sexta-feira, 29 de junho de 2012

Entrevista com José António Nobre - Escultor

José António Nobre, Escultor

“À procura da tradição e da modernidade”



Nasceu em Sendim, Miranda do Douro. Como foi a sua infância e juventude?

A minha infância é uma infância comum a todos os garotos de um outro tempo não do nosso tempo de hoje. Quando comparo o meu tempo de garoto com o tempo de criança de agora eu costumo dizer que o paraíso do nosso tempo era um paraíso diferente com um gozo diferente. O nosso mundo de brincadeira não tinha nada a ver com o mundo de hoje.

Há muitas mais coisas…

Há muitas mais coisas e há muito menos coisas, ou seja, enquanto nós fazíamos, individualmente, a nossa própria descoberta hoje, os miúdos de hoje, os garotos de hoje, se assim lhe queiramos chamar, a descoberta está feita. Eles enredam-se na mecanização de uma outra contextualização. Nós tínhamos que fazer tudo. Nós fazíamos os moinhos com as bolhacas quando íamos regar as hortas. Recordo que a minha mãe mandava-me tapar os sulcos e a primeira coisa que eu fazia era arranjar uma bolhaca ou cortar um bocado de uma raba para fazer um moinho e a minha mãe: “Muda os sulcos!” e a mim o gozo que me dava era ver, ou a rodela da raba ou a bolhaca, a rodar e ia mudando os sulcos.

Ia-se trabalhando e brincando ao mesmo tempo?

Ia-se descobrindo um pouco a realidade que nos envolvia. Hoje também se descobre, só que hoje a qualidade está toda concebida por nós, altamente criativos e no nosso tempo não. Éramos nós que íamos criando as coisas ou como as víamos ou por o nosso amigo do lado, da descoberta, é que era assim formalizada.

Foi aluno do Liceu Nacional de Bragança. Que recordações guarda desses tempos?

Fui aluno do Liceu de Bragança. Recebi uma grande marca. Todos nós estamos marcados numa determinada fase etária. A primeira vez que eu vim fazer exame à escola e ao liceu. Fiquei fascinadíssimo com reclames luminosos. Eu nunca tinha visto um reclame luminoso. Era um fascínio. Andávamos, eu e o meu pai, junto à Praça da Sé e os reclames era a coisa que mais me encantava. Com a mudança de cores, azuis, verdes e amarelos… era um fascínio a ponto de eu me perder do meu pai. Isto é uma realidade. Distraidamente, olhava para a frente e para os reclames luminosos e de repente perdi o meu pai e foi o fim do mundo para encontrar o meu pai. A sorte era que eu, ao olhar para os reclames, não saia do sítio e o meu pai vinha à minha procura e lá estava eu a olhar para os reclames novamente. Foi uma das coisas que mais me marcou, um fascínio. Ainda hoje digo aos meus filhos muitas vezes: “Os reclames luminosos foram das coisas que mais me fascinaram ao longo da minha vida.”

Foi uma descoberta.

Foi uma grande novidade para mim. A cor, o acender e o apagar, as ruas largas para quem vinha da aldeia, depois de uma trilha, de mover a palha, depois de uma vida extremamente agressiva, de um serviço medonho. A cidade para nós era um paraíso viam-se as pessoas em pé, conversavam, descansavam. Na aldeia era uma vida totalmente de labuta. Depois, no espaço académico de liceu tenho grandes amigos do tempo de liceu. Acho que é uma altura soberba quando se fazem grandes amigos e alguns amigos que hoje são pessoas com uma marca especial na sociedade. Pessoas que saíram, que foram, que se afirmaram com uma realidade. Já na altura, em termos de desabrochar, deixavam marcas. O Ernesto Rodrigues já editava livros éramos garotos. Eu, com quinze, dezasseis anos fiz a minha primeira exposição. Fiz outra depois no sétimo ano do liceu, eu e o professor Luís Cangueiro que na altura era uma pessoa altamente dotada, um indivíduo com registos fotográficos soberbos, expõe-me como aluno. Uma coisa rara, raríssima. Outro indivíduo que no meu tempo, o Fernando Pacheco hoje é médico neurologista editou, também, um livro “Maria milagre” e tinha uma paixão grande por uma ciganita. Lá foi tirar essas fotografias. Coisas fascinantes. Pessoas que hoje continuam novamente a escrever, pessoas com uma afirmação em termos sociais, na literatura e na poesia. Que eu digo-lhe uma coisa a cidade de Bragança devia honrar esta gente. Para nós, Bragança continua a ser uma grande marca, uma grande matriz em termos, essencialmente, da formação que nos foi possível daqui levar e recolher.

Depois de acabado o liceu ingressou na escola Superior de Belas Artes do Porto. O que o levou a seguir esse caminho?

