Quem chegar hoje ao castelo de
Bragança pode ficar com a sensação de que aquele exemplar único da arquitectura
militar, um dos mais belos castelos do país, está em risco de derrocada, o que
seria o sétimo selo do nosso destino.O turismo é sempre apresentado como um
sector a explorar, um dos suportes do futuro económico do nordeste
transmontano. As potencialidades são evidentes, nas diversas vertentes que a
indústria do lazer e do enriquecimento cultural pode proporcionar.
Mas, duma vez por todas, é
preciso que os que vão (vamos) botando sentença sobre o que deve ser feito,
percebam que o turismo a sério pressupõe gente, ocupação activa dos
territórios, manutenção das actividades produtivas e, naturalmente, a
preservação do património cultural e arquitectónico.
De outra maneira, só poderemos
tentar vender a geografia das ruínas, o que terá um público interessado, mas
sem os efeitos esperáveis no funcionamento da economia a longo prazo. Na
verdade, o turismo tem que ser uma aposta sem hesitações. Não podemos continuar
a deixar-nos levar por promessas para o dia de São Nunca, à noite…, disse à
noite, de propósito, porque é o tempo em que todos os gatos são pardos e,
quando acordarmos, estaremos confrontados com o ermamento(1) sem
retorno.
Sabemos que há quem procure a
nossa terra para sentir a relação autêntica com a natureza, impossível na maior
parte das concentrações urbanas deste mundo, para conhecer sabores além de
todos os “plásticos” enfarta brutos, para sentir o pulsar telúrico e as
vibrações da festa germinal.
Não temos, assim, que nos
render à imitação da vulgaridade. Pelo contrário, precisamos de valorizar o que
nos caracteriza e, para isso, não podemos deixar que tudo se dilua na sopa
insonsa da globalização.
É urgente a concepção e
divulgação de percursos que tragam os visitantes ao contacto com a gastronomia,
a etnografia, a música, as práticas da religiosidade e, claro, as grandes
marcas do património histórico. Aqui são decisivos os castelos da região, que
constituem uma cintura defensiva historicamente marcante, à volta dos quais se
desenvolveram importantes núcleos populacionais, que integraram actividades
humanas e organizaram o território. É lamentável que ainda não se tenha
avançado nesse sentido.
Mais lamentável ainda é que o
grande castelo de referência da região, visitado anualmente por dezenas de
milhares de turistas, num fluxo que tem crescido significativamente, não mereça
a necessária atenção das entidades responsáveis ao nível nacional, permitindo,
alegremente, que panos de muralha estejam em degradação acentuada, com
múltiplas pedras a desprender-se, o que põe mesmo em causa a segurança de quem
por ali circula.
De facto, em múltiplos pontos
da estrutura são visíveis pedras com mobilidade, simplesmente desaparecidas ou
espalhadas nas imediações, o que constituiu expressão de inadmissível incúria,
ao ponto de o presidente da junta de freguesia ter decidido, por conta própria,
mandar recolocar os elementos, naturalmente sem o acompanhamento técnico
adequado.
Ainda pior: contactados os
organismos competentes, ficámos em branco, melhor, no escuro, porque está tudo
de férias e incontactável, remetendo-nos para a sua rentrée. Não há
nenhuma razão para este descaso e esta displicência relativamente a um
monumento nacional, restaurado há 52 anos. Deixar que isto aconteça ao castelo
de Bragança é a expressão simples de que, também nós, que temos como referência
as suas muralhas, não iremos longe, pelo menos por vontade dos que mandam.
A não ser que não
continuemos mudos, quedos e resignados.
1 – Conceito divulgado por
Virgínia Rau, historiadora, para designar o abandono do território no tempo das
investidas muçulmanas e contra investidas cristãs, entre os séculos VIII e XII.
Escrito por Teófilo Vaz, diretor do Jornal Nordeste
Retirado de www.jornalnordeste.com
Sem comentários:
Enviar um comentário