sábado, 31 de maio de 2025
Agradecimento
quarta-feira, 14 de maio de 2025
Meu 70º aniversário o "Discurso"
José Rufino Cepeda e
Emília Raquel Teixeira nasceram em plena 1ª Guerra Mundial. Tiveram oito
filhos, três dos quais faleceram enquanto bebés. Os restantes sobreviveram e
floresceram.
O mais velho é o
Amílcar. Seguiu-se o José Emílio, o António José, mais conhecido como “Tojé”, a
Maria Jacinta e, finalmente, eu, corria a década de 50 do século XX, com todas
as voltas e contravoltas que lhe estavam destinadas.
Os meus pais depois de
muitas noites mal dormidas a pensar no futuro dos filhos, decidiram que não
podiam condená-los a uma vida de muito trabalho e de pouco dinheiro. A questão
era como iria um agricultor, dos melhores, transformar-se num vendedor de
peixe?
A resposta a esta
pergunta, não a tinham. Estava nas mãos de Deus. Sabiam apenas que queriam um
futuro melhor para os quatro filhos, que em breve seriam cinco.
O mês de fevereiro de
1955 trouxe a minha família para um mundo completamente novo. Os meus pais tomaram
posse de uma banca de peixe na Praça do Mercado, que pertencera até então, aos
tios Emídio e Constança, irmã da minha mãe, que estavam prestes a embarcar para
o Brasil, mais precisamente, São Paulo.
O meu pai sempre fora agricultor.
Quem o conhecia, enaltecia as suas qualidades de trabalhador incansável e
dedicado. Para além dessas qualidades, reconheciam-lhe um sentido de humor
inigualável.
Conta-se que certo dia,
o meu pai e o seu sobrinho Gil decidiram fazer duas belas carradas de lenha
para acautelar os frios do inverno. Cada um com o seu carro de bois tinha de passar
numa rua onde mal cabiam em fila indiana. Azar dos azares, por mais cuidado que
tivessem, o carrego era tão alto que levou uma fiada de telhas de uma das casas
da rua.
Em alvoroço, lá veio a
dona da casa a gritar e a queixar-se de que lhe tinham partido as telhas e que
alguém teria de as pagar e correu a perguntar, primeiro ao meu pai e em seguida
ao Gil, quem é que tinha feito aquilo:
- Ò que desgraça! Estes
malandros, já é a segunda vez que me fazem isto! Quem foi tio Zezinho, que me
partiu as telhas?
- Ò ti Maria, eu não
sei de nada! Pergunte ao meu sobrinho.
- Ò menino Gil, foi o
seu tio não foi?
- Ò ti Maria, eu não vi
nada! Estava a olhar para a lenha para que não caísse. Pergunte ao meu tio.
E assim, a culpa morreu
solteira. Segundo ouvi dizer, foram poucas as telhas que caíram, três ou
quatro.
Contava a minha mãe que,
certo dia, preparou a merenda para o meu pai que pretendia demorar-se no campo
o dia inteiro e como sempre, contava com a companhia do Piloto, o cão da
família. O trabalho era muito e era necessário fazê-lo. Chegada a hora do
almoço o meu pai lembrou-se que tinha deixado o farnel na primeira terra onde tinha
andado e voltou para o ir buscar, sempre acompanhado pelo fiel amigo.
Lá chegado, olhou para
todo o lado e não conseguia encontrar o saco da comida. Ouviu um latido do cão
e viu-o sentado junto de alguma terra revolvida. Pareceu-lhe ver o cordão do saco
de linho. Para lá se dirigiu, ao mesmo tempo que ouviu um novo latido do
Piloto. Sentou-se, puxou pelo baraço e lá veio o saco com a merenda. O cão
começou a ladrar e a saltitar à volta do dono que não conseguia acreditar no
que tinha visto. O primeiro bocado foi para o Piloto que bem o mereceu. Comeram
os dois. Ao chegar a casa, o meu pai contou à minha mãe o que se tinha passado.
Parece impossível…
A minha mãe cuidava de
nós. Convém dizer que ela e o meu pai se davam muito bem. Segundo me contaram,
o meu pai, fosse no inverno ou no verão, na primavera ou no outono, nunca saía
para o campo sem deixar o lume aceso e as batatas descascadas para a minha mãe.