Estas coisas acontecem como tudo naturalmente acontece. Eu tinha algum jeito e na aldeia nós fazíamos… isso acontece, naturalmente, como qualquer pessoa. Há apetências que se desenvolvem e há apetências que se atrofiam. Íamos para o liceu, uma pessoa faz mais ou menos o liceu, na altura tanto íamos para o liceu como íamos para a técnica, e a mim disseram-me: “Vais para o liceu”. E eu não sei porque é que vim para o liceu mas eu gostava muito da técnica. Eu tinha um amigo aqui que nunca mas voltei a ver que andava na escola técnica. E esse meu amigo estava comigo no lar da Gulbenkian e então, na altura, eles na escola técnica e industrial, trabalhavam muito em serralharia e fez-me um anel que eu ainda hoje guardo religiosamente aquele anel. Para mim é um fascínio, uma peça, uma preciosidade, um anel em aço extremamente polido de uma beleza fascinante. Para mim foi um grande fascínio e uma grande prenda que eu tive do meu grande amigo que nunca mais o vi. Não sei se depois seguiu as áreas das engenharias. Perdi-lhe o rasto e nunca mais o voltei a encontrar. Isto é para se compreender como era a realidade na altura.
Fui para o liceu e lá andamos como garotos que éramos, de uma maneira ou de outra, e eu sempre tive muito jeito para determinado tipo de objectualidades. Íamos com as vacas, íamos com as burras, pegávamos nuns paus, começávamos a fazer as redes nos paus, rendilhados nos paus, comecei mais ou menos a representar figuras. Quando vim para o liceu, naturalmente, fruto de algum diálogo com algumas pessoas, recordo-me que tive aqui uma pessoa que também foi imprescindível para mim, que depois voltei a estar com ela novamente no Porto que foi o arquitecto Araújo que tinha vindo por razões políticas para Bragança, ele e a mulher que era pintora e eu voltei a encontrar esta pessoa nas Belas Artes no Porto. Foi ele que me impulsionou que me ensinou como se trabalhava no gesso, o trabalho no gesso, novas tecnologias. Uma vez saiu um concurso para jovens “Os jogos florais do ultramar” em que eu ajudado pelo arquitecto Araújo tentei moldar uma figura de um postal ilustrado que um rapaz da minha aldeia me tinha dado, com uma preta com uns seios muito proeminentes com um garoto nas costas e eu tentei fazer então a imagem da preta mas na altura concorri com essa historia da preta aos florais do ultramar e concorri também com outra coisa que também me agradava muito. Nós lá em casa tínhamos os jornais do exército que traziam essas coisas da guerra, dos mortos e então fiz uma peça lindíssima. Ainda hoje tenho essa escultura comigo, a outra perdeu-se. Essa ficou e tenho-a comigo porque acho que é um grande monumento onde desenvolvi um pedestal e na parte de cima do pedestal desenvolvi uma espingarda com uma bainha a penetrar num crânio. Levei então essas duas peças aos florais do ultramar. Essa veio-me devolvida a da preta foi admitida.
Agora imagine como estas coisas são para um garoto que andava no sexto ano do liceu, o facto de me ter sido admitida uma peça. Isso foi para mim uma honra. Agora imagine que era o contrário. Que me tinham rejeitado as duas peças. Se calhar, o meu percurso terminava por aqui, tinha que ir para outra área qualquer. Estas coisas, às vezes, são simples mas a realidade é essa. A partir daqui começou a desenvolver-se… eu era uma pessoa que tinha muito jeito para o desenho, desenhava muito bem e as pessoas convidavam-me para fazer tudo na escola, no liceu, nos jornais… fazer desenhos para o jornal do seminário. Fazer os cenários do liceu nas festas da academia, eu e o arquitecto Ferreira. Éramos gente que nos desenvolvíamos no mesmo contexto.
O arquitecto Ferreira, sendo meu professor na altura, era uma pessoa distinta ainda hoje é. É uma pessoa muito distinta e uma pessoa por quem eu nutro uma certa admiração, um certo respeito. Bragança tinha gente de alto nível académico. Isto tem que ser dito porque é verdade. Bragança tinha excelentes professores e lá está, excelentes professores fazem bons alunos.

Depois de acabar o curso universitário regressou às origens ou pelo contrário deixou-se seduzir pelos encantos do Porto?

