segunda-feira, 9 de maio de 2022

Entrevista ao Comendador Engenheiro Jorge Nunes


Iniciamos, hoje, a publicação da entrevista que realizámos ao Senhor Comendador Engenheiro Jorge Nunes. 

Para não demorarmos muito tempo a fazer pública esta "conversa", vamos postar aos poucos pequenas partes da mesma. 

Maria e Marcolino Cepeda   

Entrevistadora: Maria Cepeda (MC)

Entrevistado: Comendador Eng. Jorge Nunes (Eng. JN)

MC: Boa tarde Senhor Comendador. Estamos aqui hoje para levar a cabo uma entrevista há muito esperada. Começaremos, como é natural, pelo princípio. Nasceu na pequena aldeia de Refóios, freguesia do Zoio, concelho de Bragança. É, portanto, um transmontano de gema. O que representou e representa para si, esta circunstância?  

Eng. JN: Ter nascido numa pequena aldeia do concelho de Bragança, obriga naturalmente a manter memórias de ruralidade e de identidade que me parecem ser significativas que corresponderam a um traço característico na minha vida e na minha personalidade.

A primeira vez que eu saí dessa aldeia que não tinha estrada sequer, não tinha iluminação pública. (Só viria a ter depois do 25 de Abril, já eu frequentava a Faculdade de Engenharia do Porto.). Saí dessa aldeia quando vim para o liceu. Foi a viagem mais longa que fiz durante esses anos. Para mim, sair da aldeia, chegar aqui à cidade, foi descobrir um mundo novo. Foi uma perdição para mim nos primeiros tempos da minha presença na cidade. Conhecer tanta coisa diferente… nascer nessa aldeia nas circunstâncias em que a vida se fazia na altura, correspondeu, inequivocamente, a uma marca que se mantém ao longo da minha vida.

Tive o reconhecimento das dificuldades com que muita gente ainda vive e que eu e toda a gente vivia. Na aldeia todas as famílias, à exceção de uma que imigrou para França, vivam com muitas dificuldades. O povo vivia com muita dificuldade, muito poucos recursos. E portanto, são marcas que ficam para a vida toda.

Essa circunstância tem marcado a minha vida no sentido de tentar usar os recursos com cuidado, com parcimónia, perceber que a vida se faz em comunidade, em parceria, em cooperação, com interajuda… essas são características que vêm da infância, numa altura em que se partilhava o pouco que se tinha. Havia famílias que não tinham nada verdadeiramente. Eram famílias grandes, com muitos filhos, não tinham terras, não tinham animais e tinham de criar os filhos. Essa presença e esse contacto marca-nos de forma inquestionável para a vida. Eu diria que essa circunstância é a circunstância primeira da minha vida até ao momento.


Sem comentários:

Enviar um comentário