Dividiam tarefas. Foi
ela que tratou da compra da banca de peixe com os meus tios. Venderam o que
tinham na aldeia e certo dia, meteu-se na carreira para Bragança a fim de
acertar as contas, alugar uma casa e combinar o tempo necessário para aprender
o ofício. De peixe, nada sabiam.
A mãe, no regresso, veio
de comboio até à estação ferroviária de Castelãos, onde o Amílcar e o Zé Emílio
estariam à sua espera com a égua. Ao chegarem à estação, o comboio apitou. A
égua assustou-se, saiu a correr e eles atrás dela e não havia maneira de a
alcançarem até que um senhor, que de tudo se tinha apercebido, lhe pôs a mão e,
depois de a acalmar, lhes entregou o animal. A nossa mãe, depois de muito
agradecer ao bom samaritano, lá foi a cavalo na égua até Gebelim.
Chegou o dia da mudança
para Bragança. Foi no dia 13 de fevereiro de 1955. Segundo o Tojé, era noite
escura e chovia que Deus a dava. Vínhamos duas famílias na carrinha do tio
Emídio. O motorista, a minha mãe grávida de mim e a tia Constança, vinham no
habitáculo. O meu pai, o tio Emídio, os três filhos dos meus tios e os meus
quatro irmãos vinham na carroçaria tapados com uma lona o que não impediu que ficassem
completamente encharcados. Para trás, deixaram toda uma vida e, também, o
Piloto que chorou a noite toda por nós.
Nasci em Bragança, na
rua Almirante Reis, no dia 8 de maio de 1955. Dizem que nasci muito pequeno e
magro e que foi um bocado difícil aguentar-me por cá nos primeiros meses da
minha existência terrena. Tanto assim foi que o meu irmão Tojé chama-me
“Escapou” duas vezes.
Fui o menino que
seguiu, completamente despido e descalço, atrás da Banda Filarmónica dos
Bombeiros Voluntários de Bragança até à Capela do São Bartolomeu.
Fui o menino que quando
teve sarampo exigiu um guarda-chuva aberto pendurado no teto do quarto.
Fui o menino que quando
ia com o Zé Emílio até à estação do comboio, lhe matava o bicho do ouvido com
todas as perguntas que fazia.
Fui o apanha-bolas nos
jogos de ténis de mesa quando a bola corria para debaixo da cama e nenhum dos
meus irmãos a conseguia tirar.
Fui o menino que o
Amílcar angariou com 25 tostões para torcer pelo Futebol Clube do Porto…
Tinha eu dez anos
quando mudamos para uma casa um bocadinho maior. Os meus irmãos foram saindo de
casa. O Amílcar para estudar e trabalhar; o Zé Emílio para cuidar da sua saúde
e mais tarde estudar; o Tojé para jogar futebol e depois para a guerra do Ultramar.
Recordo-me, como se fosse agora, que acompanhámos o Tojé à estação. Nunca tinha
visto o meu pai chorar até àquele dia. Foi realmente um dia muito triste.
Felizmente, passado o tempo regulamentar, o Tojé voltou, são e salvo. A Maria Jacinta
saiu para estudar; eu fui o último a sair.
As histórias de cada um
escreveram-se e escrevem-se nas linhas do infindável livro do universo. Algumas
gravitam ao nosso redor para não serem esquecidas. Outras são mais discretas,
mais serenas.
E é aqui que me compete
fazer alguns agradecimentos especiais. Aos meus pais que Deus tenha, agradeço a
vida. À minha mãe em particular, as lágrimas que derramou por mim.
À Adeliza, à D.
Filomena e ao Amílcar nunca poderei agradecer o suficiente pelo que fizeram por
mim e pela minha mulher. Foram, juntamente com o Luís e o Zé Manuel, o nosso
esteio, o nosso porto seguro no meio da tempestade que se abateu sobre nós.
Com o Zé Emílio aprendi
a coragem de resistir. Ao Tojé, à Piedade, ao Jorge e à Márcia, ao Pedro e à
Ana, agradeço a vontade imensa de viver e a prontidão da ajuda certa.