Não. Nós lá em baixo no Porto somos uns emigrantes. Uns vão para França, outros vão para Inglaterra, outros vão para outro lado. Nós fomos para o Porto porque não tínhamos nada aqui em Bragança. Naquele tempo nós éramos adolescentes e para mim foi uma tortura. Isto é para começar a explicitar a realidade. Quando vim para Bragança foi um tormento. Chegávamos a uma cidade onde não conhecíamos alma. Imagine o que é um garoto de treze anos, idade com que ingressei em Bragança. Um garoto sem conhecer ninguém, andávamos perdidos, depois não tínhamos dinheiro, não tínhamos nada. Éramos garotos perdidos na totalidade. Isto para mim foi uma afronta.
Eu chorei imensas vezes. À noite lembrava-me da aldeia e dizia cá para mim: “O meu pai não me deixa andar com as vacas e com os burros. Aquilo é o que eu gosto”. Fechava o dia, fechava a noite, uma atmosfera totalmente diferente, esta, da cidade. Tínhamos que estudar mas o que é que nos diziam a nós os estudos? Nada.
Compreendo hoje os adolescentes quanto lhes custa progredir na aprendizagem em determinados níveis etários. Nesses tempos foi uma tortura. Depois, quando passávamos para o nível do ensino superior não era bem similar porque já tínhamos outra maturidade, já tínhamos outro sentido de estar, mas a realidade é algo próxima também. Chegávamos ao Porto… eu nunca tinha visto o Porto na minha vida. Fui fazer exames de aptidão e fui com o peixeiro da minha aldeia. Deixou-me na rotunda da Boavista e fui até às Belas Artes sempre a pé a procurar onde ficava a Escola das Belas Artes.”Isso é muito longe, apanhe autocarro”. Mas eu, para apanhar autocarro, era uma aflição, não sabia muito bem manusear os autocarros. Lá fui a pé até que lá cheguei e parecia uma distância muito curta. Apesar de ser uma distância bastante acentuada pareceu-me que era um espaço muito curto. Nós, praticamente, andávamos sempre sós. Foi uma descoberta a sós. Depois feito o percurso académico em termos superiores e depois a maneira como se encaixa a vida de um lado e doutro.
Eu, nessa altura, estive ainda para vir cá para Bragança. Entretanto tinha aberto aqui o politécnico, ainda estive paredes meias cá. Ainda cá comprei uma casa mas, depois, a pessoa opta: “O que é que eu quero fazer da minha vida? ou hei-de progredir, avançar, ou então vir para cá”. Na altura tinha-se dado o 25 de Abril. Havia um equacionamento ainda, de fronteiras. A situação não estava aberta como está hoje, a Europa não era comunitária. A opção foi ficar lá pelo Porto mas a minha matriz era sempre cá, em cima, enquanto tivesse família cá em cima. Tinha o meu pai e a minha mãe e tinha um a realidade de vivências que se continuava na zona de Trás-os-Montes.
Eu sempre achei… acho que há duas realidades que nós temos que olhar por elas, estejamos onde estivermos: é, essencialmente, não esquecer as nossas origens. Eu acho que é imprescindível, não esquecermos as origens e tudo o que possamos fazer pelas nossas terras devemos fazer. É a nós que nos compete, essencialmente. Não devemos estar à espera que os outros o façam. Eu não devo esperar que uma pessoa de Bragança vá fazer qualquer coisa a Miranda. Devem ser as pessoas de lá que devem fazer. Se pudermos contribuir em algo com o nosso conhecimento e o nosso saber para a cidade devemos procurar fazê-lo de livre vontade, sem problema nenhum.

Foi também bolseiro da fundação Calouste Gulbenkian. Como é que foi essa experiência?

Nós, na altura, apesar de sermos do ensino superior, éramos garotos. Éramos miúdos que tínhamos dezoito, dezanove anos. O que é que nós tínhamos? Nada. O dinheiro que chegava certíssimo para tudo. Eu conto só esta peripécia muito simples. Morávamos na residência, cada um com o seu quarto, eu e um rapaz de Moncorvo, que andava em engenharia civil. Ele tinha os pais na França. Estávamos sempre à espera do fim do mês para que os nossos pais nos enviassem o dinheiro. Chegavam à volta dos seiscentos escudos que na altura era muito dinheiro, dava para pagar o quarto, ficávamos com algum dinheiro para nós e mais nada. Comíamos nas cantinas. Na altura, tinha sido uma chatice, porque as Belas Artes tinham feito para lá um pandemónio em termos de luta académica. Era uma escola muito revolucionária. Proibiram-nos de comer na cantina e era o fim do mundo, ou seja uma refeição tinha que nos dar para o dia inteiro. Acabou-se-me o dinheiro a mim e acabou-se o dinheiro ao meu amigo. Tínhamos só, à volta de vinte e cinco tostões, que dava para comprar um iogurte. O dinheiro do meu pai não chegava, o dinheiro do pai dele não chegava e não tínhamos mais, isto é a realidade. E então o que é que fazemos? Por volta das duas da tarde fizemos o seguinte: compramos um iogurte. “Comes tu metade e outra metade eu.” Para o outro dia chegou o dinheiro do pai dele e já comemos à vontade. Mas a realidade de todos nós era essa. Os meus pais, todo o dinheiro que conseguiam juntar era para os filhos que estavam a estudar, a casa ficava sem um tostão. Isto é verdade.
Grandes homens se criaram nesta região. A minha mãe era uma pessoa analfabeta, não sabia ler nem escrever, uma mulher espertíssima, inteligentíssima e fazia tudo para que os filhos saíssem daquela vida. “Saí desta vida meus filhos porque aqui não conseguis ir a lado nenhum, ide ser alguém.” Eu acho isso, em termos de sentido de vida, algo raro para quem nunca teve estudos. O meu pai colmatava da mesma maneira. Ficava a casa despojada de qualquer mais-valia económica só em termos que os filhos seguissem.
Mas essa experiência da bolsa… na altura corria lá na faculdade que quem tivesse média de catorze valores podia concorrer a bolsas da Gulbenkian. Eu na altura tinha média de catorze valores. Tinha mais. Pelo sim, pelo não, deixa-me concorrer à bolsa da Gulbenkian. O principal problema estava resolvido, estava ultrapassado, que era a média académica. Pronto e eu lá concorri. Escrevi uma carta a explicar as coisas e lá ganhei uma bolsa de dois anos. Era uma bolsa pequenina, mas permitiu-me viver mais desafogado. Usei a bolsa essencialmente para comprar livros que era uma coisa que eu sentia falta. Chegavam à Bertrand livros em inglês, livros de arte, com muitas imagens, muito caros. O dinheiro da bolsa canalizava-o, geralmente todo, para a compra de livros. E julgo que nasceu, a partir desse momento, a paixão que ainda hoje tenho por livros. Não há mês nenhum que passe que eu não compre dois ou três livros. Leio todos os livros que compro. Não há livro nenhum que não leia. Posso passar um ano, posso passar dois sem ler aquele livro, mas acabo por lê-lo. Temos que andar a par de toda a informação, do que se passa no mundo e não há melhor meio de cultura que os livros.      

