dos rios Maçãs e Angueira. “Já entrei em contacto com o
ICNF e a Agência Portuguesa do Ambiente para rapidamente entregarmos o projecto
de alteamento dos açudes e a resposta que obtive é que não levantariam qualquer
reserva, porque na visita ao local verificaram que a situação é dramática”,
afirmou. O presidente do município estima que as duas infra-estruturas custem
mais de um milhão de euros e espera agora que o Governo “abra avisos convite
para fundos comunitários para situações específicas como esta”, porque,
reitera, uma câmara como a de Vimioso “com poucos recursos e receitas tem
alguma dificuldade em fazer investimentos deste tipo, quando o abastecimento de
água às populações é uma condição básica”.
AGRICULTURA
AFECTADA
A
pecuária, as culturas permanentes mais rentáveis e a apicultura estão a ser
fortemente afectados na região. Na agricultura, há vários concelhos com falta
de pontos de água onde os animais possam matar a sede, desde Junho, tendo os
agricultores de os deslocar ou transportar água. Segundo o Director Regional de
Agricultura e Pescas do Norte, há já quebras de produção nas forragens e
pastagens e também nas culturas permanentes em sequeiro assistindo-se “à
diminuição de calibre dos frutos, como a castanha”, mas há também registo de
morte de oliveiras, amendoeiras e castanheiros e também de espécies florestais
como sobreiro e freixo. Manuel Cardoso afirma ainda que no caso das culturas em
regadio com o acentuar das necessidades de rega aumentam os custos de produção,
tal como acontece na apicultura. Os apicultores acumulas prejuízos já que quebras
de produção com e aumentos com os custos de manutenção dos apiários visto que
têm de recorrer à alimentação artificial.
Escrito por jornalistas: Débora
Lopes / Olga Telo Cordeiro
Retirado de www.jornalnordeste.com
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