segunda-feira, 24 de junho de 2024

JORGE MORAIS "PERSONAGENS" (2)


Foto do Carlinhos


Pensei numa série de fotos de figuras típicas, e, de modo geral, queridas e conhecidas na Bragança tradicional, lista que poderia encabeçar no vosso blog o nome "Personagens", por exemplo.  

Começaria por: Carlinhos da Sé. (Jorge Morais)


A ideia é excelente. Publicaremos com o maior prazer.  Agradecemos-te a tua criatividade e generosidade.

Maria e Marcolino Cepeda


JORGE MORAIS - "PERSONAGENS" (1)


Pequeno excerto da entrevista realizada ao Professor Jorge Morais, a que demos o nome de “À procura da Fotografia”.

Nasceu em Samões, concelho de Vila Flor. Como foi a sua infância?

Foi uma infância assim um bocado mexida, um bocado de ambulante. Nasci em Samões, Concelho de Vila Flor de facto e, posteriormente, fui parar com os meus pais, que eram pessoas simples, para as barragens de Bemposta e depois Picote que ofereciam, talvez, uma via económica e de trabalho aceitável para a altura, e que era uma alternativa ao trabalho do campo. A região era bastante pobre, havia limitações e lá fui atrás dos meus pais com a trouxa às costas, muito pequeno. Essas experiências foram interessantes porque de certa maneira me abriram horizontes de luz nomeadamente a partir do contacto com novas paisagens… Samões é ali perto do Vale da Vilariça, junto a Vila Flor, e muito diferente de Miranda, da Meseta Ibérica, chamemos-lhe assim, com planuras diferentes das montanhas e na verdade foram experiências interessantes ir de um lado para o outro e posteriormente para Bragança, quando acabei a quarta classe em Samões que, era o destino daqueles que tinham a sorte de poderem continuar os seus estudos para além da primária, como era então designada e muita gente vinha das vilas de todo o distrito para Bragança… então, aos dez anos, também vim para aqui, a minha infância foi uma infância, sei lá… essa qualidade de andar de um lado para o outro também me deu uma vontade, uma curiosidade, creio que ainda persiste, de olhar para as coisas, de olhar para o mundo, para aquilo que me rodeia, para as populações etc., etc.        


Jorge Morais, para além de ser um amigo de longa data, é um excelente fotógrafo e faz-nos, hoje, um desafio que não podemos recusar. Leiam, por favor, o que nos sugere.

        "Pensei numa série de fotos de figuras típicas, e, de modo geral, queridas e conhecidas na Bragança tradicional, lista que poderia encabeçar no vosso blog o nome "Personagens", por exemplo. Começaria por: Carlinhos da Sé, depois Cauteleiro Germano, Salazar, Guto, Stallone etc."


Maria Cepeda

DOURO: ÚNICO E IRREPETÍVEL


Nós somos um hiato no tempo. Neste micromundo a que pertencemos, criamos a nossa história e somos fruto da envolvência da época em que vivemos, do que a antecedeu e do que virá depois.

A história de Portugal é rica em acontecimentos e personagens. Demos novos mundos ao mundo e espalhámos a nossa cultura, as nossas tradições e a nossa “saudade” por todo o planeta. Este país já passou por muito, as suas gentes também.

Não sou historiador, nem disso aqui se trata. Sou, antes, um observador atento dos acontecimentos que presenciamos e sobre os quais reflectimos e tiramos conclusões. As nossas conclusões. Neste caso, as minhas.

Por tudo que tenho presenciado e vivido ao longo dos meus 67 anos, defendo a existência dos Governos Civis, não conforme legislado desde a sua implementação, mas revestidos de um forte teor regionalista. Porquê? Porque potenciam uma maior proximidade com a nossa terra, a nossa cultura, os nossos usos e costumes, a nossa gastronomia.

Cada vez mais se sente a influência do poder central que nos desenraíza, que nos atrai para os grandes centros urbanos, sejam eles em Portugal ou noutro país qualquer. Todos querem viver numa grande cidade, porque ali “a vida acontece”. É esta a ideia que, ao longo do tempo, tem vindo a impregnar-se na cultura dos nossos jovens. Mantemos a capacidade inata de ser cidadãos do mundo.

Somos governados por pessoas que não conhecem ou não querem conhecer, a realidade do país na sua interioridade, na sua singularidade, na sua riqueza patrimonial, urbanística, natural. Esse é o busílis da questão.

Nós, os que cá vivemos, somos únicos. Somos Douro. Somos Trás-os-Montes. Somos Nordeste. Somos Alto-Douro. Somos Norte. Temos vinhos e socalcos. Temos produtos de eleição.

Temos Quintas debruçadas sobre o rio porque é necessário vê-lo todos os dias, a toda a hora. Hotéis, modernos, conservadores, inovadores, todos de beleza ímpar, com maravilhosas piscinas e esplendorosas paisagens, são exemplo de qualidade e conforto.