A sua vida está ligada ao ensino e à escultura. Serão essas duas facetas indissociáveis?

A minha formação académica foi a parte plástica. A partir de uma determinada fase, encaminhavam-nos para o ensino para Desenho e Geometria Descritiva pois não havia professores. Havia uma carência muito grande de professores. A partir de uma determinada fase, encaminhavam-nos para o ensino. As pessoas com notas mais altas iam para patamares mais elevados, as que tinham notas mais baixas, para patamares menos elevados. Muitas começaram a encaminhar-se para o ensino. Quando se gostava da parte pedagógica, continuava-se, quando não, seguia-se outro caminho. O ensino é um campo soberbo de aprendizagem. O ensino implica uma reciclagem constante, implica uma actualização constante e eu acho que não há nada melhor para uma pessoa seja altamente criativa e darmos algo de nós e recebermos algo dos outros. Nesse aspecto, o ensino é um canal magnífico que permite o desenvolvimento de um conjunto de factores que se junta para um único elemento: a formação. Quando ouço algumas análises feitas ao sistema de ensino, aos professores compreendo que há pessoas que estão totalmente fora da panorâmica do ensino. Temos excelentes professores, pessoas dedicadíssimas e é como em todas as profissões, há professores melhores e há professores piores, mas julgo que a grande mancha, são indivíduos bons. Aliás, digo-lhe uma coisa. Nós tivemos professores magníficos.   

Tem variadíssima obra espalhada pelo país e pelo estrangeiro. Sente que a sua obra é valorizada?

Isto é como tudo. A arte é arte. A arte é arte em todo mundo. Por vezes nunca se chega a ser reconhecido, não se vê a obra reconhecida… outras vezes esse reconhecimento só vem após a morte. A realidade é essa. Por vezes, é muito fácil a pessoa atingir a fama. É uma questão, por vezes é o marketing, pode ser um encaixe político… depende dos parâmetros que a pessoa traçou no seu modus vivendi. José Régio dizia: “O meu caminho é por onde os meus passos me levam.” A pessoa pode cingir-se aos parâmetros que traçou e, por vezes, muitos anos depois chega a atingir a fama, por outras nunca a atinge. Veja-se o caso de Van Gogh, um excelente indivíduo na expressão pictórica, que só depois da morte atingiu a fama. Teve uma vida atribuladíssima, uma vida dificílima, uma vida complicadíssima, dono de um talento imenso e só depois da morte é que foi reconhecido. Essas coisas, por vezes, são muito simples, mas nós não sabemos.

É uma referência na escultura portuguesa como provam os vários prémios recebidos. Quer destacar algum?

Os prémios são coisas que acontecem, sabe? Eu habituei-me muito aos concursos. A escola de Belas artes funcionava em conjunto com a de Arquitectura. Quando surgiam os concursos onde a interdisciplinaridade funcionava, costumávamos concorrer todos juntos. Fazíamos projectos em conjunto. Havia um concurso de arquitectura para uma obra qualquer e era necessário fazer as obras de arte e então concorríamos todos juntos e por vezes não ganhávamos nada. Às vezes é um elemento incentivador que nos põe à prova e vemos a capacidade que temos. Às vezes não ganha a melhor obra. Só que depois é um jogo de parâmetros que trabalha em si, num todo que é o custo da obra, o montante e a tendência às vezes é fazer uma mais barata. Aconteceu que ganhei alguns prémios, alguns concursos e outros não ganhei. Às vezes, o que me revolta muito é ter de premiar alguma coisa cuja qualidade me deixa muitas dúvidas. Tenho visto alguns elementos do júri se guerrearem um pouco. Isso deixa-me muitas dúvidas. Pronto, mas as regras do jogo são assim. Temos que procurar estar em uníssono com os outros elementos e sermos o mais justos possível. O patamar justiça é o patamar que tem de ser relevante. O ser humano tem que ser justo, principalmente quando ajuíza sobre a obra dos outros.