À Maria Jacinta e ao
Santos, agradecemos o aconchego e os miminhos; à Raquel, uma força da natureza,
uma super mãe, agradecemos a linda Inês; ao Rui agradecemos a Daniela, mãe do
Afonso e do Dinis que são os descobridores do sótão dos avós e a alegria da
casa.
Aos meus sogros, José e
Natália agradeço o maior presente que me podiam dar: a minha mulher.
Aos meus cunhados,
David e Sandra com os seus dois lindos milagres, Mariana e Catarina, agradeço a
certeza de conseguir; à Mariana agradeço a calma e a doçura; à Catarina
agradeço a força e a atitude; à Maria Antónia, mãe da Sandra, agradeço o
cuidado e o carinho com que me trata.
Aos meus cunhados Elizabete
e Galbas, agradeço o Guilherme, que está sempre disponível para nos ajudar e a
minha linda afilhada Natália, que sai ao padrinho no que à música diz respeito.
Felizmente, ainda não saiu em pelotas atrás da banda.
Aos meus cunhados
Eduardo e Helen agradeço a paciência de nos aturarem e a linda Carolina, a
menina mais doce do mundo.
À Irene e ao Pedro
Fernandes agradeço a delicadeza, o cuidado e o carinho com que me tratam.
À Isaura Videira agradeço
a disponibilidade, a certeza de poder contar contigo e as gargalhadas que damos
juntos com as nossas maluqueiras.
Ao Eduardo Videira,
agradeço a presença, a boa disposição e a certeza de poder contar consigo,
assim como com a Elisabete e o Pedro, pais do Gabriel, do David e da Adriana,
seus maravilhosos e inteligentes netos. Também ao Sérgio e à Rita, pais da Ana
Raquel e do José Eduardo, agradeço por poder contar convosco sempre e poder
usufruir de toda a alegria que os teus filhos demonstram.
Agradeço aos meus
queridos primos Olímpio, Nelly, Laida, Joana, Gina, Telmo, Vicente, Isabel,
Rui, Emília, Manuel, David o favor de estardes aqui para comemorar comigo os
meus 70 anos de vida. Muito obrigado. Não fazeis ideia da alegria que sinto.
Agradeço aos meus
amigos a paciência com que me aturaram ao longo destas décadas, com quem sempre
pude contar. Obrigado por estarem aqui. Tenho muita pena de não poder contar
com o Teófilo que nos deixou tão precocemente.
Há pessoas, que ao
longo da nossa vida, nos marcam indelevelmente e que eu não posso deixar de
referir. O Dr. Arnaldo Rodrigues, Dr. Horácio Correia, Dr. José Guilherme
Monteiro, Dr. Rui Fernandes, médicos.
O
Padre Sampaio, diretor do “Mensageiro de Bragança” durante a minha juventude
que, por minha causa não cumpriu uma ordem direta do Senhor Bispo: “Este garoto
não escreve nem mais uma linha para o jornal.” e me aconselhou a escrever com
pseudónimos, José Valverde e Bernardo Faria; o Dr. Eduardo Carvalho que me
ensinou a ser jornalista e escritor; o Engenheiro José Luís Pinheiro que era
uma pessoa excecional. Foi Presidente da Câmara Municipal de Bragança durante
três mandatos e foi com ele que aprendi a ser político. Vou contar um pequeno
episódio. Depois do AVC e de ter tido alta hospitalar, mal falava e mal andava.
Entrámos, eu e a minha mulher que me amparava, para o hall da câmara pela entrada principal e, ao mesmo tempo, ele entrava
por uma lateral. Colocou um pé no primeiro degrau e virou a cabeça para nós.
Reconheceu-nos, caminhou até mim, abraçou-me e começámos os dois a chorar. Não
posso esquecer que ele era um militar de carreira.
Resta-me
falar da pessoa que me acompanha há 36 anos, quase 37. Começámos a namorar numa
noite de Ópera, no teatro da Torralta, no dia 3 de Abril de 1987. Nesse dia
nevara. Os flocos que foram caindo encheram a noite de poesia. Levei-a a casa e
ficamos durante algum tempo a conversar. Namorámos um ano e três meses. Ao fim
desse tempo, casámos. Ela é o meu rochedo, o meu abraço, a minha estrela guia.