Montes e montanhas. Desfiladeiros por onde correm alguns dos nossos rios, com as suas pequenas cascatas que nos transportam para a música que a natureza tão generosamente nos proporciona.

O rio Douro, que a intervenção do Homem tornou navegável, proporciona aos naturais e aos turistas que nos visitam, cruzeiros, passeios de barco cercados pelas arribas, desportos náuticos, paisagens soberbas onde as vinhas são o ex-libris desta riquíssima região.

É preciso “ensinar”, quem nos quer conhecer, a descobrir todos os segredos que as montanhas escondem, todos os recantos onde podemos ser felizes, todas as sombras dos rios, todos os raios de sol… sentir na boca a doçura das uvas e o veludo único do vinho. Ouvir o crocitar da Águia Imperial, tão ameaçada. E as nossas gentes, sempre disponíveis, sempre simpáticas.     

A província de Trás-os-Montes e Alto-Douro é, sem sombra de dúvida, o meu paraíso. O paraíso que gostaria de mostrar ao mundo inteiro.

Desgraçadamente, o país insiste, apenas, no desenvolvimento da faixa litorânea, qual “jangada de pedra” saramaguiana, que já se teria libertado se fosse geologicamente possível fazê-lo.

O foco dos nossos governantes anda perdido. Eles não conseguem abarcar o interior em todas as suas especificidades. A região norte-nordeste de Portugal é uma das mais ricas do país e, principalmente o nordeste, uma das mais esquecidas e abandonadas. É difícil lutar contra todas as adversidades entre as quais se inclui a desertificação.  

Temos, no entanto, entre outras potencialidades, a bacia hidrográfica do Douro, grande produtora de energia para o país. Contribuímos também, com o terceiro maior reservatório de água de Portugal, a Albufeira do Baixo Sabor.

A acrescentar ao acima exposto, o Alto-Douro Vinhateiro, faz-nos, há já vários anos, conhecidos por todo o mundo. Produz vinho há mais de dois mil anos e ali nasceu o famosíssimo Vinho do Porto. É a região vitivinícola demarcada mais antiga do mundo.

A paisagem que resultou dessa longa tradição é absolutamente assombrosa e reflecte, sem dúvida, a cultura destas gentes e a sua evolução tecnológica, social e económica. Esta resiliência é uma das características das gentes originárias desta região, que abarca os distritos de Bragança, Vila Real, Viseu, Guarda, Porto…

Este território foi reconhecido em 2001 pela UNESCO, como Património da Humanidade, na categoria de paisagem cultural, com tudo o que isso acarreta.

A interacção entre o ambiente natural e as actividades humanas, com as suas tradições, folclore, artesanato, etc., conduziu a uma paisagem natural, alterada pelo ser humano que, ao longo do tempo, com todos os contratempos com que se deparou, deu origem a este território tão rico, com características únicas e irrepetíveis.

A gastronomia portuguesa é, sem dúvida, uma das melhores do mundo. Essa qualidade deve-se à sua diversidade e aos produtos de grande qualidade existentes em Portugal. Cada região sabe aproveitar os seus melhores produtos para cozinhar. Nós não somos excepção. O turismo gastronómico é, hoje, um hábito enraizado. Está na moda.   

Os turistas já não querem apenas praia, sol e mar… Anseiam por outras experiências que esta região pode oferecer. Temos montanhas, paisagens lindas, trilhos a calcorrear, património arquitectónico… temos rios que nos fazem sonhar.

E o que dizer dos parques naturais?

O Parque Natural do Douro Internacional; o Parque Natural do Alvão; o Parque Natural de Montesinho; a Paisagem Protegida da Albufeira do Azibo e o Parque Natural Regional do Vale do Tua…  

O Parque Arqueológico do Vale do Côa, distinguido pela UNESCO como Património Mundial, é mais uma acha para a fogueira (passe a informalidade da linguagem) desta riquíssima região. Desde 2018 Passou a integrar o Itinerário Cultural do Conselho da Europa.  

Este parque apresenta mais de 1.200 rochas distribuídas por 20 mil hectares de terreno, com manifestações rupestres. Foram precisos vários anos de trabalhos de campo, para colocar a descoberto, o achado do maior complexo de arte rupestre paleolítico ao ar livre até aos dias de hoje. Onde se encontra este património? No rio Côa, afluente do Douro.

Como se o que referi acima fosse pouco, sinto-me, enquanto cidadão nascido e criado na província de Trás-os-Montes e Alto-Douro, muito orgulhoso mas, ao mesmo tempo, desiludido pelo desapego a que somos votados pelo poder central.

Tudo leva a crer que, mais uma vez, ficaremos sem comboio. Sabe-se lá quando teremos uma ferrovia onde possam circular comboios que nos levem, rápida e confortavelmente, onde quisermos ir, a nós e aos nossos produtos. E nós tão perto da Europa e a Europa aqui tão perto. Lisboa quase ao virar da esquina… Estamos cansados de sermos, sempre, os últimos a ser chamados para a equipa.