Fale-nos da sua última exposição “Tradição e Modernidade”, que foi levada a cabo, primeiro no Palacete dos Viscondes de Balsemão no Porto e depois na Casa da Cultura Mirandesa.    

Esta exposição foi resultado de um trabalho de investigação que estava a ser realizado há alguns anos, sobre uma realidade plástica do nosso tempo e dos nossos dias que culminava também com um patamar que é a arte no século XX. Foi um trabalho de investigação onde tentei estabelecer a ponte entre determinados componentes rurais da nossa zona, essencialmente, de fragmentos de objectos e a arte do nosso tempo. Compreender, através de um simples objecto, a arte contemporânea das vanguardas. De forma que essa exposição, foi a segunda que eu fiz, a primeira foi feita, se não estou em erro em 1999 no Porto, na Associação Nacional de Jovens Empresários, de trabalhos já tinham características similares a esta e outros de uma outra vanguarda, outra vanguarda estilística.
Esta, agora, eu achei que era mais sólida, mais homogénea e focalizar, essencialmente, parâmetros ligados ao trabalho, ao sacrifício e à vida e aos usos da região transmontana. Tentei utilizar materiais existentes na região, o granito e o xisto. Abstive-me da madeira e do bronze. Abstive-me das argilas. Fui para a matriz, granito e xisto. Procurei matérias nobres da região. São matérias usadas na construção. E então procurei inserir em cada elemento formalizado um conjunto de objectos com representações várias. Assim, procurei representar o quê? A panorâmica da paisagem com as suas aves, águias, gabilanes, mochos, guerreiros. Veja-se que todas estas componentes, têm a ver com o percurso seguido naturalmente. A zona de Miranda é uma zona riquíssima na arquitectura castreja, embora hoje tenhamos, apenas, ligeiros registos dessa tipologia de arquitectura. Mas o factor do guerreiro é, para mim, extremamente importante, não é o guerreiro dos castros. É o guerreiro de sempre que luta arduamente contra a aspereza da vida. É o lavrador, o latoeiro, o ferreiro, o ferrador. Era toda essa gente. Por isso meto esses objectos na componente plástica. Tento providenciá-la e enobrecer, essencialmente, a actividade com a qual eles gravitavam à volta de uma realidade de vida. Tento representar as nossas rapazas, rapazas namoradeiras, rapazas comprometidas que são realidades interessantíssimas.
Procuro representar as máscaras. Hoje fala-se muito das máscaras. Durante o trabalho de investigação, eu era a única pessoa que às sete da manhã participava nos rituais. Eu acho interessante pelo prazer da dança, pelo prazer da música. Eu acho que essas coisas não são só a parte que os olhos vêem. Aliás, acho que isso é a parte que menos interessa. Agora, aquela que a parte mental consegue descodificar, esses rituais, as situações orgíacas dos caretos, é qualquer coisa sublime. Tem muito a ver com a fecundação com a fertilidade, tem a ver com a realidade, com os nossos dias e outros dias e transportar isso para uma problemática plástica, como deve imaginar, é algo complicadíssimo.
E não é por acaso que eu pego e nas máscaras que tenho vindo a apresentar e chapo um único plano de leitura de rosto, um único plano frontal onde a leitura está auto-expressiva, agora as pessoas podem ver lá um chocalho pendurado e sabem que os chocalheiros usavam chocalhos. Se calhar não sabem para que é que servia o chocalho. Que era um elemento extremamente importante, um símbolo fálico. Não é por acaso que essas edições mais arcaicas usavam. Isto é interessantíssimo e quando eu alio estes momentos de investigação à obra do David Almeida que é uma pessoa interessantíssima da arte portuguesa… ele tem um quadro com um chocalho e no meio do quadro uma linha vertical. Faz-me lembrar precisamente o quê? Faz-me lembrar a divisão do território entre Espanha e Portugal e até a bandeira portuguesa, são coisas interessantíssimas. Lá está, para nós chegarmos aí temos que ir para um campo de investigação extremamente consentâneo, árduo, adorado, para conseguirmos chegar a um resultado e a maior parte das vezes não conseguimos lá chegar.
Esta realidade, depois de tal maneira trabalhada, de tal maneira fechada, temos de expô-la. Expô-la através de amostras, porque uma amostra no nosso tempo, e eu acho que temos de continuar a pugnar por isso, não podemos pugnar por Marte como no século XVII ligado ao impressionismo, no século XV. É certo que nunca se consiga ultrapassar a beleza do nascimento. Agora há formas explícitas em que a arte nos catapulta para outras realidades. E se nós conseguirmos representar o passado e o presente em termos de uma apropriação de futuro, digo-lhe que estamos no bom caminho, caso contrário não sei.
O meu interesse, neste momento, em fazer estas duas exposições num período lectivo é, se procurarem no país, o mês de Agosto está todo tomado por três anos. Toda a gente quer expor em Agosto. O interessante é a mensagem passar. Passar a que nível? A nível da adolescência, das escolas e ao nível da gente adulta. Eu julgo que se conseguirmos passar a mensagem penso que teremos atingido o patamar que nos propusemos e é essa a nossa função como pedagogos e como artistas.         