Cumpre-me dizer que a vida não foi condescendente comigo. Pregou-me muitas partidas difíceis de lidar. Conheci um mundo para o qual não estava preparado. Senti-me sempre cercado de amor incondicional. Perdi a esperança, tantas e tantas vezes, principalmente quando via escapar a luz dos meus olhos, literalmente. Lutei contra todos os percalços que tive de suplantar e nunca estive sozinho. Tive sempre uma mão a segurar a minha, uma palavra de conforto, uma ténue luz de esperança a acompanhar-me. Nunca me deixaram desistir. Sou o que sou por ter a felicidade de vos ter aqui comigo. Muito obrigado.
Marcolino Cepeda
70º aniversário do Marcolino
Maria Cepeda
quinta-feira, 8 de maio de 2025
Jorge Morais - Tempos que já lá vão...
Alicerces de edifício porticado, do período romano
Quem diria que, por debaixo de um tradicional mercado no centro de Bragança, havia os alicerces de uma construção bem lançada arquitetonicamente e de consideráveis dimensões e de eminente traça romana.
Ali junto ao muro poente do mercado e virados para a atual biblioteca municipal, antigo ciclo preparatório, alicerces que estiveram pouco tempo a descoberto aquando das intervenções Polis.
Um dia com a minha Nikon Fm2, consegui captá-las antes
de serem soterradas ou destruídas para construir o atual parque de
estacionamento.
Fotos e textos de Jorge Morais
Há, na vida de todas as pessoas...
Marcolino Cepeda
terça-feira, 22 de abril de 2025
Foto pessoal
Desta vez sois vós os protagonistas da foto. Foi há uns anos quando se organizou um encontro de velhos amigos no restaurante Académico.
Saúde e até um dia destes
Jorge Morais
P. S.: Quando o artista é bom, as fotos fazem-nos mais bonitos.
Eram tempos felizes e amigos verdadeiros.
Obrigado Jorge
quarta-feira, 16 de abril de 2025
quinta-feira, 27 de março de 2025
Transparência
Fotografia e texto: Maria Cepeda
quarta-feira, 12 de março de 2025
Continuação da entrevista realizada ao Dr. Fernando Calado
(M.C.): Acho que aí está o teatro, não é? (Risos)
(F.C.): O teatro de Milhão, mais o curso de teatro que eu tinha
feito com a Seiva Trupe no Porto.
(M.C.): Ah! A vida é cheia de coincidências. Estava tudo preparado
para calcorrear o caminho. Maravilha!
(F. C.): Encontro o diretor do Magistério Primário e dou-lhe a
informação sobre a minha ligação ao teatro. Ele diz-me que também tenho que
pedir ao Padre Marcelino para ir para o Magistério. Deixo o ciclo, onde dei
três ou quatro horas e fui para o Magistério. Então, essa é a minha vida
profissional com o curso de movimento e drama no Magistério. Entretanto,
comecei no ensino oficial. Corri meio mundo. Um professor no ensino... O
ensino no ciclo preparatório, no ensino secundário. No Penedono, Macedo de
Cavaleiros, Valpaços, Chaves. Meio mundo.
(M.C.): É o que acontece aos professores, não é?
(F.C.): O que aconteceu é que eu estava na escola secundária Abade
de Baçal que se chamava Escola Secundária da Sé e no ano seguinte abriu o
estágio. Comecei a trabalhar no estágio que se chamava Formação em Exercício.
Ao cabo de dois anos, tinha o estágio feito. Pedi uma vaga para professor e
disse ao diretor que se eu fosse para a Escola Secundária da Sé, agora Abade de
Baçal, que eu iria abraçar a profissão de professor, como professor efetivo.
(M.C.): E na sua área?
(F.C.): E na minha área eu seria o mestre. Andei lá vários
anos até que fui convidado a exercer o cargo de Delegado dos Assuntos
Consulares.
(M.C.): E o que é que faz um Delegado dos Assuntos Consulares?
(F.C:): Sobretudo acompanhava as questões da imigração. Os
imigrantes, ao invés de tratarem determinados assuntos nos consulados da
Europa ou nas embaixadas, podiam tratar aqui em Bragança na Delegação
dos Assuntos Consulares.