O desenvolvimento de qualquer país deve ser global. Todos os cidadãos devem poder ter as mesmas oportunidades. Para quando a regionalização?

Os governos civis podem ser uma boa opção pela maior proximidade. Entendo que a regionalização deve ser instituída conforme consta na Constituição Portuguesa desde 1976, com os ajustes necessários.

Defendo a divisão do país em seis grandes regiões. A região do Douro constituída pelos distritos de Bragança, Vila Real, Viseu e Guarda. A região da Ribeira, constituída por Braga, Viana do Castelo, Porto, Aveiro. A região da Serra da Estrela com os distritos de Castelo Branco, Covilhã, Coimbra, Leiria. A região de Belém com os distritos de Santarém, Lisboa, Setúbal. A região do Alentejo com os distritos de Portalegre, Évora, Beja. E a última Região, Faro (Algarve) como não poderia deixar de ser. Estas regiões, obviamente, em Portugal continental. Os respectivos Governos Civis ficarão instalados onde cada uma das regiões entender.

O Presidente é o Governador Civil. Haverá seis Secretarias: Saúde, Educação, Agricultura, Cultura, Ambiente e Indústria. As verbas da União Europeia serão aplicadas, como é óbvio, pelos Governos Civis.

As eleições serão realizadas em cada uma das regiões.   

A 15 de Junho de 2022, em Bruxelas, na Bélgica, o Douro foi distinguido como “A Cidade Europeia do Vinho 2023”, apesar de não ser uma cidade e sim uma região com dezanove municípios. Devemos aproveitar, carinhosamente, esta distinção e usufruir dos benefícios que daí advirão.   

Se queremos maior reconhecimento nacional e internacional? Claro que sim. Se desejamos mais população? É óbvio. Precisamos de gente que aprenda a amar toda a riqueza que nos cerca, com todas as suas particularidades. Tem de começar por nós. Proteger e defender este território é uma obrigação. É um desiderato.

Foi, também, o desejo de Guerra Junqueiro, na sua muito amada Quinta da Batoca em Barca D’Alva. Comemora-se este ano, no princípio de Julho, o centenário da sua morte.  

 

Marcolino Cepeda

domingo, 2 de junho de 2024

Transmontano Pedro Rego integra produção de documentário para canal Odisseia (29/05/2024)

O colaborador da Rádio Brigantia é fotógrafo desde 2015

O transmontano e colaborador da Rádio Brigantia, Pedro Rego, fez parte da produção de um documentário sobre reciclagem que está a ser transmitido no canal Odisseia. Fotógrafo de profissão, em 2015 decidiu dedicar-se às alterações climáticas, ecossistemas em perigo e animais em perigo de extinção. E assim abriu uma porta para aquele que veio a ser mais um desafio. “Consegui fazer esse trabalho no Ártico, no entanto quando estava a preparar o trabalho deparei-me com uma questão que fiz a mim próprio, que foi, eu ia lá fotografar, mas há esta possibilidade, hoje em dia, de as máquinas fazerem fotografia e vídeo, então porquê não aproveitar também para fazer vídeo? Então comecei a estudar e a pesquisar para fazer vídeo e fiz. Fui para o Ártico e fiz o trabalho de vídeo e e isso abriu-me uma nova porta profissional na vida, que é o trabalho na realização de histórias documentais sobre a natureza, alterações climáticas e ecossistemas”.

O documentário [R]- Reciclagem em Portugal começou a ser produzido em 2020. As gravações duraram um ano e meio. Pedro Rego disse ter ficado chocado com a situação de Portugal em relação ao ambiente. “Toda a informação que recolhi neste documentário me deixou um pouco chocado, com aquilo que é a realidade em Portugal e ver que ainda é preciso fazer tanto para chegarmos mais além. Fiquei escandalizado com a quantidade de produtos que estão hoje embalados e que não era preciso, como legumes. Desde logo, o que me saltou mais à vista foi um número, nós produzimos um quilo de lixo que por dia, quer é uma coisa brutal. E, depois, fiquei escandalizado com aquilo que ainda é preciso fazer”.

Pelas dificuldades da profissão e da falta de apoios, o transmontano vê esta conquista como uma recompensa. “Acima de tudo, uma recompensa de honra e de orgulho pessoal, em que as coisas tenham corrido. Isso enche-me de orgulho, não só como pessoa mas como transmontano porque sabemos bem a dificuldade que é viver longe dos grandes centros e das empresas que dão os grandes patrocínios”.

Pedro Rego tem já mais dois documentários na calha.

Desafios que dá a conhecer numa entrevista que pode ser ouvida na integra, esta quarta-feira, depois do noticiário das 17h.

Escrito por Brigantia

Jornalista: Ângela Pais