As questões de terra, fauna, os trabalhos agrícolas das gentes do Planalto de Miranda e das Arribas, são os temas retratados por si na pedra e no ferro. São esses os seus materiais de eleição?

Se me procurar o que existia aqui há quarenta anos, que actividade é que tínhamos, para além da agricultura e da agropecuária, digo-lhe que não existia absolutamente mais nada. A partir dos anos cinquenta, existiram as barragens. A primeira vez que eu vi passar um grande camião, fiquei estupefacto. Nunca tinha visto nada assim. Qualquer pessoa, seja jovem ou adulto, recorda-se da construção das barragens. As pessoas que trabalhavam nas barragens traziam uns fios, vermelhos e azuis e isso fascinava-nos. Como é que a electricidade passava por aqueles fios? Isso era discutido por todos, velhos e novos, na praça. Ao mesmo tempo passavam os carros cheios de estrume e tudo coexistia. Nós, os que estudávamos, estudávamos à luz da candeia, onde aprendíamos as primeiras letras. Essa é a realidade por onde passava toda a gente da aldeia. A grande mancha era gente ligada à agricultura. Quem estudava era o filho ou o neto da professora, os “do padre” (risos…), do médico. Mais nada. Agora imagine, vermos passar um camião com uma comporta que ia para a barragem. Para nós não existia outra realidade além da agropecuária. Íamos com as vacas, ajudávamos os nossos pais… essa era a nossa realidade. Toda a gente das nossas aldeias era essa a vida que tinha. Foi a partir daí que as coisas mudaram e começámos a ver o mundo com outros olhos o que permitiu, a alguns, saírem para estudar.         
  
Objectos como o pica portas, forquilhas, relhas, foices, ferraduras e muitos outros da nossa história recente ganha na sua obra uma dimensão única. Numa chamada de atenção para a riqueza histórica desta região, o que é preciso preservar? Ainda o peso da tradição e do antigo ou de ter nascido em Sendim?

Há uma realidade que é interessante. Nós não podemos impedir que uma realidade aconteça. O dia de hoje sobrepõe-se ao de ontem. Agora aquilo que nós temos que ter a capacidade de compreender e tornar visível uma realidade do passado. Se conseguirmos essencialmente dar ênfase a uma realidade de antigamente, através da arte, antes de ser aniquilada e subvertida, acho que isso é muito importante. É tornar visível uma realidade implícita na paisagem e na vida das nossas gentes. Uma maneira de valorizar as nossas tradições e dos nossos antepassados. De forma que as pessoas entendam a compreensão do futuro e a importância das tradições.

A medalhística é importante na sua obra?

A medalhística tem de ser alguma coisa de um tempo muito remoto. Quando começávamos a trabalhar na madeira nós fazíamos alguma coisa com um registo muito pequenino, a brincar na praça, uns com os outros, com um pauzinho ou qualquer coisa que por ali houvesse. Eu já fazia registos muito pequeninos, relevos pequeníssimos. Quando fui para Belas Artes e comecei a estudar medalhística, quanto mais pequenino fosse o relevo, mais valorizava o registo e mais conseguíamos denotar a arte da medalhística. Eu era uma pessoa extremamente dotada para essa área da plástica e vinha habituado a trabalhar em materiais duros como a madeira e o buxo. Eu sempre dominei muito bem a medalhística e os meus primeiros trabalhos foram sendo conhecidos. Sempre fui muito solicitado para essa área e as coisas foram acontecendo. As encomendas foram sempre para privilegiar alguma coisa e para homenagear alguém e depois posteriormente abusou-se um bocadinho da medalhística e começou-se a fazer medalhas à sorte, sem cuidados e sem arte, sem o trabalho do artista o que desvalorizou esta arte. Passou-se da arte da medalhística para a pequena escultura e a obra de arte em pequena escala. E os meus trabalhos em escala reduzida reportam-se, até, aos trabalhos do liceu e aos que eu fazia antigamente quando ainda era muito jovem. Depois passou-se para um trabalho muito mais apurado e a medalhística mudou para esses pequenos troféus que vou fazendo sempre que sou solicitado.
        
