Só
os burros não mudam de ideias. Esta é uma afirmação, também atribuída a Mário
Soares, entre outras figuras da nossa história política, que se adapta ao que
vamos presenciando na actualidade da vida deste país. O novel presidente da
República já fez questão de alertar para que, ele próprio, mudou de ideias
sobre o papel da Caixa Geral de Depósitos no contexto da banca portuguesa,
reconhecendo agora, ao contrário do que dissera há uns anos, que aquela
instituição deve manter-se no universo do Estado, para poder dar contributos
decisivos que garantam equilíbrios fundamentais para a economia nacional.
Foi
este mesmo Marcelo Rebelo de Sousa que se enredou em contradições estranhas,
pelo fim do século, quando era presidente do PSD e, proclamando defender uma
certa regionalização, se considerou vitorioso num referendo que a reprovou.
Agora,
em Macedo de Cavaleiros, foi a vez de Rui Rio, sempre prometido novo Sebastião,
a irromper das brumas da ribeira do Porto, declarar que, se fora hoje, ele não
teria feito a campanha que fez contra a regionalização, no tal referendo que a
relegou para definitivas calendas, de companha com o grande Marcelo.
É
bom ouvir estas figuras que, conjunturalmente, marcaram a vida política desta
nova república e continuam a pontificar, até ver, no quotidiano dos cidadãos,
fazendo autênticos actos de contricção, como que a requererem a complacência
daqueles que, por via das suas decisões e omissões, sofrem na pele a dor imensa
do abandono, mesmo do desprezo, num baile que eles abriram, de par com as
bruxas do mau olhado sobre este interior.
Rui
Rio pode dizer agora o que lhe apetecer, fazer o papel de filho pródigo e,
naturalmente, haverá sempre quem, nestas terras de almas misericordiosas, o
acolha com um afago. Afinal, já nem nós esperamos outra coisa senão o último
suspiro... ou talvez não.
O
que é verdade é que, nos últimos tempos, decisões espúrias, sem cimento
estratégico, resultantes de imediatismos palonços, conduziram a um agravamento
das condições de permanência nesta terra.
O
retalhar do território a esmo, sem ter em conta os longos legados temporais,
executado por um tal Miguel Relvas, doutor da mula ruça, foi realizado e não
parece poder vir a cair, apesar dos novos protagonistas, que terão chegado à
sardinha com mão alheia, entre sorrisos amarelos.
A
extinção iminente dos distritos, que já só servem para referência dos círculos
eleitorais, depois do esvaziamento dos governos civis é, provavelmente, um dos
golpes mais demolidores contra o interior.
Depois,
sim, cidades como Bragança descerão vertiginosamente de importância, até se
estatelarem no chão duro e seco da insignificância.
A
reorganização político-administrativa não deveria resultar das movimentações de
interesses dos que pouco conhecem e nada respeitam da esforçada construção
secular deste país. E, muito menos, dos ziguezagues de protagonistas que
confundem a política com técnicas do ilusionismo, que até podem deixar o povo
de boca aberta, enquanto não tem clara consciência de estar a ser tomado por
parvo.
Por Teófilo Vaz
Retirado de www.jornalnordeste.com
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