(M.C.): Podiam fazer o mesmo agora…
(F.C.): Exatamente. E portanto, sobretudo no verão fazíamos
uma ação interessantíssima com algum regionalismo (24:05) na fronteira de Quintanilha. Comprávamos
uma vitela e estávamos lá oito dias recebendo os imigrantes, fazendo
publicidade, dando cartazes, dando informações e oferecendo a carne
assada. (24:24)
(M.C.): Eu recordo-me disso. Falavam sempre na rádio e na
televisão. Foi uma ação extremamente interessante porque os imigrantes sentiam-se
acarinhados, não é?
(F.C.): Era uma organização pequeníssima. Só era eu como Delegado e
uma secretária que funcionava na Almirante Reis. Mas foi importante porque era
um espaço onde os imigrantes podiam tratar, não de todos os assuntos,
mas de determinados assuntos. Entretanto, a Dr.ª Olema que era a
Coordenadora do Centro da Área Educativa de Bragança (CAE) aposentou-se e
convidou-me para aceitar o lugar. Aceitei e estive cinco anos no CAE como
Coordenador. A partir daí voltei ao ensino e fui para a Escola do Magistério onde
estive quatro ou cinco anos como professor de pedagogia. Fui para o
Instituto Piaget também a lecionar durante alguns anos. Acabei por
regressar à escola Abade de Baçal até que me propuseram ir para o Centro
de Formação Profissional (CFP) organizar o serviço. Dar alguma ajuda e eu
aceitei. Só que em vez de ter sido meio ano, foram oito anos como diretor
de uma empresa.
Entretanto, cheguei à fase,
em que, pela idade, me podia aposentar. Regressei à escola secundária
Abade de Baçal onde me aposentei e terminei a minha vida académica.
Portanto, além da atividade como
docente e em várias rádios, também dirigi uma revista que o
Marcolino tão bem conheceu e onde tanto trabalhou, Os “Amigos de Bragança”,
onde colaborei assiduamente no “Mensageiro de Bragança” com artigos de opinião,
enfim… Tive uma boa vida no concelho da Bragança. Enfim, foi uma vida
bastante preenchida, muito rica.
(M.C.): Sem dúvida uma vida muito interessante. Os seus dias deviam
ter mais horas do que os nossos. Foi uma vida bastante intensa. Publicou com assiduidade
artigos de opinião e textos literários em vários jornais e revistas. Participou
em programas de rádio, realizou diversas palestras, conferências, ações de
formação e foi ainda diretor e proprietário da revista cultural e etnográfica
“Amigos de Bragança”. Fale-nos dessa experiência…
(F.C.): De facto, a minha vida literária começou, efetivamente, no “Mensageiro de Bragança”. Na faculdade, publiquei um livrinho pequenino, de poesia “Bragança” que me trouxe alguns dissabores… fui considerado revolucionário para a altura. A doutrina social da igreja, que, efetivamente, na altura, tinha alguma dinâmica que depois chamaríamos… censura(?)Depois disso, colaborei com assiduidade no “Mensageiro de Bragança”, e, mais tarde, fiz os “Amigos de Bragança” que teve uma história interessantíssima e que se perdeu.
CONTINUA...
domingo, 9 de março de 2025
Continuação da entrevista realizada ao Doutor Fernando Calado
(M.C.): Uma fortuna!
(F.C.): Nós ficámos com o cheque, mas ninguém acreditou que aquilo
tivesse algum valor. Só quando vimos o dinheiro na mão é que acreditámos. Portanto,
foi, de facto, a raridade. Portanto, em Trás-os-Montes não havia tantos
grupos de teatro assim, o que significava que era uma raridade. E,
portanto, foi um património importante na aldeia. Ainda hoje, os mais idosos
falam no teatro e na saudade que têm desse tempo do teatro.
Hoje, com o progresso que
temos, com as possibilidades que há, não seria possível manter um grupo de
teatro em vez de uma cadeia? Na altura era uma pequena fortuna. Mas é pena
que não haja quem pegue outra vez na ideia. Aliás, há um organismo
que capitulou e teve uma importância enorme na divulgação do teatro e
da cultura em Trás-os-Montes, que foi o FAOJ (Fundo de Apoio aos Organismos
Juvenis). E o FAOJ foi, de facto, um organismo que criou muitos grupos de
teatro, muitos grupos folclóricos, muitos grupos de leitura, mas não só. Hoje,
praticamente, a dimensão cultural, a divulgação cultural é inexistente nas
nossas aldeias.
