Nasceu no concelho de Mogadouro. Fale-nos um pouco da sua infância.
Nasci no concelho de Mogadouro, mais propriamente, na aldeia de Remondes. A minha infância foi passada por Portugal porque o meu pai era guarda-fiscal e nós tínhamos de nos deslocar com ele, o que fez que estivesse em diversos locais do país, de norte a sul de Portugal mas, sobretudo, na região de Bemposta, Cardal do Douro, onde fiz a escola primária e onde passei cinco anos maravilhosos da minha infância, dos quais guardo muito boas lembranças e de que tenho muitas saudades.
A partir dos dez anos é que fui viver para Remondes onde ia passar algumas férias lectivas e encontrei algumas diferenças, apesar de já estar habituada a ir à aldeia, entre a vida em Cardal do Douro, que apesar de ser um sítio muito pequenino, éramos todos filhos de funcionários públicos e, então, as brincadeiras eram diferentes porque nós tínhamos materiais com que brincar, tínhamos bonecos, tínhamos material.
Na aldeia eu fui encontrar um ambiente muito diferente. As crianças eram um pouco mais pobres e brinquedos não havia. Havia muita imaginação, muito mais que em Cardal do Douro, onde as crianças tinham brinquedos.
Em Remondes brincávamos com pedras vestidas com uns tecidos que uma costureira qualquer que lhes dava ou de restos de roupas e eu encontrava muita piada naquilo porque, para mim, era impensável vestir uma pedra de boneca.
Essas recordações marcaram-me imenso. Faziam bolos de terra enquanto eu fazia coisas mais sofisticadas.
Na aldeia aprendi a brincar de outras formas, de formas mais imaginativas. Eu brinquei imenso, até muito tarde, muito tarde mesmo. As amigas da minha idade já não brincavam e então eu tinha que brincar com os mais novos. Acho que todos devemos brincar até tarde e que as crianças devem brincar imenso. Hoje em dia não brincam…
Como foi a sua vida de estudante?
A maior parte da minha vida de estudante foi passada em Mogadouro no Liceu, e a outra parte em Bragança. Vim para cá a fazer o décimo segundo ano porque em Mogadouro não havia aquela área e vim eu e mais três colegas minhas. Foi quando eu comecei a ter outra noção da vida porque eu, até então, era muito criança. Apesar de já ser adolescente era muito fechada. O meu pai era um bocadinho severo. Não havia aquelas idas ao café, nem saídas com amigos, só casa, liceu; liceu, casa. Aqui ganhei um bocadinho de liberdade que não tinha até então. Fiz como a maioria dos estudantes. Saía, estudava, tinha tempo para tudo e mais alguma coisa.
Fiz o liceu e acabei por ficar cá na Escola Superior de Educação. Foi a minha primeira escolha, onde fiz o curso de Português/Inglês.
A escolha recaiu só por gostar da área de línguas?
Sim por gostar de línguas e do ensino. Eu sempre sonhei ser professora desde pequena. Apesar de ter outros sonhos como todos têm, penso que todos temos um leque variado, passamos por muitas profissões desde polícia a veterinária a psicóloga… Veterinária era outra paixão minha mas tinha que ir para a área de ciências. Tinha que ter matemática e eu odiava desde o quinto ano por causa de um professor. Houve um professor de que não gostei e, a partir daí, fiquei traumatizada e odiei matemática par sempre. Hoje, tento não odiar tanto. Mesmo assim, não gosto muito de matemática, mas aconselho todos a saberem matemática porque, depois, fui encontrá-la na Escola Superior de Educação e, algo que eu odiava, transformou-se em algo positivo. Fui boa aluna porque, obrigatoriamente, tinha que ter matemática, tinha que fazer a disciplina e então fiz, com boas notas até.
Fiz uma parte do curso por frequências e exames porque estava a trabalhar. O que eu acho que é muito bom porque as pessoas evoluem muito se tiverem que trabalhar e estudar ao mesmo tempo, não por necessidade, mas por gosto porque têm outra perspectiva das coisas e dão mais valor àquilo que fazem e eu penso que há tempo porque, sem família, sem filhos, sem nada, há tempo para muita coisa.
Eu tinha tempo para estudar, para trabalhar, para fazer o estágio, para me dedicar às artes marciais, para sair com os amigos… eu tinha tempo para tudo. Hoje em dia, as pessoas não têm tempo para nada.
Estudou para ser professora do primeiro e segundo ciclos mas só esporadicamente tem trabalhado na sua área. A que se deve este estado de coisas?