Quem entra em Bragança pelas cantarias não fica indiferente ao conjunto escultórico que ali se encontra. Como desenvolve todo o processo conducente a um trabalho desse género?

Criar um espaço de uma cidade é um risco medonho. Toda a gente sabe isso. Temos ali uma rotunda que tem oitenta metros. Temos ali, no alto das Cantarias, um espaço com oitenta metros, alvo de um concurso público nacional ao qual eu concorri. Quando vim cá tirar umas fotografias, estava ali um gado a pastar. Qual foi a ideia que eu tive na altura? Ou cria-se um elemento que tenha alguma ligação à cidade, partindo sempre do primeiro elemento: cantaria, o canteiro, a pedra… tinha que ser algum elemento trabalhado com pedra. Cantarias, tem a ver com isso e lembrei-me da história dos deuses, da história das serras, dos montes, das rochas que fazem a cidade, dos elementos que fazem a cidade. O cair da pedra faz variar, deslocar a terra e, se calhar, germina e esse factor da germinação fez-me criar alguma coisa que partisse da entranha e se desenvolvesse com três elementos. Que poderiam ser o passado o presente e o futuro. Outro elemento vital seria quase como um orgasmo de vida teria de estar presente que era a água a sair. Um jacto de água central que foi projectado com oito metros de altura, inicialmente com oito metros de altura, que é um elemento extremamente importantíssimo mas, quando passo em Bragança, nunca o vi com oito metros de altura. Depois, ao colmatar a parte da iluminação com os estes três elementos. Se reparar o encaixe da iluminação é outro elemento diferenciado dos restantes elementos. Agora, a parte interessante disto é a construção da cidade que eu acho imprescindível. Uma cidade tem de estar sempre em construção. Uma cidade nunca está concluída. Porque as pessoas também nunca são elas, vão sempre renovando. E esse sentido de renovação, sentido do resquício, da pedra bruta, amorfa que continua ali jogada à volta do monumento sem qualquer haver possível e depois três elementos que caminham para o espaço, numa continuidade. De forma que, julgo que em termos estéticos a leitura parece uma leitura… a predominância que tem de ter o monumento. Sabe que desenvolver uma rotunda é algo complicadíssimo. Tem de ter um ponto central que é onde o compasso apoia, é o centro da circunferência. É imprescindível que caminhar para o centro seja algo que tenha uma continuidade. Agora, a maneira como damos a volta a essa continuidade, pode ser a própria ubiquidade. Elas começam na parte inversa e desenvolvem depois para o espaço não acabando no espaço. A parte superior do espaço não acaba, continua em enriquecimento.  
        
Que peso tem a língua mirandesa?

Isso é coisa do Dr. Amadeu e não me sinto preparado para falar dela. A língua mirandesa é a nossa matriz, a matriz dos nossos pais e avós e continuará a ser
a nossa matriz hoje. Por uma simples razão. Eu desde garoto sempre ouvi falar os meus pais em língua mirandesa. Ou falavam melhor ou pior. É obvio que a sintonia em toda a zona, quem conhece a zona de Miranda toda, desde a zona do arribado até à zona extrema do planalto, nota pequenas diferenças de pronúncia. Sempre ouvi falar em mirandês e nós também falamos em mirandês, ou melhor ou pior, de uma maneira ou de outra. O que acontece é que, a partir de determinada altura, essencialmente a partir de 1999 quando se deu a aprovação de segunda língua oficial do país, ou terceira língua, julgo que a segunda língua é a gestual e a partir daí houve uma grande divulgação e um certo empenho no ensino da língua que eu acho que isso é imprescindível. Ainda anteontem estava a falar com uns amigos lá em Sendim e falávamos da temática da língua e eu disse que se fosse ministro da educação, tornava a aprendizagem do mirandês obrigatória, a par do português, desde a pré-primária até ao nono ano. A partir do nono ano quem quiser continuar continua. Cinco anos é um período obrigatório para se cimentar o conhecimento adequado de uma língua. Não tornar a língua um elemento optativo é fundamental. Enquanto elemento optativo acaba por ser algo mais esvaziado. Cada vez há menos população estudantil em Miranda o que faz com que a aprendizagem da língua se perca o que será cada vez pior. A língua mirandesa é uma língua nacional deve ser aprendida por toda a região. Se ela não se perdeu até agora, mesmo com o episcopado que foi um dos vectores para acabar com a língua e se ela não se perdeu por ser, segundo Leite de Vasconcelos, a língua da casa, do campo e do amor e se se manteve até aos dias de hoje até ao século XXI, será um dever nosso, pessoas actuantes e responsáveis, fazer com que a língua continue a proliferar e que seja falada, essencialmente, com correcção e mais que isso, seja escrita.
Se me procurarem se a sei escrever, digo, honestamente, que não. Falar falo mais ou menos, mas escrever é imprescindível. Quero aprender a escrever. Tenho de me inscrever num curso e digo que há professores altamente competentes, em Miranda e fora de Miranda. E temos alguns bons cursos de aprendizagem a funcionar.                 