O que é que existe? Uma casa do
povo, com um bar, com umas festanças, com umas jantaradas, com um pouco
mais do que isso.
(M.C.): Faz-se a festa dos santos que são os oragos e
mais nada.
(F.C.): O aspecto cultural, praticamente, é inexistente.
(M.C.): O que é uma pena. Era bom que alguém lhe pegasse novamente.
(F.C.): Que lhe incutisse uma dimensão cultural, uma política de
dimensão cultural… Não há. É uma pena.
(M.C.): Continuando. Enveredou
pela Filosofia, como já disse. O que o levou a seguir esse caminho, veio do Seminário?
(F.C.): Sim, sim. Aliás, o seminário tinha três secções. Quando se
entrava para o seminário, fazia-se o curso de humanidades. No sexto
ano passava-se para a secção de filosofia. Portanto, sexto, sétimo,
filosofia. Depois, oitavo, nono, décimo segundo, filosofia. Portanto,
embora a filosofia que se ensinava nos seminários, embora fosse uma
filosofia tomista, ou seja, a filosofia de São Tomás de Aquino, na tradição
aristotélica, mas era levada muito a sério. E não há dúvida nenhuma que, embora
a filosofia fosse inspirada na filosofia grega, mas dava muita
bagagem em termos de formação filosófica. E, portanto, para mim, era mais
do que natural tendo eu o sétimo ano do seminário, que a saída natural seria
ir para a Faculdade de Filosofia de Braga, onde fiz o primeiro ano. Com a
bagagem que eu levava do seminário, consegui fazer num ano, em Braga, dez
cadeiras. O que significa que no segundo ano pedi transferência para o
Porto e a grande maioria das cadeiras da Faculdade de Filosofia do Porto
já as tinha feitas, o que significa que depois passei mais quatro anos no
Porto e vim fazendo umas cadeiras ou seminários, etc.
Mas a minha formação
verdadeira foi o Seminário e a Faculdade Filosofia de Braga dos Jesuítas,
que é onde se aprende Filosofia.
(M.C.): Também os jesuítas. Ora, muito nos ensinou já. Permita-me
que passe à próxima pergunta. A sua vida profissional está profundamente
ligada ao ensino e à coordenação de órgãos diretivos relacionados com
a sua formação académica, mas não só. Fale-nos do seu riquíssimo percurso.
(F.C.): Eu terminei o curso na Faculdade de Filosofia do
Porto. Entretanto, interrompi para ir fazer o Serviço Militar e quando
saí do Serviço Militar, ainda me faltava uma cadeira ou duas para ter
a licenciatura. Já tinha o bacharelado. Portanto, fui terminar a licenciatura e
foi curioso como comecei a minha vida profissional. Estava no Porto a
terminar o curso e apareceu lá o Padre Marcelino, o Diretor do Ciclo
Preparatório que não era capaz de arranjar um professor de música.
CONTINUA
quinta-feira, 6 de março de 2025
Dr. Jorge Ferreira lança dia 13 de março mais um livro...
Jorge José Alves Ferreira nasceu em 18 de janeiro de 1959, na aldeia de Dorna, na freguesia de Póvoa de Agrações, concelho de Chaves.
quarta-feira, 5 de março de 2025
O PÃO BRAGANÇANO (DEIXAR O PÃO FALAR)Texto e fotografias retirados de: www.cm-braganca.pt
O Auditório Paulo Quintela foi
palco, esta manhã (2025/03/03), da Conferência “Pão Bragançano - Deixar o Pão
Falar”, uma iniciativa que reuniu especialistas, padeiros e chefs para debater
o presente e o futuro da panificação em Portugal.
Integrado no Festival do Butelo e
das Casulas & Carnaval dos Caretos, o debate destacou o papel essencial do
pão na cultura e identidade nacional, com particular destaque para a tradição
do pão transmontano.
A sessão de abertura contou com a
intervenção de Miguel Abrunhosa, Vereador da Câmara Municipal de Bragança.
Seguiu-se uma entrevista conduzida por Paulo Amado a Elisabete Ferreira,
recentemente distinguida como “Melhor Padeira do Mundo”, pela União
Internacional de Panificação e Pastelaria, e galardoada com a Medalha Municipal
de Mérito, pelo Município de Bragança. Depois, teve lugar uma apresentação do
investigador e gastrónomo transmontano Virgílio Gomes, sob o mote “O Pão
Bragançano”. Posteriormente, André Magalhães moderou uma conversa com Amândio Pimenta,
membro dos Ambassadeurs du Pain. O
encerramento ficou marcado pelo debate “Pensar o Pão em Portugal”, moderado
pela jornalista Catarina Moura, com um painel de especialistas, composto por
Olga Cavaleiro (investigadora de gastronomia), Luís Afonso (proprietário da
Moagem do Loreto) e Lídia Brás (chefe do Stramuntana, em Vila Nova de Gaia, com
raízes em Miranda do Douro).
A iniciativa procurou reforçar a importância do pão, não apenas como alimento, mas como património cultural, cuja preservação e valorização são fundamentais para a identidade gastronómica das regiões.
terça-feira, 4 de março de 2025
Jorge Morais - Personagens (12) - Carnaval 1997
Acho oportuno regressar a um carnaval de há quase 30 anos aqui em Bragança (exatamente do ano de 1997): São pessoas locais com atitudes ou poses de participação, cansaço ou resignação após uma grande folia.
Uma pessoa também criativa que um dia me abordou e,
delicadamente me entregou um cartão pessoal bem impresso e concebido em que se
apresentava como executor de serviços de "limpa-chaminés". E esta?...
Talvez o primeiro que formalmente se apresentava como tal numa cidade aonde as
procuras e as ofertas neste sector de serviços domésticos a particulares eram
tipo passa-palavra.
terça-feira, 25 de fevereiro de 2025
25/02/25
segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025
Jorge Morais - Personagens (11) - Jovens pastores no parque de Montesinho
Numa destas manhãs gloriosas de geadas e até neve a luzir no cume do monte espanhol próximo de "La Tejera", apanhei estes dois jovens pastores das aldeias de Maçãs e Fontes Transbaceiro que se amparavam ao respetivo cajado enquanto o sol intentava romper a bruma dessa manhã gélida.
A simetria dinâmica com que se encostavam chamou-me de imediato a atenção e, apresentando-me, pedi-lhes se podia tirar-lhes a foto o que aceitaram sem se descomporem, isto é, ficaram tal como estavam, o que foi bom.
Digo com franqueza que o momento lumínico e ambiental vivido era ainda muito mais cativante do que a foto poderá transmitir. A geada no chão mais branca e texturada, o sol de nascente e muito baixo iluminando o rosto dos jovens, as varas e o dorso das ovelhas com muito contraste, as árvores do souto no montículo de fundo apresentando a evidência de alguma neve criavam uma atmosfera tipicamente do nosso reino, quer dizer do Trás-os-Montes a sério, aquele a que desde há muito nos habituáramos.
Os rostos e o corpo dos jovens também caracterialmente e compositivamente interessantes. A postura muito semelhante em ambos embora em contraponto, destacando-se ainda o modo como replicam o mesmo modo de sujeitar o cajado por debaixo dos braços cruzados; no rosto, o mais velho, evidencia um sorriso frontal e de confiança (apesar do pau na mão...); o outro, mais novo, ligeiramente atrás, não consegue desmascarar um olhar mais franzido e semblante algo carregado, como que perguntando:
- Quem é este?
Pois bem este era o Jorge Morais com a sua velha nikon FM2 que quis
madrugar tanto, pelo menos, como estes pastores, e digo, estava um frio de rachar.
Felizmente a máquina era robusta e o filme que eu próprio revelei minimamente cumpriu.
Jorge Morais
P.S.: Olá meninos, aí vai uma foto a combinar com os tempos de inverno que agora aparece, nomeadamente a geada e a neve. Espero que gosteis. (Jorge Morais)
Olá Jorge. Linda fotografia. Conseguiste captar o momento exato, perfeito, único da inocência camuflada de uma manhã gélida, na franqueza do olhar ofertado pelos dois jovens pastores. Assim nascem momentos únicos que fazem a diferença e nos tornam felizes e agradecidos pelo privilégio de estarmos aqui. (Maria e Marcolino Cepeda)