O que podemos fazer nós transmontanos para finalmente conseguirmos o desenvolvimento e a riqueza que merecemos?

Continuar a viver com honra como sempre vivemos e continuarmos a perdurar numa capacidade que é muito nossa que é a capacidade de trabalho e no que me é dado entender todos os transmontanos são pessoas de uma grande capacidade de trabalho e do grande poder de afrontar as coisas. Somos pessoas que nunca nos desviarmos das dificuldades. Eu acho que isso é imprescindível. Se não conseguirmos hoje, talvez consigamos amanhã. Um dos factores essenciais é nós nunca nos desviarmos porque aos desviarmo-nos não enfrentamos o perigo. Devemos enfrentar o perigo e devemos fazer tudo para prosseguir e, essencialmente, com capacidade em termos de tornar esta região essencialmente produtiva. E quando em falo em produtiva, não falo em termos agrícolas, que também são importantes, mas produtivos em termos humanos, em termos artísticos, em termos turísticos, em termos de outros vectores que são vectores imprescindíveis desta região. Temos granitos, vamos desenvolver esta actividade, vamos exportá-los, não importa para onde. Não importa se os exportamos em paralelos, se em lajes, se em pedra bruta, se em alvenaria, não é esse o problema. Temos de produzir riqueza. O problema é arranjar estratégias que nos permitam desenvolver esta região, transformando as nossas potencialidades numa mais-valia.
Neste momento temos uma riqueza que poderá ser muito importante para o distrito de Bragança que é o ensino superior. Temos o pólo de Miranda do Douro que poucos alunos tem. Temos um decréscimo de alunos no Instituto Politécnico de Bragança. Temos que pugnar para que o ensino superior seja universidade. Que se isso não se conseguir será uma grande menos valia para o desenvolvimento do distrito. Se eu estou hoje no Porto, é porque em Bragança não tenho ensino universitário. Toda a gente estuda e eu acho muito bem. Necessitamos de uma universidade. O ensino é um grande factor de desenvolvimento, mesmo em termos de produção de riqueza.
É isso e o turismo. Temos que apostar em grande força no turismo. Temos cá uma coisa que é soberba, como diz o Torga, que é o silêncio. O silêncio é hoje o melhor meio para a pessoa estar bem consigo própria. Raramente se encontra o silêncio. Há uma coisa encantatória que é o cheiro. O cheiro das estevas, dos tomelos, o cheiro de toda uma paisagem, é das coisas mais magníficas e uma das grandes riquezas que temos e que devemos tornar uma mais-valia.

Em que devemos apostar, então, para, sem perder as nossas características mais marcantes, acompanharmos os avanços do mundo em que vivemos?

Essencialmente num ensino com qualidade. Julgo que é dos patamares essenciais, devemos apostar em tornar as nossas regiões extremamente atractivas em termos turísticos. O resto nós temos. Temos boa comida, temos boa gente, temos uma excelente paisagem.

Para terminar, que personalidade ou personalidades mais o marcaram ao longo da sua vida?

Muita gente que me marcou, uns portugueses, outros estrangeiros. Uma pessoa que foi das que mais me fascinou. Andava eu no meu terceiro ano de Belas Artes no Porto. Entrei num café que fica junto ao Coliseu e estava o Torga a recitar um poema à mãe. Eu nunca tinha ouvido falar no Torga. Não falávamos do Torga, não tínhamos aulas de literatura onde estudássemos o Torga e surgiu-me este pensamento, esta avaliação empírica: “Este homem há-de ser um grande homem.” E fixei o poema à mãe do Torga. Foi das pessoas que mais me marcou. Ainda hoje, quando leio a autobiografia do Torga, isto é fascinante, vejo uma pessoa posicionada num campo e num espaço vital nosso, muito nosso e uma das grandes marcas, então, quando lemos os Diários do Torga… transportam-nos para outro mundo.
Houve outras pessoas que me marcaram, no liceu por exemplo, como o Dr. Belarmino Afonso. Que nos deixaram uma marca para o futuro. Falei com ele algumas vezes, poucas vezes, umas quatro ou cinco vezes. Estou a escrever um artigo sobre ele que me pediram. Foi uma pessoa com quem me encantou falar. Era um homem extremamente solto, vertical, conhecedor, daquelas pessoas que nos marcam desde garotos pequenos. Este homem está tão longe de mim que se eu, um dia me conseguisse aproximar deste homem… Houve outros estrangeiros, artistas, escultores. Agora, o Torga, tanto em Portugal como no estrangeiro, foi uma marca, alguém que me marcou indelevelmente e que não devemos esquecer.

(Muito obrigado por nos teres concedido esta entrevista, José António Nobre, meu amigo e contemporâneo. Foi um prazer imenso teres partilhado connosco esta tua riqueza intelectual e pessoal. É um orgulho e uma honra ter-te como amigo.) (Marcolino Cepeda) 

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